domingo, 27 de dezembro de 2009

Mea culpa



Em razão dos estudos preparatórios para o Instituto Rio Branco e das festas de Fim de Ano, a redação do Urbi et Orbi faz um mea culpa pelo período de mais de 45 dias sem postagens aqui, desejando a todos um Feliz Natal e um excelente Ano Novo.
São os votos da redação do Urbi et Orbi!

Resultado da enquete: "Que tema(s) das Relações Internacionais mais lhe interessa(m)?"

Foi finalizada em novembro de 2009 a nova enquete "Que tema(s) das Relações Internacionais mais lhe interessa(m)?", com o objetivo de mapear junto aos nossos leitores as preferências de conteúdo em nosso blog.





Houve 12 votantes, que tiveram direito à escolha de múltiplas opções. Os temas de RI que alcançaram mais de 50% dos votos foram: Geopolítica (8 votos ou 66%); Teoria das Relações Internacionais e Análise de Política Externa (com 7 votos ou 58% cada) e Segurança Internacional (6 votos ou 50%).

Obtiveram votações expressivas ainda: Organizações Internacionais (5 votos ou 41%); História das Relações Internacionais e Economia Internacional (com 4 votos ou 33% cada) e Direito Internacional (2 votos ou 16%).

Interessante notar que os principais regimes internacionais (com a exceção de Segurança Internacional) não são o foco do público leitor de nosso blog: Direitos Humanos, Comércio Internacional e Meio Ambiente atraíram apenas 8% dos votantes, o que equivale a um voto para cada opção.

A enquete deu espaço para que os votantes sugerissem outros temas a serem abordados, por meio da opção: Outro(s). Favor especificar nos comentários. Contudo, nenhuma sugestão foi dada, já que não houve votantes que assinalaram essa alternativa.

Com o resultado das enquetes "O que você quer ver no Urbi et Orbi?" e "Que tema(s) das Relações Internacionais mais lhe interessa(m)?", foi possível mapear a preferência dos leitores com relação à proposta, forma e conteúdo das próximas postagens do Urbi et Orbi. Assim, esperamos que nosso blog se torne cada vez mais um espaço para o debate dos temas ligados às Relações Internacionais.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Edital do Concurso para o Itamaraty (CACD) - 2010


O Instituto Rio Branco (IRBr) e o Centro de Seleção e de Promoção de Eventos da Universidade de Brasília (CESPE/UnB) divulgaram ontem (09 de novembro de 2009) o edital que regerá o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) de 2010. Para acessá-lo, clique aqui.
A publicação do edital saiu bem mais cedo do que nos anos anteriores. A primeira fase do Concurso será realizada na data provável de 24 de janeiro de 2010. As etapas subsequentes acontecerão em fevereiro, abril e maio. Para mais informações, clique aqui.
E já que estamos falando do badaladíssimo concurso para o Instituto Rio Branco/Itamaraty, aproveitamos para sugerir a leitura do excelente FAQ do Candidato a Diplomata, elaborado pelo já diplomata Renato Godinho.


Foto: Divulgação.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O URBI ET ORBI PERGUNTA: o que achou da prova de RI do ENADE?

A prova do ENADE foi realizada hoje (domingo, 08 de novembro de 2009) por estudantes de vários cursos de graduação -- incluindo RI -- em todo o Brasil.

Envolvido no monitoramento do ensino e pesquisa em Relações Internacionais no País, o blog Urbi et Orbi está interessado em saber a impressão de todos os (futuros) analistas internacionais que fizeram ou leram a prova
(para ter acesso a ela, clique aqui):

1) Qual a sua avaliação da prova? Estava bem elaborada?



2) Você considera que os conhecimentos obtidos na universidade foram suficientes para resolvê-la satisfatoriamente?



3) A prova cobria todas as disciplinas do currículo de RI de maneira igual? Ou houve o favorecimento de algumas em detrimento de outras?



Nós, do Urbi et Orbi, esperamos ansiosamente por sua opinião, seja ela anônima ou identificada.

Crédito da Foto: Getty Images.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Entrevista de George Friedman ao Valor Econômico: comentários do Urbi et Orbi

E assim caminha a humanidade?

Entrevista: Autor de "Os Próximos 100 Anos" vê futuro mais modesto para o Brasil.
Por Eduardo Graça, para o Valor, de Nova York
Valor Econômico, 23/10/2009

No Texas, agentes americanos fiscalizam a fronteira com o México: "Se os EUA perdessem seus 12 milhões de imigrantes ilegais, a complicação econômica em que se meteria seria enorme", diz Friedman
O Brasil não é um dos protagonistas de "Os Próximos 100 Anos - Uma Previsão para o Século XXI", livro do cientista político George Friedman que acaba de chegar às livrarias brasileiras em edição da Best Business. Para ele, os Bric são mais um acrônimo da moda do que possíveis novas potências globais e o poderio americano está apenas em seu alvorecer. Campeão de vendas nos Estados Unidos, "Os Próximos 100 Anos" é um exercício de futurologia escancarado de Friedman. Aqui, o estrategista ignora o senso comum que pauta suas disputadas análises anuais geopolíticas, lidas atentamente tanto no Pentágono quanto em Wall Street, e investe na imaginação.
Sempre calcado em dados estatísticos, tendências e fatos históricos, Friedman revela um futuro surpreendente. Um século XXI em que o terrorismo islâmico se arrefece, a China se fragmenta e a Turquia, a Polônia e o Japão surgem como novas potências globais, um patamar abaixo dos EUA. Enquanto a Turquia controlará quase todo Oriente Médio, o México se aproveita de sua posição estratégica, com acesso ao Atlântico Norte e ao Pacífico, para se tornar a maior potência latino-americana, pronto para desafiar os EUA na disputa pelo coração do mundo a partir de 2080.
Na bola de cristal de Friedman aparecem ainda o fim de 300 anos de explosão populacional, a valorização do trabalho dos imigrantes e o desenvolvimento de um sistema de energia solar a partir do espaço que eclipsará o petróleo e diminuirá o apelo dos discursos conservacionistas e ambientalistas, assim como de questões como o aquecimento global.
Aos 60 anos, com mais de duas décadas passadas na Universidade de Louisiana, Friedman reclama em "Os Próximos 100 Anos" que a análise política convencional sofre de uma profunda falta de imaginação e lembra, profético: "As mudanças que nos levam em direção às novas eras são sempre chocantes, inesperadas". Há 13 anos ele criou a primeira empresa privada de inteligência do planeta, a Stratfor, por ele definida como uma organização noticiosa que usa inteligência, em vez de métodos jornalísticos, para capturar a informação. Em entrevista ao Valor, o consultor de grandes corporações fala dos desafios do Brasil - que, segundo ele, terá um programa espacial relevante por volta de 2060, ainda que "incompleto e desconectado de uma realidade geopolítica importante" - e das surpresas do cenário mundial em um século que apenas começou.
Friedman: o Brasil "ainda precisa superar muitos obstáculos até que possa, de fato, alterar o balanço global"
Valor: Pelo menos desde os anos 80, com "A Ascensão e Queda das Grandes Potências", do historiador Paul Kennedy, a tese do "mundo pós-americano" é tema constante para a inteligência ocidental. Mais recentemente, a noção ganhou fôlego com o best-seller de Fareed Zakaria. O sr., no entanto, aposta em mais um século americano...
George Friedman: O declínio dos EUA vem sendo previsto antes mesmo de sua emergência e depois do Vietnã todos diziam que ele era irreversível. No entanto, desde 1991, com o fim da União Soviética, eles se tornaram a única superpotência mundial. A história não se move tão rapidamente assim, e estamos falando de uma supremacia de apenas duas décadas. A economia americana responde a cerca de 25% de tudo o que é produzido no planeta, sua armada domina todos os oceanos do mundo. É o único grande poder com acesso tanto ao Atlântico quanto ao Pacífico. E, enquanto o Japão tem 364 pessoas por quilômetro quadrado e a Alemanha, 260, os EUA têm apenas 34. Ao contrário dessas duas grandes economias, os EUA seguirão crescendo em termos populacionais durante todo o século. Ou seja, quando você considera os fatos mais importantes na avaliação da força de um país - atividade econômica, poder militar e demografia -, é impossível pensar em outra potência neste século pronta para desalojar os EUA de sua liderança. O declínio, se acontecer, será lento.
Valor: Mesmo levando-se em conta o baque na economia americana por causa da atual crise financeira global.
Friedman: Há uma tendência em confundir popularidade com poder. Com certeza os EUA se tornaram recentemente mais e mais impopulares, talvez tanto quanto durante a Guerra do Vietnã ou os anos [de Ronald] Reagan. E também há a ilusão de que eventos cíclicos como a atual crise financeira podem ser analisados como grandes mudanças históricas. Admiro Fareed Zakaria, mas discordo quando ele afirma que os chamados Bric [Brasil, Rússia, Índia e China] vão desafiar o poder dos EUA. Esses quatros países têm de crescer estupidamente ao mesmo tempo em que os EUA fiquem estagnados, precisam investir enormemente em seu poderio militar e lidar com problemas sociais gigantescos que os EUA simplesmente não têm. Como é que a Rússia vai resolver seu problema demográfico? E China e Índia, como vencerão a pobreza? E o Brasil, como é que vai superar os revezes da própria localização geográfica e desenvolver Forças Armadas de peso ao mesmo tempo?
Valor: O sr. não crê em um mundo multipolar no século XXI?
Friedman: Minha visão é de que o mundo é sempre multipolar. O que muda são as forças relativas nos dois extremos. Está na moda a ideia dos Bric, mas Brasil, Rússia, Índia e China são países em condições diferentes de crescimento, em estágios de desenvolvimento singulares, com posições diversas no cenário mundial. A Rússia não pode ser comparada a nenhum dos outros Bric. Ela é hoje uma grande exportadora de matéria-prima, não uma potência industrial. Já a China, bem, é um país com muitas faces. Mais de 600 milhões de chineses têm um ganho familiar entre US$ 1 mil e US$ 2 mil por ano. Apenas 60 milhões de 1,3 bilhões de chineses chegam a US$ 20 mil/ano, computando o salário de toda uma família. Mais de 1 bilhão de chineses vivem na mais extrema forma de pobreza. Uma situação semelhante à da Índia, mas aqui temos de levar em conta os vastos problemas de infraestrutura que tornam o desenvolvimento inviável na China.
Valor: Em "Os Próximos 100 Anos" o sr. chega a prever a desintegração do país e um papel menor no cenário mundial para Pequim.
Friedman: A China é uma ilha. Ao Sul, montanhas e florestas. No Sudeste, o Himalaia. No Nordeste, o infinito das estepes. E no Norte, bem, no Norte há a Sibéria. Suas Forças Armadas são voltadas para a segurança interna e sua Marinha nem sequer existe propriamente. Há três características para um poder global: o dinamismo da economia, a estabilidade social e o poderio militar. A China conta com uma economia dinâmica, mas sua estabilidade social é comprometida por profundas divisões internas e suas Forças Armadas não são moldadas para exercer o poder em projeção global. Não creio que a China possa ser um poder global. E acredito que os chineses, que sabem bem de suas características e peculiaridades, já escolheram não ser este poder global.
Valor: O sr. também vê a decadência da Comunidade Europeia. Os europeus, o sr. escreve, lembram os EUA de antes da Guerra Civil. Pode explicar melhor essa comparação?
Friedman: Durante a crise financeira global, a Comunidade Europeia não usou Bruxelas para atacar seus problemas econômicos. Eles foram resolvidos, de forma independente, a partir das capitais de cada país membro. Os alemães não quiseram usar seu dinheiro para salvar bancos irlandeses. A crise serviu para descobrirmos de fato os limites de poder desta instituição chamada Comunidade Europeia. Era assim com os EUA, concebido como uma federação de Estados soberanos, até que os sulistas decidiram se separar da União em 1861. Foi somente depois da guerra, terrível, que a unidade dos EUA foi assegurada. Quem é que estaria preparado para lutar na Europa se a Itália, por exemplo, decidisse sair da União Europeia? Não há Exército comum, não há sequer uma moeda única, com alguns países adotando o euro e outros não. O Mercosul, por exemplo, é uma ideia interessante, desde que se entenda que o Brasil, que fala português e tem uma rica e particular história, vive uma realidade completamente diferente das circunstâncias da Argentina. Tentar criar uma potência que englobe Brasília e Buenos Aires é tão improvável como imaginar uma única Europa.
Valor: Já que falamos da América Latina, uma de suas previsões é a de uma guerra entre EUA e México na sua zona de fronteira, provocada pela imigração em massa, que transformará o sudoeste americano em área de população majoritariamente hispânica. Esse será o tendão de Aquiles dos EUA no século XXI?
Friedman: O problema da imigração ilegal é simples: neste momento os dois países precisam e querem esse fluxo de trabalhadores. Se os EUA perdessem esses 12 milhões de imigrantes ilegais, a complicação econômica em que se meteria seria enorme. Por sua vez, o México precisa do dinheiro enviado pelos trabalhadores vivendo nos EUA. Mas, especialmente para os americanos, essa é uma verdade extremamente impopular. Somente quando o jogo demográfico virar - e os EUA precisarem mais e mais de imigrantes - é que os dois países agirão de fato. Em um mundo onde a escassez de trabalhadores será a regra, e com a economia mexicana produzindo ofertas de trabalho suficientes para sua população, os EUA vão procurar desesperadamente por trabalhadores nos quatro cantos do planeta.
Valor: O sr. acredita que o México vai mesmo superar o Brasil neste século como maior economia latino-americana?
Friedman: O Brasil também é uma ilha, separada por florestas, montanhas e oceanos do resto da América Latina, com uma pequena ponte natural em direção ao Uruguai e à Argentina. O país está crescendo a uma velocidade tremenda, mas segue isolado como poder global e regional, embora não haja dúvida de que é um país importante e sua relevância só tende a aumentar, mas ainda precisa superar muitos obstáculos até que possa, de fato, alterar o balanço global.
Valor: Uma das razões pela qual o Brasil cresce é a necessidade de alimentar o planeta. Mas a revolução agrícola pode ter menos importância neste século se chegarmos à estabilidade demográfica sugerida em seu livro.
Friedman: Essa tendência não será modificada em curto prazo. A população global seguirá crescendo até o fim do século XXI, mas com velocidade progressivamente menor. Projeto que o Brasil, no fim do século, terá desenvolvido sua economia de modo ainda mais diversificado. A revolução da agricultura brasileira foi a alavanca do crescimento do país, mas não será seu sustentáculo. O Brasil vai crescer muito neste século e se diversificar ainda mais.
Valor: Em "Os Próximos 100 Anos" o sr. deixou de lado o aquecimento global. Aposta que o fim da explosão populacional e a exploração de fontes de energias alternativas vão resolver o problema. O discurso conservacionista, que margeia a discussão do desenvolvimento sustentável da Amazônia, por exemplo, seria, em sua visão, menos importante do que a busca incessante por novas fontes de energia?
Friedman: Não acredito que o conservacionismo possa resolver nossos problemas. Não é razoável pedir que se reduza o processo de industrialização do planeta. Os países mais avançados não vão reduzir suas emissões de gás carbônico à custa da redução de seu padrão social e é fantasioso acreditar na possibilidade da diminuição do consumo em escala global. O discurso conservacionista parte da premissa de que haveria uma mudança radical do estilo de vida das populações. Veja bem: ir de bicicleta para o trabalho não fará diferença alguma. O que precisamos é buscar fontes de energia avançadas, que não sejam baseadas em hidrocarbonetos, como o petróleo.
Valor: E o sr. aposta na energia solar...
Friedman: Sim, creio que essa nova fonte de energia será solar, mas gerada no espaço, pois do contrário teríamos de reservar vastas áreas do planeta apenas para os painéis solares, o que seria um desastre ecológico. Um consórcio japonês liderado pela Mitsubishi já começou a desenvolver essa ideia e o investimento impressiona. Nos EUA, a Nasa também tem um projeto nessa direção. Aposto que em 50 anos já enxergaremos a solução: energia solar baseada no espaço.

COMENTÁRIOS

(baseados somente, e somente, na entrevista, e não no livro de Friedman)


1) Embora falar da situação da superpotência norte-americana no século XXI seja um exercício futurológico, há indícios consistentes de que a posição internacional do país sofrerá deslocamentos vis-à-vis às grandes e médias potências. De acordo com a tese do historiador Paul Kennedy, autor do clássico Ascensão e queda das grandes potências e que é citado na matéria acima, a hipertrofia do setor militar (isto é, expressivos gastos em armamentos em relação ao PIB) é uma evidência que aponta para o esgotamento do modelo hegemônico da potência mundial em questão (KENNEDY, 1991). No caso dos EUA, isso é particularmente flagrante, uma vez que o país investiu mais de US$ 607 bilhões em defesa em 2008, 41,5% do total mundial gasto no mesmo ano (SIPRI, 2009, online) e cerca de 4,3% do PIB do país. Washington ainda terá de equacionar outros problemas estruturais que podem afetar a sua trajetória enquanto poder global, como os seus déficits gêmeos (déficit fiscal e déficit em conta corrente), a credibilidade do dólar enquanto moeda internacional, entre outros.
Em resumo, o que se argumenta aqui não é o eclipse dos EUA enquanto potência, mas sim a perda relativa de seu poder e influência perante outros Estados em franca emergência no cenário global nas próximas décadas. Em outras palavras, isto quer dizer que, muito provavalmente, o sistema internacional multipolar do século XXI não permitirá que Washington exerça o tipo de hegemonia inconteste que experimentou no imediato pós-1945 ou na primeira década pós-Guerra Fria.


2) As afirmações de Friedman sobre a Marinha da China são, no mínimo, discutíveis. Gradualmente, a força naval de Pequim tende a expandir a sua cobertura geográfica. Hoje, belonaves chinesas patrulham o Golfo de Aden a fim de proteger os navios comerciais do país das incursões de piratas somalis. Ademais, de acordo com o estudo elaborado pelo perito naval Ronald O'Rourke ao Congresso dos EUA, os objetivos a longo prazo da Marinha chinesa (isto é, aqueles a serem atingidos durante o século XXI) são, entre outros, os de proteger as linhas marítimas de comunicação da China com o Golfo Pérsico (de onde provém parte das importações chinesas de petróleo) e garantir o estatuto da China como grande potência mundial, encorajando seus vizinhos a se alinhar com Pequim e, assim, diminuindo a influência militar dos EUA no Pacífico (O'ROURKE, 2009).

Seguindo o raciocínio de Friedman, a China pode até ser uma "ilha" em termos geográficos, mas está integrada economicamente à maioria de seus vizinhos asiáticos, detalhe que Friedman parece esquecer. Neste contexto, Pequim já possui uma profunda interdependência econômica com Taiwan -- que, no discurso político, é tratada como uma província rebelde --, com quem intercambia mercadorias e investimentos. Há um nítido spillover do fantástico crescimento econômico da China para os países vizinhos, devido a fatores como a proximidade ao mercado chinês e a mão-de-obra mais barata. Dentro desse spillover, já se percebe a tendência chinesa de transferir para países como o Vietnã atividades econômicas de baixo valor agregado, como a produção têxtil e de brinquedos -- os mesmos produtos que fizeram a fama mundial da China como exportador de "bugigangas" nos anos 1970 aos 1990 --, enquanto que Pequim se especializa em atividades altamente intensivas em capital, como a indústria eletrônica, aeroespacial e de informática.


3) George Friedman demonstra na entrevista uma posição conservadora em relação à mudança climática e ao aquecimento global. Apesar de os temas ambientais não serem a minha especialidade, devo dizer que o otimismo de Friedman com relação à conversão da matriz energética mundial, hoje dependente do hidrocarboneto, em direção a fontes renováveis tem certo fundamento se analisarmos os projetos em andamento. No entanto, a implementação de tais projetos em escala comercial e a diminuição da dependência energética do hidrocarboneto ainda levarão décadas para se tornarem a tendência dominante, o que nos obriga a encarar a mudança climática como um tema extremamente urgente da agenda internacional.


REFERÊNCIAS:

KENNEDY, Paul. Ascensão e queda das grandes potências. Rio de Janeiro: Campus, 1991.

O'ROURKE, Ronald. China Naval Modernization: Implications for U.S. Navy Capabilities—Background and Issues for Congress. 23 set. 2009. Disponível em: . Acesso em: 28 out. 2009.

SIPRI (org.). SIPRI Yearbook 2009. 2009. Disponível em: . Acesso em: 28 out. 2009.


Crédito da Foto: Stratfor.

domingo, 25 de outubro de 2009

Sites sobre Teoria das Relações Internacionais


A fim de incentivar o debate teórico de Relações Internacionais no Brasil, remediar a carência de material e fontes sobre Teoria das Relações Internacionais (TRI) no País e o desinteresse com que a disciplina é tratada na maioria dos cursos de graduação brasileiros, o blog Urbi et Orbi sugere dois sites muito interessantes sobre o assunto:

1) Theory Talks

Criado pelo holandês Peer Schouten, o Theory Talks publica entrevistas com os mais destacados acadêmicos de RI, desde Alexander Wendt, passando por Joseph Nye e indo até Robert Keohane, Immanuel Wallerstein e Stephen Walt. Lá, é possível ter contato com o "estado da arte" de TRI e com os debates mais atualizados em Relações Internacionais. Fonte indispensável para os estudiosos de TRI.


2) International Relations Theory

Embora o layout do site deixe a desejar, ele contém vídeos e artigos de uma extensa lista de teóricos das RI's. Muitos dos artigos elencados no IRT foram publicados em revistas acadêmicas de circulação restrita, indexados em portais como o JSTOR ou o Wiley, e estão disponíveis para a leitura do público interessado.


3) IR Theory

O IR Theory também não prima pelo layout, mas possui uma extensa lista explicativa de paradigmas, abordagens e teorias de Relações Internacionais. Lá, o leitor deparar-se-á com conceitos como a teoria do equilíbrio de poder, imperialismo, institucionalismo neoliberal, realismo periférico e pós-internacionalismo. O autor do site, Mark Beavis, convida os estudiosos a contribuir com a redação de textos e a sugestão de novos conceitos.


Se você conhece mais algum site interessante de TRI, coloque sua sugestão nos comentários. Afinal, este blog é feito com a sua participação!

Crédito da foto: Getty Images.

sábado, 24 de outubro de 2009

Bolsas de estudos no Canadá

A Embaixada do Canadá tem a satisfação de informar que estão abertas as inscrições para o processo seletivo 2009/2010 dos programas de bolsa de estudo do Governo do Canadá, administrados pelo Conselho Internacional de Estudos Canadenses (ICCS/CIEC), destinados a todas as áreas das ciências sociais e humanas, particularmente às disciplinas que favoreçam a pesquisa e o desenvolvimento de cursos no âmbito dos Estudos Canadenses.

Há cinco modalidades de bolsas:

1ª) Bolsa de Pesquisa em Estudos Canadenses (Faculty Research Program - FRP / Bourse de Recherche Brésil – BRB) – visa apoiar professores universitários e/ou pesquisadores, com formação mínima de mestrado, que busquem realizar pesquisa de curta duração sobre o Canadá ou sobre aspectos da relação bilateral Brasil-Canadá e publicação em revistas acadêmicas especializadas.

2ª) Bolsa de Especialização em Estudos Canadenses (Faculty Enrichment Program - FEP / Bourse de complément de spécialisation - BCS) – tem por objetivo fortalecer o conhecimento e a compreensão sobre o Canadá por meio do apoio a professores universitários na elaboração de cursos sobre o Canadá, em sua área de especialização, que serão incorporados de forma regular em sua disciplina.

Para ambos os programas, a bolsa consiste em uma contribuição para a aquisição da passagem aérea internacional (máximo de $2.000,00 dólares canadenses, dependendo da região de destino no Canadá), além de uma subvenção semanal no valor de $900,00 dólares canadenses para as despesas no Canadá, por um período máximo de quatro semanas.

3ª) Bolsa para Pesquisa de Doutorado (Doctoral Student Research Award – DSRA / Bourses de recherche de doctorat – BRD) – tem por objetivo promover o conhecimento e a compreensão sobre o Canadá e o desenvolvimento dos Estudos Canadenses, através do apoio a estudantes de doutorado, matriculados em uma instituição de ensino superior brasileira, que estejam desenvolvendo teses diretamente relacionadas ao Canadá e desejem realizar sua pesquisa em instituições canadenses. A bolsa consiste em uma contribuição para a aquisição da passagem aérea internacional (máximo de $2.000,00 dólares canadenses, dependendo da região de destino no Canadá) e prevê uma subvenção mensal de $1.200,00 dólares canadenses para as despesas de subsistência no Canadá por um período máximo de seis meses, além de um complemento de $300,00 dólares canadenses, após entrega do relatório de pesquisa à Embaixada do Canadá.

O prazo para submissão de candidaturas a esses três primeiros programas encerra-se em 14 de novembro de 2009.

4ª) Bolsa Canada – América Latina – Caribe (Canada – Latin American – Caribbean Awards – CLACA / Bourses Canada – Amérique Latine – Caraïbes – BCALC) - visa apoiar pesquisadores de universidades ou institutos de pesquisas da América Latina e Caribe no desenvolvimento de trabalhos de curta duração, incluindo projetos de pesquisas conjuntos, contribuindo, assim, para a compreensão das relações bilaterais e multilaterais entre o Canadá e a região.

5ª) Redes Internacionais de Pesquisa (International Research Linkages – IRL / Réseaux internationaux de recherche RIR) – favorece a colaboração internacional e o apoio financeiro a equipes de pesquisadores do Canadá e de outros países, com o intuito de organizar seminários ou outras atividades similares que envolvam redes de pesquisa.

O prazo para submissão de candidaturas a esses dois últimos programas encerra-se em 24 de novembro de 2009.

Instruções comuns a todos os programas:

* os candidatos devem ser fluentes em inglês ou francês, idiomas oficiais do Canadá;
* o dossiê de candidatura deve ser preenchido integralmente em inglês ou francês;
* o dossiê de candidatura deve ser apresentado em cinco vias.

As diretrizes específicas de cada programa, bem como os formulários de inscrição encontram-se disponíveis nos sites www.brasil.gc.ca e www.iccs-ciec.ca.

Todas as candidaturas deverão ser encaminhadas para o seguinte endereço:

Embaixada do Canadá
Assessoria para Assuntos de Educação
SES – Quadra 803 Lote 16
70410-900 Brasília, DF

Para informações adicionais, contatar:

Embaixada do Canadá
Assessoria para Assuntos de Educação
academic.bsb@international.gc.ca ou academique.bsb@international.gc.ca
Tel. (61) 3424-5400 R: 3260

Fonte: Mundorama (http://mundorama.net/2009/10/23/evento-bolsas-de-estudos-no-canada/)

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Enquete: O que você quer ver no Urbi et Orbi?

Foi finalizada em setembro de 2009 a enquete "O que você quer ver no Urbi et Orbi?", com o objetivo de mapear junto aos nossos leitores as preferências de conteúdo em nosso blog.


Entre os 16 votantes, notou-se uma forte preferência por análises e ensaios referentes a temas de RI (9 votos/56%), enquanto que textos sobre o analista internacional despertam o interesse de 18% (3 votantes) dos que participaram da enquete. A divulgação de eventos acadêmicos e profissionais e a sugestão de periódicos de RI vêm logo em seguida, com 12% e 6%, respectivamente. Por último, um leitor (6%) manifestou interesse em outros temas.

De agora em diante, procuraremos gerar conteúdo cada vez mais de acordo com os interesses dos nossos leitores no Urbi et Orbi. Sugestões e comentários são super bem-vindos!

A próxima enquete perguntará: "Que tema(s) das Relações Internacionais mais lhe interessa(m)?". Com isso, queremos saber os seus interesses temáticos dentro do estudo de RI.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Os "Estados fracassados" e a segurança nacional do Brasil



Os ataques de piratas a embarcações de diversas nacionalidades na costa da Somália, a ressurgência do Talibã no Afeganistão e no Paquistão e a atuação da força de paz das Nações Unidas no Haiti são temas que frequentam os noticiários internacionais dos principais veículos de imprensa do mundo. Todos eles têm mais um ponto em comum: são as mais recentes manifestações do processo de fragilização estatal, redundando eventualmente no surgimento de Estados fracassados.


O fenômeno dos Estados fracassados passou a receber atenção da academia em meados dos anos 1980, com o artigo Why Africa’s Weak States Persist: the Empirical and the Juridical in Statehood (1982) e o livro Quasi-states: sovereignty, international relations and the Third World (1990), ambos de autoria de Robert Jackson, seguidos do artigo Saving failed states (1992), de Gerald Helman e Steven Ratner (ALEXANDRINO, 2008, p.1).


O fim da Guerra Fria agravou a problemática em torno dos Estados fracassados, por uma série de fatores: muitos Estados deixaram de ter a sua economia e seu aparato de segurança financiados por uma das duas superpotências; a legitimidade de muitos deles acabou sendo erodida devido à sua incapacidade de solucionar problemas como a miséria, o desemprego e a criminalidade; e os anos 1990 viram a ascensão (ou o recrudescimento) de rivalidades étnicas e de movimentos separatistas que não existiam ou estavam suspensos durante a Guerra Fria, fazendo com que os alinhamentos políticos deixassem de se pautar em termos ideológicos (como ocorria na Guerra Fria) e passassem a adquirir um matiz predominantemente étnico-nacionalista (QUADROS, p.85 in PENNAFORTE, 2008).


Ademais, os profundos deslocamentos geopolíticos ocorridos na época representaram a quarta onda de criação de Estados no sistema internacional nos últimos duzentos anos (CARMENT, 2003, p.411) . Com efeito, mais de vinte Estados foram criados na Europa Oriental e na Ásia, muitos deles sem qualquer precedente histórico, deixando a impressão de que a autodeterminação inesperadamente “caiu no colo” de diversos povos, conforme observa de forma perspicaz Michael Ignatieff (apud CARMENT, 2003, p.407): “[…] huge sections of the world’s population have won the right of self determination on the cruelest possible terms: they have been simply left to fend for themselves. Not surprisingly, their nation-states are collapsing” .


Durante os anos 1990, o fracasso de Estados era considerado predominantemente como um tema humanitário, pois estava relacionado com problemas como a escassez de alimentos, a proliferação de doenças e o crescimento no número de refugiados, motivando intervenções da comunidade internacional em locais como a Somália (a partir de 1992), o Haiti (a partir de 1993) e Serra Leoa (a partir de 1998). Os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 aos Estados Unidos adicionaram uma dimensão securitária à questão dos Estados fracassados, que passou a se tornar extremamente importante na agenda internacional do início do século XXI. A partir desse momento, o fracasso estatal passou a ser apontado como o foco de atividades desestabilizadoras para o sistema internacional, como o terrorismo, a proliferação de armas de destruição em massa, o narcotráfico e a atuação de máfias e organizações criminosas. Diante disso, a chamada Doutrina Bush identificou os Estados fracassados como a principal ameaça aos EUA, pois, na visão do governo norte-americano, eles eram considerados como o ambiente ideal para o desenvolvimento de redes terroristas.


Em 2002, a National Security Strategy, documento que delineia as metas estratégicas do governo norte-americano, declarou de forma inequívoca que a “America is now threatened less by conquering states than we are by failing ones. We are menaced less by fleets and armies than by catastrophic technologies in the hands of the embittered few” (THE WHITE HOUSE, 2002, p.1). Com efeito, a tendência apontada por Washington constitui a essência do fenômeno dos Estados fracassados, que reside em um fato incomum na história do sistema internacional: a segurança coletiva deixou de ser ameaçada pela rivalidade entre Estados com excesso de poder, passando a ser posta em xeque pelo vácuo de poder em determinados Estados (QUADROS, p.85 in PENNAFORTE, 2008). Em outras palavras, enquanto a maior parte da história das relações internacionais foi a história de conflitos entre Estados com projetos expansionistas concorrentes, hoje se percebe que o fracasso estatal (entendido aqui como a persistência de Estados sem meios de reproduzir as condições para a sua própria sobrevivência) também pode trazer instabilidade no âmbito local, regional e global.


[...]


Também deve ser apontada a escassez de análises da academia brasileira sobre o tema; e os poucos estudos que já existem adotam abordagens diferentes. Gisele Novas do Nascimento (2008, p.149-162) disserta sobre a possibilidade de organizações terroristas adquirirem armas de destruição em massa a partir de Estados fracassados, mas restringe sua análise ao mundo muçulmano. Carlos Alberto Pinto Silva (2007) relaciona a existência dos Estados fracassados com a ascensão de conflitos assimétricos no contexto sul-americano. Fabrício Alexandrino (2008) revisita os princípios que embasam o debate sobre os Estados fracassados e se debruça sobre a noção de construção de Estados (state-building), com base nas ideias de Francis Fukuyama. Bruno Quadros e Quadros (in PENNAFORTE, 2008) traça elementos preliminares para o exame dos efeitos dos Estados fracassados para o Brasil. Leandro Nogueira Monteiro (2006) é autor de um dos estudos mais completos sobre o assunto no Brasil, centrado no processo de construção do conceito de Estado fracassado e suas implicações para a Teoria das Relações Internacionais.


O texto acima é um trecho do artigo Os "Estados fracassados" sob uma visão brasileira: conceituação e elementos para a análise de seus desdobramentos securitários, que apresentei na Conferência Internacional Conjunta ISA-ABRI - "Diversidade e desigualdade na política mundial", realizada na PUC-Rio, no Rio de Janeiro, entre 22 e 24 de julho de 2009. Quem tiver interesse em ler o artigo na íntegra, clique aqui.

* Crédito da foto: Getty Images.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

I Fórum Centro-Oeste de Relações Internacionais (I FoCORI)


Data: 05, 06 e 07 de setembro

Local: Universidade de Brasília (UnB)


O Fórum Centro-Oeste de Relações Internacionais (FoCO RI) propõe-se a ser um novo espaço de fomento à pesquisa acadêmica em Relações Internacionais. A iniciativa procura criar um novo espaço que aproxime profissionais – praticantes, pesquisadores e professores da área – dos estudantes de graduação e pós-graduação. Assim, o FoCO RI almeja servir também como referência para o debate das relações internacionais contemporâneas sob o ângulo da pesquisa.

O evento intenta promover a aproximação entre os diversos centros de estudo na área de Relações Internacionais, além de incentivar o fortalecimento de uma cultura de debate, cooperação e produção acadêmica conjunta entre os estudantes de graduação e pós-graduação de Relações Internacionais de todos estes centros. Busca também estabelecer um espaço capaz de estimular discussões que possam contribuir para o ensino, a pesquisa e a prática profissional na área de relações internacionais no país.

Com a finalidade de alcançar os objetivos propostos, o evento contará com os seguintes trabalhos: mesas redondas, mini-curso e cine-debate durante os quais serão debatidas e apresentadas as várias fontes, técnicas e áreas de pesquisa em Relações Internacionais, com ênfase aos seguintes temas: Filosofia da Ciência, América do Sul, Estados Unidos e Segurança Internacional e BRICS.

A comissão organizadora é composta por estudantes universitários e conta também com a cooperação de professores e de instituições como o Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília e o Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais do Ministério das Relações Exteriores. Faz-se importante ressaltar que, por ser um Fórum, o evento pretende realizar-se anualmente e deverá divulgar gratuitamente por meio eletrônico os principais produtos do evento.


Mais detalhes sobre o evento aqui.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Bolsas de estudos para pós-graduação no Canadá

Encontram-se abertas as inscrições para o Programa Vanier de Bolsas de Estudo de Pós-Graduação no Canadá. Este competitivo programa faz parte da estratégia de desenvolvimento científico-tecnológico e econômico do Canadá e visa atrair e reter estudantes de doutorado que se destaquem por suas realizações em pesquisas de pós-graduação nas áreas de ciências sociais e humanas, ciências naturais, engenharia e saúde, e que tenham capacidade de liderança.

A bolsa é de $50.000,00 dólares canadenses anuais, com duração de, no máximo, três anos e o processo de seleção está aberto a candidatos canadenses e internacionais.


Os candidatos serão avaliados pelo seu desempenho acadêmico e profissional, verificado por meio dos resultados acadêmicos, prêmios e distinções, programa de estudo e potencial contribuição para o avanço do conhecimento, experiências profissionais e acadêmicas relevantes, envolvimento com a comunidade, publicações, apresentações em conferências e cartas de recomendação.


Para concorrer a uma bolsa, os estudantes devem ter sua candidatura apresentada por uma universidade canadense que tenha cotas do Programa Vanier de Bolsas de Estudo de Pós-Graduação do Canadá. Os estudantes internacionais que não estejam matriculados em uma universidade canadense deverão definir em qual departamento e em qual universidade canadense, que esteja inserida no programa de cotas do Programa Vanier, desejam realizar seu doutorado e contatar os responsáveis e professores do referido departamento, manifestando seu interesse em candidatar-se à bolsa. Informações adicionais sobre o Programa Vanier podem ser obtidas no documento anexo, bem como no site www.vanier.gc.ca, incluindo os prazos para submissão de candidaturas.


Informações adicionais podem ser obtidas em:


Embaixada do Canadá


Assessoria para Assuntos de Educação


Tel.: (61) 3424-5425


E-mail: academic.bsb@international.gc.ca


Fonte: http://mundorama.net/2009/08/31/evento-bolsas-de-estudos-para-pos-graduacao-no-canada/

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Periódicos (I)



Esta é a primeira de uma série de postagens que serão feitas nos próximos meses, com indicações de periódicos nacionais e estrangeiros na área de Relações Internacionais. Começaremos pelos mais difundidos em nossa disciplina, o que não impede que tenhamos leitores que ainda não os conheçam. Sugestões são extremamente bem-vindas:

1)
Foreign Affairs
Fundada em 1922 e editada pelo poderoso
think tank norte-americano Council on Foreign Relations, é considerada a mais influente revista acadêmica de Relações Internacionais, com artigos e ensaios de chefes de Estado e personalidades proeminentes no cenário mundial, como George Kennan, Henry Kissinger e Barack Obama.
Idioma: Inglês
Editor: James F. Hoge, Jr.
Periodicidade: Bimensal
ISSN: 0015-7120


2)
Foreign Policy
Fundada em 1970 por Samuel Huntington, entre outros, a Foreign Policy transformou-se em uma revista dedicada ao público mais amplo, focando nas tendências do cenário internacional. Seu
website é alimentado diariamente por vários ensaios e reportagens sobre os aspectos mais instigantes da vida mundial. Vale dar uma olhada no Failed States Index e nos Top 10 sobre as coisas mais curiosas e inesperadas das relações internacionais (Ex: o recente Top 10 sobre as coisas mais loucas já ditas em um discurso na ONU).
Idioma: Inglês
Editor: Moisés Naím
Periodicidade: Bimensal
ISSN: 0015-7228

3)
Revista Brasileira de Política Internacional (RBPI)
Criada em 1958 pelo
Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IBRI), a RBPI foi concebida com a missão de promover a reflexão, a pesquisa e o debate acadêmico sobre relações internacionais e sobre a política exterior do Brasil. É o mais antigo periódico brasileiro sobre o tema e abriga as contribuições da elite intelectual-acadêmica de RI do País.
Idioma: Português (artigos ocasionais em Espanhol e Inglês)
Editor: Antônio Carlos Lessa
Periodicidade: Semestral
ISSN: 0034-7329

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Getty Images

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Declaração conjunta russo-israelense ou sobre como os Estados interpretam a História



President of Russia - Official Web Portal - August 18, 2009

Presidents of Russia and Israel condemned attempts to distort the history of World War Two, and deny the crime of the Holocaust and the enormous contribution of the Soviet Union in the victory over Nazi Germany.

Mr Medvedev and Shimon Peres adopted a joint statement in connection with the forthcoming 70th anniversary of the beginning of the Second World War.

The statement by the two presidents expresses their outrage at attempts to deny the enormous contribution of the Soviet Union in the victory over Nazi Germany and question the crime of the Holocaust. The leaders of Russia and Israel call for a strong ‘No’ in response to those who distort the tragic events and main outcome of the Second World War.

The statement notes that Jews fought together with Russians and other peoples of the Soviet Union in the Red Army, an army which played a key role in determining the outcome of the war, and that Russian and Jewish peoples fought together against Hitlerism and racism.

In his statement to journalists, Mr Medvedev emphasized that the distortion of history that favours given political scenarios or the heroization of Nazi collaborators is unacceptable.

According to Shimon Peres, Israel has a special relationship with Russia and will never forget Russia's contribution to the victory over Nazism. If it were not for Russia's participation in the war, the President of Israel said, the world was unlikely to have been able to defeat that threat.



Recebi hoje esta declaração da assessoria de imprensa do Presidente Medvedev, que pode ser acessada no site do Kremlin (http://www.kremlin.ru/eng/text/themes/2009/08/181947_220972.shtml). O que me chamou a atenção no texto é que ele esquece -- muito convenientemente, por sinal -- o arraigado anti-semitismo que existia na antiga União Soviética. Este é mais um exemplo de como os Estados interpretam seletivamente a História de acordo com os seus próprios objetivos políticos. Dessa forma, não é nem um pouco interessante rememorar os pogroms do Império Russo ou o envio de judeus aos gulags stalinistas, tudo em nome da amizade entre Tel-Aviv e Moscou.


* Crédito da Foto:
Getty Images.

domingo, 16 de agosto de 2009

Uma breve introdução aos partidos políticos mexicanos

Jesús Alejandro Alcantar Salinas*

No México são três os principais partidos políticos que repartem o poder: o PRI [Partido Revolucionario Institucional], o PRD [Partido de la Revolución Democrática] e o PAN [Partido Acción Nacional]. Há, também, outros partidos, porém, de pouca representação. Alguns deles são: o PT [Partido del Trabajo] e o Partido Verde Ecologista.
O PRI esteve na presidência do país durante mais de 70 anos sem interrupção alguma. Somente nas eleições federais do ano 2000 deixou “Los Pinos” [a residência do presidente mexicano]. É considerado um partido de centro, mas durante o transcurso dos anos tem adotado posturas muito liberais e outras mais de “esquerda”. Foi no governo priista de Carlos Salinas de Gortari (1988-1994) que foi assinado o “Tratado de Libre Comercio de América del Norte” ou NAFTA.
O PRD foi fundado no fim da década de 1980 por Cuauhtemoc Cárdenas, filho do ex-presidente mexicano Lázaro Cárdenas. No partido há diferentes correntes da “esquerda” mexicana. Nas ultimas eleições federais (2006), no momento de maior auge do partido, o candidato Andrés Manuel López Obrador perdeu por menos de 0,6% dos votos para o PAN.
O PAN foi fundado no fim da década de 1930 e o atual presidente mexicano, Felipe Calderón, pertence a este partido. É um grupo político de “direita”, mas dentro do partido há correntes de centro e de “extrema direita”. Tradicionalmente é ligado à Igreja Católica.
Nas eleições para presidente do ano 2000, o PAN foi a surpresa. A população mexicana elegeu o candidato panista Vicente Fox. Esta foi a melhor e única opção que os eleitores encontraram para poder tirar o PRI do poder. Após mais de sete décadas, o poder mudou de mãos. Aquelas foram umas eleições históricas!
Porém, o governo de Fox (2000-2006) passou com poucas conquistas. Foi um período sem grandes ações e muito controvertido pelas inumeráveis gafes do ex-presidente mexicano. Muito pelo contrário, teve uma política externa desastrada e muito alinhada com os interesses dos Estados Unidos. Teve vários impasses diplomáticos, entre eles com Cuba e Venezuela. A esperança de mudança em relação aos feitos do PRI nunca chegou. Foi mais um governo pouco marcante e sem avanços significativos.
A atual administração de Felipe Calderón (2006-2012) tem demonstrado algo diferente (ele pertence a um grupo menos radical e mais pragmático dentro do seu partido). Tem sido adotada uma política externa mais responsável e marcante, as políticas macroeconômicas não têm sido tão liberais quanto se esperava (com algumas exceções) e inclusive têm sido colocados em prática alguns projetos sociais que tinham sido idealizados por partidos políticos de “esquerda”. A principal “bandeira” deste governo tem sido a guerra ao tráfico de drogas.
No entanto, o aumento da violência gerada pelos confrontos entre cartéis de traficantes, polícia e exército e a má reputação do governo de Vicente Fox e outros governos estaduais em mãos dos panistas têm debilitado o Partido Acción Nacional.
O golpe mais forte ao PAN aconteceu nas eleições legislativas de 5 de julho passado, quando perdeu a maioria no Congresso. Mas Calderón e o seu partido perderem margem de manobra na política nacional não foi a principal surpresa. O que ninguém poderia imaginar há alguns anos no país aconteceu: o PRI se converteu novamente em maioria.
Após as eleições de julho, o PRI reapareceu fortalecido, não só por ter conseguido a maioria no Congresso Nacional, mas pelo fato de o PAN e o PRD, por causa da derrota e de vários assuntos internos e externos, estarem muito fragilizados.
Neste momento, o Partido Acción Nacional e o Partido de la Revolución Democrática estão muito divididos. Há uma disputa interna pelo poder dos partidos e as diferentes correntes estão se enfrentando e se responsabilizando pela derrota nas eleições. Nos dois partidos tem havido expulsões, mudanças de cargos internos e há amplos debates quanto ao seu rumo e objetivos.
Paralelamente à violência provocada pela guerra ao tráfico de drogas, estão os prejuízos da crise financeira e da gripe suína no país (queda do PIB) e a queda da produção da PEMEX [estatal mexicana do petróleo] e por consequência do orçamento do governo federal. Sem dúvida alguma, com tudo isto, o mais afetado será o PAN.
Portanto, uma coisa é certa: as eleições federais de 2012 vão ser disputadas, sem um partido político como favorito. Mas o PRI, como forca reestruturada, terá uma oportunidade real de disputar o poder. Da gestão atual do PAN vai depender muito o resultado que colocará um novo presidente no México daqui a três anos. Só resta esperar para poder ver e analisar o comportamento, as estratégias e os resultados dos três principais partidos políticos mexicanos que irão disputar a presidência da República em 2012.

* Analista internacional mexicano, é especialista nos assuntos relacionados à OEA e observador do cenário partidário e da política externa do México.

** Os créditos da foto são da Getty Images.

domingo, 19 de julho de 2009

O trabalho da OEA

A revogação da suspensão de Cuba da OEA e a crise política em Honduras têm estado em evidência nos últimos dois meses. Hoje teremos a honra de contar com um provocativo ensaio do analista internacional mexicano Jesus Alejandro Alcantar Salinas, que tem um posicionamento bastante crítico em relação ao papel da OEA no continente e à influência dos Estados Unidos na organização -- Salinas é especialista no estudo da suspensão de Cuba da OEA em 1962. Segue abaixo o ensaio:

Depois de mais de 60 anos de existência, o que a OEA fez de significativo no Continente Americano?
A anulação da “resolução 7”, que suspendeu Cuba da OEA, em 1962, somente confirmou a incompetência da organização e a enorme influência estadunidense nas suas decisões. A revogação da suspensão de Cuba, durante a XXXIX Assembléia Geral, no mês passado, juntamente com a condenação do golpe cívico-militar em Honduras, têm sido, além da Corte Interamericana de Direitos Humanos, os feitos mais importantes da OEA desde a sua criação.
No entanto, as manifestações no assunto cubano e hondurenho apenas foram um “ato simbólico”. Na prática tudo ficou igual. Mas, quem quer atos simbólicos? Mais de 60 anos de vida e a organização interamericana somente tem servido como espaço físico para a mediação de algumas crises e para o envio de algumas missões de observadores eleitorais. E que mais?
A OEA assistiu confortavelmente a todos os golpes na América Latina, a ingerência dos Estados Unidos na região, as crises continentais, o aumento da pobreza, e até os dias atuais não tem cumprido fielmente os princípios e objetivos da Carta Interamericana.
Então, qual é o sentido da sua existência? Por que não condenou os golpes na América Latina no século XX como fez há poucos dias no caso de Honduras? No entanto, não é suficiente somente condenar, precisamos de uma organização mais pragmática, altamente eficiente, que tenha decisões próprias, que seja contundente nas suas resoluções e que as faça valer.
A organização com sede em Washington só tem criado uma burocracia continental que assiste ao embargo econômico que os Estados Unidos mantêm a Cuba há quase 50 anos.
A OEA tem sido um mero instrumento de poder que serve aos interesses do governo estadunidense.
Por isto, não vejo que Cuba tenha sido reticente com a OEA ao se negar em voltar a participar no sistema interamericano. Não há muito sentido em participar. Quase não há benefícios ao participar na organização interamericana. O governo cubano é mais pragmático. As reuniões e discussões que acontecem em Washington podem ser feitas em qualquer lugar sem a necessidade de pertencer à OEA. Cuba está sendo realista.
Independentemente do desfecho da situação em Honduras e do papel de líder que a OEA assumiu no conflito, se esta Organização Internacional quiser ter um papel determinante e ser protagonista nas relações internacionais continentais, terá que trilhar por caminhos diferentes, com decisões independentes e determinantes e sem ingerência de qualquer país.
Acredito que o “novo momento” da política externa dos Estados Unidos pode ser aproveitado para a reformulação de uma OEA que seja muito mais eficiente da que temos visto nas últimas décadas.


Este ensaio nos inspira a fazer várias reflexões. Agora gostaríamos de saber o que o leitor acha sobre o tema. O papel da OEA é pernicioso e atentatório à democracia no continente? É a OEA um "joguete" da política externa dos EUA? Ou o pós-Guerra Fria permitiu uma nova abordagem nas relações entre a OEA, os EUA e os demais Estados americanos? Convidamos você leitor a deixar seus comentários sobre o assunto.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

"A Rússia hoje" -- Entrevista exclusiva com Angelo Segrillo (Parte III)


Reproduzimos abaixo a terceira e última parte da entrevista exclusiva concedida por Angelo Segrillo ao blog Urbi et Orbi:


Urbi et Orbi: Medvedev e o presidente norte-americano Barack Obama possuem muitos pontos em comum: ambos são líderes políticos muito jovens [Medvedev tem 43 anos e Obama, 47], detêm larga experiência no mundo acadêmico [Medvedev lecionou na Universidade de São Petersburgo entre 1991 e 1999 e Obama, na Universidade de Chicago entre 1992 e 2004] e são juristas. Como isso pode significar uma mudança nas relações russo-americanas em comparação com o período Putin-Bush?


Angelo Segrillo: Estas similaridades podem contribuir para criar um clima pessoal mais aconchegante entre os dois nas negociações. Não vão mudar a direção dos assuntos, estipulada por fatores objetivos externos, mas podem contribuir para acelerar ou desacelerar os processos que já estão indo em determinada direção.


Urbi et Orbi: Na imprensa brasileira, fala-se muito do potencial geopolítico e econômico dos BRIC's [acrônimo criado por Jim O’Neill, economista do banco de investimentos Goldman Sachs, para descrever as principais economias emergentes do mundo, representadas por Brasil, Rússia, Índia e China]. Quais são as reais perspectivas de avanço na parceria estratégica entre Brasil e Rússia? Quais os campos mais promissores e onde há desacordo entre Brasília e Moscou?


Angelo Segrillo: Apesar da retórica, a distância geográfica e os interesses globais diversos fazem com que o Brasil não seja uma prioridade da política externa russa (a recíproca é verdadeira, mas de maneira mais fraca). Assim, a tendência, se não houver fato novo, é manter um nível relativamente baixo de transações recíprocas, esquentadas de tempos em tempos por fatores conjunturais. Ao Brasil interessa a tecnologia russa aeroespacial, comércio com fertilizantes e equipamente bélico, etc. O Brasil vende principalmente carnes e diferentes produtos agrícolas. Há potencial para um incremento neste nível de trocas.



O momento da publicação desta entrevista reveladora com Angelo Segrillo sobre a Rússia é extremamente oportuno, em meio à visita de Obama a Moscou em 6 de julho e aos protestos internacionais em reação ao assassinato da ativista de direitos humanos russa Nataliya Estemirova.


E você, caro leitor? Qual a sua opinião sobre a situação da Rússia no mundo de hoje? A crise econômica mundial afetará irreversivelmente o crescimento da economia russa, baseado no petróleo? Moscou chegará a um entendimento com Washington na questão do escudo antimíssil na Europa Oriental? Faça seus comentários, afinal, a sua participação é extremamente importante para o nosso blog.


Os créditos da foto são da Getty Images.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

"A Rússia hoje" -- Entrevista exclusiva com Angelo Segrillo (Parte II)

Segue a segunda parte da entrevista exclusiva de Angelo Segrillo ao blog Urbi et Orbi:

Urbi et Orbi: Alguns observadores internacionais têm apontado um suposto "racha" entre o primeiro-ministro Vladimir Putin e o presidente Dimitri Medvedev em questões como direitos humanos e a crise econômica mundial. Isso é mera especulação ou há evidências concretas nesse sentido? Caso se confirme, qual seria o provável desdobramento de um conflito palaciano entre Putin e Medvedev para a política russa?

Angelo Segrillo: No tradicional espectro “ocidentalistas versus eslavófilos” (i.e., os russos pró-Ocidente e os que querem um caminho próprio, independente dos valores ocidentais), Medvedev é um pouco mais ocidentalista que Putin. Além disso, é menos gosudarstvennik (adepto de um estado forte) que Putin. Assim, há sim a possibilidade de diferenças ou mesmo desavenças entre os dois. Mas, por outro lado, são unidos por um longo tempo de convivência e parceria em comum. Assim, até agora a diarquia (com status sênior para Putin) tem funcionado sem grandes rachas e pode chegar ao final do mandato desta maneira. Caso haja um conflito palaciano, as conseqüências podem ser perigosas para a democracia russa, pois pode haver tentação de utilizar instrumentos autoritários para resolver a questão, já que a constituição russa é semipresidencialista e ambos têm poderes fortes em suas esferas de ação (o presidente nas relações exteriores e defesa/segurança e o primeiro-ministro na política interior).


Urbi et Orbi: A Guerra de Agosto de 2008 contra a Geórgia e os desacordos com a Ucrânia a respeito do fornecimento de gás natural demonstraram o quão problemáticas ainda são as relações de Moscou com os Estados pós-soviéticos. Tendo isso em mente, o senhor vê hoje um movimento de atração ou repulsão em relação à hegemonia russa sobre o espaço pós-soviético?

Angelo Segrillo: a relação das outras ex-repúblicas soviéticas com a Rússia tem variado com o tempo. Por exemplo, Belarus esteve muito próxima à Rússia no período Yeltsin e, surpreendentemente, no período Putin tem se afastado. Geórgia e Ucrânia também já estiveram mais próximas e se encontram bem afastadas. As repúblicas da Ásia central têm flutuado bastante no tempo, oscilando entre escoar seus recursos minerais através da rota mais direta para a Europa (através da Rússia) e diversificar sua clientela juntando-se em parcerias com países do Ocidente. Parecem fazer um jogo de gangorra entre Rússia e Ocidente para ver quem lhes oferece mais vantagens.


Os créditos da foto são da Getty Images.
Aguardem a terceira e última parte da entrevista, que será publicada em breve.

domingo, 5 de julho de 2009

"A Rússia hoje" -- Entrevista exclusiva com Angelo Segrillo (Parte I)

Tornou-se lugar comum falar sobre a importância político-estratégica e econômica da Rússia no contexto internacional atual. O Kremlin tem influência em alguns dos temas mais explosivos da agenda mundial, como os programas nucleares do Irã e Coreia do Norte, a expansão da Otan e o sistema antimísseis dos EUA. Além disso, muito se fala de uma aproximação entre a Rússia e o Brasil, com base nas dimensões continentais dos dois países e em possíveis interesses comuns no cenário global.

Dos especialistas brasileiros dedicados aos Estudos Russos, Angelo Segrillo certamente tem um lugar de destaque, já que foi o primeiro historiador brasileiro a ter acesso aos arquivos da União Soviética após o esfacelamento do país em 1991, com artigos e livros publicados sobre os vários aspectos da sociedade russa, entre eles O declínio da URSS: um estudo das causas e Rússia e Brasil em Transformação. Segrillo possui Mestrado em Língua e Literatura Russa pelo Instituto Pushkin de Moscou e Doutorado em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e escreve regularmente para a imprensa brasileira sobre assuntos ligados à Rússia.

O Urbi et Orbi reproduz com exclusividade a primeira parte da entrevista concedida por Angelo Segrillo a este blog sobre a situação doméstica e internacional da Rússia de hoje:

Urbi et Orbi: Os críticos mais exaltados dos governos de Vladimir Putin [2000-2008] e Dimitri Medvedev [2008-...] tendem a retratá-los como uma continuação das práticas administrativas soviéticas, acusando-os de corrupção e autoritarismo. Em que medida as gestões Putin e Medvedev representam uma continuidade e uma ruptura em relação à experiência soviética e à história política russa?

Angelo Segrillo: Putin foi um participante do aparato soviético (de segurança, ainda por cima). Assim, é natural que guardasse certas atitudes da época anterior. Medvedev já é produto de uma nova era, mas como é ligado ao grupo de Putin, mantém atitudes em comum, com um viés um pouco menos dogmático. Mas seria forçar a barra ir muito além na continuidade com o período soviético em si. Talvez o grande fio condutor seja o conceito de gosudarstvennost´, que inclui uma concepção de um estado sólido como condição necessária para o florescimento da sociedade russa. Esta concepção (bem diferente do liberalismo ocidental) vem desde a época czarista, perpassando o período soviético e continuando até os dias atuais. Acho que é sobre esta linha tradicional e antiga russa que se pode estabelecer elementos de continuidade, mais do que simplesmente com o período soviético, que era um período anticapitalista.


Urbi et Orbi: A crise econômica mundial atingiu a Rússia em cheio. O país está enfrentando altas taxas de inflação e o seu principal produto de exportação, o petróleo, está sofrendo uma severa desvalorização no mercado internacional. Quais são as opções na mesa para os líderes russos superarem a dependência do petróleo e diminuírem a vulnerabilidade econômica externa do país?

Angelo Segrillo: A única solução para diminuir a dependência do petróleo, que é uma riqueza tão grande e abundante na Rússia, é a diversificação da economia procurando sair da esfera dos recursos minerais para as manufaturas de maior valor agregado. Não é um caminho fácil devido à dura competição internacional, mas a Rússia tem o principal elemento para caminhar neste sentido: um capital humano de nível educacional alto.

domingo, 21 de junho de 2009

As paradas militares do Dia da Vitória como elemento de análise da política externa da Federação Russa

As comemorações do Dia da Vitória, em 8 de maio, data em que os Aliados derrotaram as forças nazi-fascistas do Eixo na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), estendem-se todos os anos pelo planeta. As gerações mais jovens podem ter dificuldades para apreender o significado da celebração desta data relativamente "remota" para elas. Já para os mais velhos, principalmente aqueles que eram nascidos quando os combates ocorreram, a derrota do nazi-fascismo simbolizou o triunfo da liberdade sobre a tirania corporificada pela Alemanha nazista e seus aliados. À parte as diferentes percepções geracionais sobre o conflito, o fato é que o 64º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial ainda permanece muito presente na memória coletiva dos países que nela participaram, além de fazer parte da trajetória da vida de muitas pessoas.

Em meio às comemorações ao redor do globo, as que são realizadas na Rússia – onde a data é celebrada em 9 de maio – certamente merecem o maior destaque. Em primeiro lugar, em função da contribuição decisiva e do sacrifício humano e material oferecidos pela União Soviética para a derrota dos exércitos de Hitler. O Den' Pobedy, como é conhecido o Dia da Vitória na Rússia, é feriado nacional em todo o país. Desde 1946, a Praça Vermelha tem sido palco de paradas militares no Den' Pobedy, que se tornaram célebres durante a existência da União Soviética pela exibição do que havia de mais moderno nas Forças Armadas soviéticas. Com o esfacelamento do socialismo, as comemorações continuaram de modo mais modesto, condizentes que estavam com a deteriorada situação econômica, social e política da jovem Federação Russa. Os primeiros anos do século XXI contrastaram brutalmente com a década de noventa, na medida em que a Rússia recuperava a sua economia com taxas significativas de crescimento do PIB, proporcionadas pelo aumento no preço do petróleo e do gás natural exportados pelo país. Em 2008, com o presidente Dimitri Medvedev já no poder, a parada do nove de maio foi a primeira desde 1990 a exibir armamentos pesados, como os mísseis balísticos intercontinentais (ICBM's), tão temidos durante a Guerra Fria (O GLOBO, 2008, on-line).

A análise das paradas militares do Dia da Vitória em Moscou nos permite traçar algumas comparações históricas. Durante a Guerra Fria, a natureza fechada do regime socialista obrigava os chamados kremlinólogos (especialistas nas relações políticas dentro do governo da União Soviética) a buscar nos vídeos das paradas do nove de maio evidências, como a posição dos líderes na tribuna de honra e a menção de nomes e cargos nos discursos, a fim de se ter uma ideia da correlação de forças dentro do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), além de analisar o estado de suas Forças Armadas por meio da observação dos armamentos exibidos no desfile. Por outro lado, atualmente o caráter de "vitrine" dos desfiles do nove de maio tem sido incrementado pela maior cobertura dada pela imprensa internacional. Isto permite à Rússia, entre outras coisas: consolidar o sentimento de união nacional com base nas vitórias militares obtidas na Segunda Guerra Mundial; imprimir na população a noção de um Estado forte que zela pela memória histórica e pelo aperfeiçoamento das Forças Armadas enquanto elemento fundamental da segurança nacional; e transmitir mensagens de cunho político a determinados Estados ou à comunidade internacional como um todo. É este último aspecto que abordaremos com mais profundidade a seguir, com base em discursos de autoridades russas e reportagens jornalísticas.

Como adiantado acima, os desfiles também fornecem elementos para a análise da evolução da posição russa com relação aos acontecimentos internacionais que a afetam direta e indiretamente. Comparemos as paradas militares de 2005 e 2009. A primeira ocorreu sob a presidência de Vladimir Putin, enquanto que a segunda se deu sob o mandato de Dimitri Medvedev. Em 2005, as comemorações na Praça Vermelha contaram com a presença de vários líderes nacionais, como George W. Bush (Estados Unidos), Gerhard Schroeder (Alemanha), Jacques Chirac (França), José Luiz Rodríguez Zapatero (Espanha), Sílvio Berlusconi (Itália), Viktor Yushchenko (Ucrânia), Hu Jintao (China), Manmohan Singh (Índia) e Junichiro Koizumi (Japão), e com o desfile de veteranos de guerra dos diversos fronts. Em 2009, por sua vez, os festejos não foram acompanhados por dignitários das outras grandes potências e não contaram com o desfile dos veteranos, restringindo-se às Forças Armadas regulares e apresentando o armamento mais pesado desde o fim da União Soviética (G1, 2009, on-line). Na ocasião, o presidente Medvedev defendeu a composição de um novo e amplo tratado de segurança para a Europa e declarou que a vitória na Segunda Guerra Mundial “é uma lição que ainda é relevante hoje, quando mais uma vez há aqueles que estão interessados em embarcar em aventuras militares” e que “[...] qualquer agressão contra nosso povo encontrará uma resposta adequada [...]” por parte da Rússia (MEDVEDEV, 2009, on-line). Basta lembrarmos que entre 2005 e 2009, ocorreram eventos que deterioraram sensivelmente as relações da Rússia com o Ocidente e especialmente com os Estados Unidos, como o impasse no fornecimento de gás natural à Ucrânia e à Europa Ocidental, as discussões sobre a inclusão da Geórgia e da Ucrânia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a insistência norte-americana na instalação de um escudo antimíssil na Polônia e República Tcheca, a declaração de independência de Kosovo e a Guerra de Agosto de 2008 entre a Rússia e a Geórgia. É dentro deste contexto de desgaste das relações entre o Kremlin e o Ocidente e de ascensão de uma política externa mais assertiva por parte de Moscou que se inserem as diferentes abordagens nas paradas de 2005 e 2009 e a retórica mais inflamada por parte do presidente Medvedev. A comparação também pode ser traçada em outro plano: em 2005, com a presença de chefes de Estado e de governo de vários países, o desfile nos mostra que a vitória sobre o Eixo foi o fruto de um esforço conjunto de uma comunidade de nações, ali presentes para celebrar o feito; já em 2009, a mensagem é radicalmente diferente, de que somente a Rússia foi a responsável pelo triunfo sobre a Alemanha hitlerista, prescindindo desta forma da presença de representantes dos demais Estados na tribuna de honra da parada militar.

O exemplo das paradas militares do Dia da Vitória na Rússia é instrutivo de como os Estados utilizam o poder simbólico e a projeção midiática de eventos específicos para transmitir mensagens de cunho político-diplomático e estratégico-militar aos demais Estados e à comunidade internacional. Com certeza este tema merece um estudo mais aprofundado por parte da academia brasileira de Relações Internacionais.


REFERÊNCIAS:

G1. Medvedev preside maior desfile militar desde a queda da URSS. Disponível em: [http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1114835-5602,00-MEDVEDEV+PRESIDE+MAIOR+DESFILE+MILITAR+DESDE+A+QUEDA+DA+URSS.html]. Acesso em: 10/05/2009.

MEDVEDEV, Dimitri. Speech at Military Parade in Honour of 64th Anniversary of Victory in Great Patriotic War. Disponível em: [http://www.kremlin.ru/eng/speeches/2009/05/09/1501_type127286_216101.shtml]. Acesso em: 10/05/2009.

O GLOBO. Rússia faz primeiro desfile com mísseis na Praça Vermelha desde 1990. Disponível em: [http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2008/05/09/russia_faz_primeiro_desfile_com_misseis_na_praca_vermelha_desde_1990-427298607.asp]. Acesso em: 10/05/2009.