quarta-feira, 8 de julho de 2009

"A Rússia hoje" -- Entrevista exclusiva com Angelo Segrillo (Parte II)

Segue a segunda parte da entrevista exclusiva de Angelo Segrillo ao blog Urbi et Orbi:

Urbi et Orbi: Alguns observadores internacionais têm apontado um suposto "racha" entre o primeiro-ministro Vladimir Putin e o presidente Dimitri Medvedev em questões como direitos humanos e a crise econômica mundial. Isso é mera especulação ou há evidências concretas nesse sentido? Caso se confirme, qual seria o provável desdobramento de um conflito palaciano entre Putin e Medvedev para a política russa?

Angelo Segrillo: No tradicional espectro “ocidentalistas versus eslavófilos” (i.e., os russos pró-Ocidente e os que querem um caminho próprio, independente dos valores ocidentais), Medvedev é um pouco mais ocidentalista que Putin. Além disso, é menos gosudarstvennik (adepto de um estado forte) que Putin. Assim, há sim a possibilidade de diferenças ou mesmo desavenças entre os dois. Mas, por outro lado, são unidos por um longo tempo de convivência e parceria em comum. Assim, até agora a diarquia (com status sênior para Putin) tem funcionado sem grandes rachas e pode chegar ao final do mandato desta maneira. Caso haja um conflito palaciano, as conseqüências podem ser perigosas para a democracia russa, pois pode haver tentação de utilizar instrumentos autoritários para resolver a questão, já que a constituição russa é semipresidencialista e ambos têm poderes fortes em suas esferas de ação (o presidente nas relações exteriores e defesa/segurança e o primeiro-ministro na política interior).


Urbi et Orbi: A Guerra de Agosto de 2008 contra a Geórgia e os desacordos com a Ucrânia a respeito do fornecimento de gás natural demonstraram o quão problemáticas ainda são as relações de Moscou com os Estados pós-soviéticos. Tendo isso em mente, o senhor vê hoje um movimento de atração ou repulsão em relação à hegemonia russa sobre o espaço pós-soviético?

Angelo Segrillo: a relação das outras ex-repúblicas soviéticas com a Rússia tem variado com o tempo. Por exemplo, Belarus esteve muito próxima à Rússia no período Yeltsin e, surpreendentemente, no período Putin tem se afastado. Geórgia e Ucrânia também já estiveram mais próximas e se encontram bem afastadas. As repúblicas da Ásia central têm flutuado bastante no tempo, oscilando entre escoar seus recursos minerais através da rota mais direta para a Europa (através da Rússia) e diversificar sua clientela juntando-se em parcerias com países do Ocidente. Parecem fazer um jogo de gangorra entre Rússia e Ocidente para ver quem lhes oferece mais vantagens.


Os créditos da foto são da Getty Images.
Aguardem a terceira e última parte da entrevista, que será publicada em breve.

Um comentário:

Bruno Hendler disse...

Parabéns pela entrevista Bruno. Tocou em questões cruciais para se entender as ações internas e externas do governo russo hoje.