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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Análise: A nova doutrina militar da Rússia

A recente Cúpula da OTAN, realizada em Lisboa, discutiu temas importantes para o futuro da Aliança Atlântica, como a criação de um sistema de defesa antimísseis e o cronograma das operações no Afeganistão. O sucesso da OTAN no gerenciamento desses pontos depende de sua relação com a Rússia, o que ficou evidente pela participação do presidente russo Dmitri Medvedev nos debates. Aqui cabe a pergunta: como Moscou se percebe no atual cenário estratégico-militar internacional?

A publicação da Doutrina Militar da Federação Russa, em fevereiro de 2010, foi o resultado de anos de debates no establishment russo. Esperava-se com ansiedade a nova percepção estratégica russa diante das mudanças no cenário internacional desde sua última Doutrina Militar (2000): a ressurgência do poder russo, a “guerra ao terror”, a expansão da OTAN para o Leste (2004) e a Guerra de Agosto (2008).

A doutrina militar de um país é um documento que confere previsibilidade à sua política de segurança. No caso da Rússia, em que a segurança tem grande peso nas decisões governamentais, o estudo da nova doutrina permite a familiarização com um aspecto muito relevante da inserção internacional de Moscou. Analisamos aqui os possíveis desdobramentos da doutrina para a política externa russa.

No início da seção sobre os perigos de guerra à Rússia, a doutrina reconhece que a "arquitetura de segurança internacional existente (...) não oferece igual segurança a todos os Estados". Isso revela a percepção de que, apesar de estar bem posicionada dentro do regime de segurança internacional, a Rússia avalia que ele fornece proteção ainda maior a outros Estados.

A doutrina reconhece a diminuição da possibilidade de uma guerra de larga escala contra a Rússia, mas percebe a persistência de algumas fontes de ameaça militar ao país. A expansão da OTAN rumo às fronteiras russas é o primeiro item dos principais perigos externos de guerra ao país. Outro perigo é o estabelecimento de sistemas de defesa antimísseis que "abalam a estabilidade global e violam o equilíbrio de forças", em clara referência ao projeto dos EUA de instalação de um sistema de defesa antimísseis no Leste Europeu. Reivindicações territoriais contra a Rússia também são avaliadas como um perigo externo de guerra (o pleito japonês sobre as ilhas Curilas é um exemplo disso), assim como o terrorismo internacional.

Armas nucleares

O documento também revela que Moscou observará atentamente o cenário estratégico-militar em seu “exterior próximo”. Serão considerados perigos e ameaças militares à Rússia a instalação de contingentes militares de Estados e de organismos extrarregionais e a realização de exercícios militares com objetivos provocativos no território de seus vizinhos.

O texto atribui grande importância à articulação em matéria de segurança no âmbito da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (CSTO, na sigla em inglês), da Comunidade de Estados Independentes (CEI), da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) e da Organização de Cooperação de Xangai (OCS), excluindo-se aqui a OTAN, que mereceu apenas uma breve menção entre as organizações com as quais a Rússia tentará desenvolver relações.

A nova doutrina militar reserva ainda o direito da Rússia de usar armas nucleares como resposta a um ataque com armas de destruição em massa contra o país, assim como no caso de agressão com armas convencionais que ameace a existência do Estado russo. Moscou adota a "política do primeiro uso" (first-use policy) de armas nucleares e adere à doutrina do ataque nuclear preventivo (nuclear preemptive strike).

Independência armamentícia

A proteção de cidadãos russos residentes no exterior contra ataques armados é uma das tarefas das forças armadas em tempos de paz. Isso poderá ensejar um maior intervencionismo do Kremlin em seu “exterior próximo”, sob o pretexto de proteger as minorias russas residentes nesses países. Com efeito, a proteção da população russa foi uma das justificativas de Moscou para atuar na guerra de agosto de 2008 contra a Geórgia.

Uma das tarefas atribuídas ao complexo militar-industrial é "garantir uma presença estratégica da Rússia no mercado mundial de produtos e serviços de alta tecnologia". De fato, o país tem logrado manter uma posição de destaque no mercado mundial de armamentos, respondendo por 25% de todas as exportações do setor entre 2004 e 2008.

Outro objetivo atribuído ao complexo militar-industrial é assegurar a independência tecnológica do país na produção de armas de importância estratégica. No entanto, a recente compra de porta-helicópteros franceses e de VANTs israelenses demonstra que a Rússia terá de contornar obstáculos de natureza financeira e técnica para alcançar esse objetivo.

A doutrina prescreve o avanço nos processos de negociação para o estabelecimento de sistemas regionais de segurança como uma das tarefas da Rússia no campo da cooperação político-militar. Reforça-se a proposta russa para um Tratado de Segurança Europeia em âmbito paneuropeu – o que tem encontrado fria recepção no Ocidente.

Retórica

Um documento tão fundamental como esse possui duas facetas: a orientação das Forças Armadas e o consumo externo. O texto da doutrina está repleto de mensagens cuidadosamente dirigidas a públicos específicos. A data de sua publicação (5 de fevereiro) é bastante simbólica, coincidindo com o início da 46ª Conferência de Segurança de Munique. O texto alude frequentemente à cooperação com organizações em que Moscou é influente (CSTO, OCS e CEI), enquanto as citações à OTAN são muito mais tímidas.

Para Marcel de Haas e Richard Weitz, as referências à OTAN demonstram que a nova doutrina reafirma os valores da Guerra Fria. Essa afirmação carece de fundamento, já que a Rússia apenas faz tais referências à Aliança Atlântica como reação a uma situação geopolítica concreta em que a OTAN – esta, sim, produto da Guerra Fria – está aproximando sua infraestrutura militar das fronteiras russas, causando apreensão no Kremlin. Se a retórica da OTAN é de parceria com a Rússia, como se justifica a sua expansão para o Leste?

O conteúdo mais assertivo da doutrina é reflexo da ressurgência global da Rússia. O aumento das despesas militares representa a intenção de retomar os investimentos na infraestrutura militar russa – que sofreu um sucateamento nos anos 1990 –, e não um movimento de militarização para a adoção de posturas intervencionistas no cenário internacional, como defendem alguns analistas.

*Bruno Quadros e Quadros é analista internacional, bacharel em relações internacionais pelo Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba) e editor do blog Urbi et Orbi. Artigo escrito originalmente para o Opera Mundi.

Fonte: Opera Mundi.

domingo, 8 de agosto de 2010

Análise: A Guerra de Agosto dois anos depois

800px-2008_South_Ossetia_war_en.svgO dia de hoje (08 de agosto) marca os dois anos do início do conflito que envolveu a Geórgia e Rússia. Enquanto as atenções do mundo estavam direcionadas para os Jogos Olímpicos de Pequim, os dois vizinhos do Cáucaso recorriam à força para resolver a controvérsia concernente ao status das regiões da Ossétia do Sul e da Abcásia. À época, uma poderosa guerra de informação empreendida pelos dois lados impediu uma avaliação sobre quem seria o “agressor” e a “vítima”. Baixada a poeira da guerra, uma comissão independente, chefiada pela diplomata suíça Heidi Tagliavini, elaborou um detalhado relatório buscando recuperar os dados referentes ao conflito. A conclusão do Relatório Tagliavini atribuiu aos dois lados a “culpa” pela guerra: à Geórgia, por ter iniciado os ataques às forças separatistas e às tropas de paz russas na Ossétia do Sul; e à Rússia, por ter provocado os georgianos e por ter respondido desproporcionalmente às investidas de Tbilisi.

Cabe a nós analisar as consequências desse importante conflito para as Relações Internacionais. Primeiro, em um tempo em que predominam os conflitos intraestatas e as chamadas “guerras assimétricas”, a Guerra de Agosto proporcionou um exemplo de conflito convencional clássico envolvendo dois Estados soberanos.

O conflito também foi uma demonstração de força por parte de Moscou, consequência do processo de ressurgência do país como poder mundial a partir dos anos 2000. Se em meados dos anos 1990, o governo de Boris Ieltsin era incapaz de derrotar os separatistas chechenos em seu próprio território, em 2008 a Rússia mostrou capacidade de mobilizar forças para um teatro de operações além de seu território.

A vitória russa garantiu a independêndia de facto das regiões da Ossétia do Sul e da Abcásia. A situação jurídica dessas duas regiões tem sido um dos pontos mais delicados do pós-guerra. A Rússia se vê aqui imersa na sua “síndrome de Kosovo”, alegando que deve ser dado à Ossétia do Sul e à Abcásia o mesmo tratamento que a comunidade internacional deu a Kosovo. O recente parecer da Corte Internacional de Justiça (CIJ) indicando a compatibilidade da independência de Kosovo com o Direito Internacional deve tornar a questão ainda mais incendiária para a estabilidade do Cáucaso e para as relações da Rússia com os Estados Unidos e a União Europeia.

Ao que tudo indica, o desfecho da guerra frustrou os planos de Putin – mas talvez não os de Medvedev – de derrubar o presidente georgiano Mikheil Saakashvili. Esse parece ter sido um dos objetivos da resposta em larga escala que Moscou empreendeu contra todo o território georgiano – e não apenas contra as duas regiões em disputa.

A derrota de Tbilisi sustou os objetivos da política externa ocidentalista do presidente Saakashvili: a adesão da Geórgia à OTAN e, possivelmente, à União Europeia. Ao mesmo tempo, silenciou o mais sério desafio à hegemonia russa sobre o seu “exterior próximo”. Ainda, transmitiu um recado muito claro às potências extrarregionais – nomeadamente, os Estados Unidos – de que elas não podem se imiscuir na região histórica de influência do Kremlin.

Por último, a reação desproporcional da Rússia ao estender as hostilidades por todo o território georgiano deve ser entendida dentro do contexto da geopolítica do petróleo da região. O oleoduto Baku-Tbilisi-Ceyhan (BTC) foi concebido para garantir aos EUA e à Europa Ocidental o acesso às ricas reservas petrolíferas do Azerbaijão sem a necessidade de passar pela Rússia. Logo, as operações russas no território georgiano durante a Guerra de Agosto demonstraram a intenção de Moscou de influir no BTC, um dos mais importantes oleodutos que fazem o “bypass” sobre o território russo.

A Guerra de Agosto e o pós-guerra devem ser precisamente contextualizados na constelação de interesses dos agentes envolvidos. A “política de poder” (power politics) que levou a Rússia e a Geórgia à guerra deve ser entendida como a resultante desses interesses, sejam eles políticos, militares, econômicos ou de prestígio no sistema internacional.

sábado, 10 de julho de 2010

Another BRIC in the wall?



Bruno Hendler [1]


Grandes mercados emergentes, territórios imensos, abundância de recursos naturais, liderança regional. O que faz de Brasil, Rússia, Índia e China um grupo coeso e merecedor de uma sigla tão popular – os BRIC? As oportunidades de cooperação que aparecem para esses quatro países são proporcionais aos desafios encontrados, sejam econômicos, político-diplomáticos ou culturais.

Com nítidas divergências sobre temas como aquecimento global e não-proliferação de armas nucleares, bem como rivalidades históricas e concorrência econômica acirrada em países periféricos, é difícil conceber os BRICs como um bloco integrado e dono de uma política externa convergente, tal qual a União Européia. Ainda assim, a reportagem veiculada pela revista The Economist em abril de 2010 evidencia a crescente relevância destes países no cenário internacional, ora individualmente ora atuando em conjunto. Ser parte do BRIC, segundo a revista, não significa sacrifícios em nome do grupo, mas um benefício subjetivo de ser sinônimo de mudança, crescimento e mercado emergente.

Para o criador da sigla, Jim O'Neill, o grupo é um bom mecanismo para pressionar os países ricos a mudar seu papel na gerência da economia global de forma mais radical. No link, é possível encontrar a matéria completa da The Economist e “dissecar” o quadro interativo que mostra as alianças econômicas e políticas de cada país. No blog do diplomata brasileiro Paulo Roberto de Almeida há, também, alguns artigos aprofundados sobre o assunto.


[1] Bruno Hendler é analista internacional. Bacharel em Relações Internacionais pelo Centro Universitário Curitiba (UniCuritiba). E-mail: bruno_hendler@hotmail.com .

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Humor Internacionalista: O Haiti não é aqui... é no Taiti

A Romênia, no afã de enviar ajuda humanitária ao Haiti pós-terremoto, acabou enviando-a ao Taiti.

Erro geográfico ou ortográfico?

O Google Earth me diz que essa insignificante troca de letrinhas resultou em uma imprecisão de 10 mil quilômetros.

O Taiti pertence à França, que é aliada da Romênia na OTAN. Sorte dos romenos, cujos blindados não foram recebidos a bala em Papeete, mas (talvez pior) por piadas e "blagues" dos habitantes locais -- e com certeza, de boa parte da comunidade internacional.

Curioso? Engraçado? Humilhante? Incrível?

Confira mais aqui:



Em tempo: O vídeo acima é do Russia Today, canal russo em língua inglesa, espanhola e árabe. Desnecessário dizer que a Rússia deve estar dando gargalhadas dessa trapalhada dos romenos na OTAN; e que isso deve estar fazendo o Kremlin se sentir vingado por Bucareste ter ousado sair da "esfera de influência" de Moscou no pós-Guerra Fria.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Sugestões de leituras sobre política russa (Foreign Affairs)


What to Read on Russian Politics

Kathryn Stoner-Weiss

Senior Researcher and Deputy Director at the Center on Democracy, Development, and the Rule of Law at Stanford University’s Freeman Spogli Institute for International Studies.


Summary: An annotated Foreign Affairs syllabus on Russian politics.


Over the last two decades, observers of Russian politics have debated whether or not the country was a democracy under its first president, Boris Yeltsin, and what kind of autocracy it became under his successor, Vladimir Putin. Other key themes have been what exactly happened during the transition from communism and how to characterize the country's post-Soviet economy.

The Rise of Russia and the Fall of the Soviet Empire. By John B. Dunlop. Princeton University Press, 1995.

John Dunlop's account of the demise of the Soviet Union in the late summer and fall of 1991 is incomparable in its attention to detail, and it reveals a different Mikhail Gorbachev than the one usually depicted in the Western press -- portraying him not as a victim of a Keystone Cops coup attempt, but as a possible accomplice in the effort to depose him. Gorbachev might have been waiting to see who would emerge triumphant, Dunlop argues -- the State Committee on the State of Emergency (including members of his own Politburo) or Yeltsin, the newly elected president of the Russian Federation and Gorbachev's political nemesis.

Yeltsin: A Life. By Timothy J. Colton. Basic Books, 2008.

Timothy Colton's sweeping narrative of Yeltsin's life and political battles is unparalleled in its coverage of the political and personal journey of the founder of modern Russia. In Russia, Yeltsin has largely been reviled as a drunkard who conceded too easily to Western demands. He is also often blamed for the economic ills that befell the country in the 1990s. This biography provides a more nuanced view. Yeltsin's critics have argued that Colton is soft on his subject, but the book is actually relatively balanced and worth reading for the insights the author culled from unique interviews with Yeltsin and his family.

First Person: An Astonishingly Frank Self-Portrait by Russia's President. By Vladimir Putin, Nataliya Gevorkyan, Natalya Timakova, and Andrei Kolesnikov. PublicAffairs, 2000.

This is an informative short book of interviews with post-Soviet Russia's second president, offering a window onto his thinking and early career. When Putin was appointed prime minister by Yeltsin in August 1999 and then became acting president five months later, following Yeltsin's unexpected resignation, little was known about him. No books on his life were available, and few Russians had heard of him. To educate the public about its new leader (and help him win election as president in his own right in March 2000), the Kremlin set out to build up Putin's image. A select group of Russian journalists was given access for a series of interviews on Putin's life and beliefs, and this book is the result. Readers learn that Putin was as surprised as anyone to have been named Yeltsin's preferred successor, and he admits to having taken the job only on Yeltsin's insistence. Putin describes his KGB past and says he never quit the Communist Party when the Soviet Union collapsed in 1991, but rather quietly slipped his party card into his desk drawer.

Russia's Unfinished Revolution: Political Change From Gorbachev to Putin. By Michael McFaul. Cornell University Press, 2001.

Michael McFaul's book offers a broader discussion of the development of post-Gorbachev Russian institutions. He analyzes the unintended consequences of the simultaneous political and economic transitions in Russia, and, thanks to unprecedented access to key decisionmakers, the book is replete with insider reflections on the emerging political process. McFaul was recently appointed to the staff of the National Security Council as senior director for Russian and Eurasian affairs, so in addition to offering insights on Russia's difficult path away from communism, his analysis might hold some clues to the Obama administration's future policy toward Russia.

Democracy Derailed in Russia: The Failure of Open Politics. By M. Steven Fish. Cambridge University Press, 2005.

Where McFaul's book is largely an account of the early successes of Russian democracy, M. Steven Fish looks at the failures of the process. He blames them not on inert antidemocratic Russian political culture nor on the structural obstacles highlighted by modernization theory -- that is, the idea that Russian economic development was insufficiently advanced to generate the social changes required to support democracy. Instead, he points to institutional changes during the Yeltsin years, the lack of economic reforms, and the curse of an economy dependent on natural-resource exports.

How Capitalism Was Built: The Transformation of Central and Eastern Europe, Russia, and Central Asia. By Anders Åslund. Cambridge University Press, 2007.

Petrostate: Putin, Power, and the New Russia. By Marshall I. Goldman. Oxford University Press, 2008.

Few good books have been written on the fascinating and unpredictable course of Russian economic development. Two worthy of note, however, are Anders Åslund's How Capitalism Was Built and Marshall Goldman's Petrostate. Åslund is a longtime observer and analyst of the Russian economy who also served as an adviser to Russian policymakers in the early 1990s. His book provides an excellent overview of the uncertain road to economic growth in Eastern Europe in general and Russia in particular. Critics might argue that whatever economic system Russia has today, it is not capitalism, but Åslund provides compelling arguments as to how the system came about by describing the choices and mistakes made over the last 20 years. Goldman's Petrostate, meanwhile, is an account of Russia's largely post-Yeltsin economic boom. Written for a general audience as much as for scholars, the book focuses on Russia's role as the world's second-largest (after Saudi Arabia) exporter of crude oil. Goldman has had good access to policymakers and allows readers to get the flavor of how, say, the Russian gas giant Gazprom functions in practice. The book is particularly interesting to read now, as the country struggles with the drop in oil prices during a global economic recession.


COMENTÁRIOS DO URBI ET ORBI:

Recomendamos, com particular ênfase, o livro-entrevista de Putin Em Primeira Pessoa (em tradução livro do original russo Ot pervogo litsa, já que o livro ainda não foi publicado em português no Brasil), junto com o excelente artigo de Adi Ignatius para a Time (A Tsar is Born), que apresentou Putin como a Pessoa do Ano em 2007.

Digna de recomendação, também, é a obra de Marshall Goldman. Ele é considerado o maior especialista em economia russa e contribui frequentemente com artigos para a Foreign Affairs desde 1963, conforme pode se ver aqui.

Estamos aqui nos restringindo aos aspectos domésticos da Rússia. Considerações a respeito da literatura sobre a política externa da Rússia mereceriam mais umas duas ou três postagens em separado...


Adaptado de Foreign Affairs.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Entrevista de George Friedman ao Valor Econômico: comentários do Urbi et Orbi

E assim caminha a humanidade?

Entrevista: Autor de "Os Próximos 100 Anos" vê futuro mais modesto para o Brasil.
Por Eduardo Graça, para o Valor, de Nova York
Valor Econômico, 23/10/2009

No Texas, agentes americanos fiscalizam a fronteira com o México: "Se os EUA perdessem seus 12 milhões de imigrantes ilegais, a complicação econômica em que se meteria seria enorme", diz Friedman
O Brasil não é um dos protagonistas de "Os Próximos 100 Anos - Uma Previsão para o Século XXI", livro do cientista político George Friedman que acaba de chegar às livrarias brasileiras em edição da Best Business. Para ele, os Bric são mais um acrônimo da moda do que possíveis novas potências globais e o poderio americano está apenas em seu alvorecer. Campeão de vendas nos Estados Unidos, "Os Próximos 100 Anos" é um exercício de futurologia escancarado de Friedman. Aqui, o estrategista ignora o senso comum que pauta suas disputadas análises anuais geopolíticas, lidas atentamente tanto no Pentágono quanto em Wall Street, e investe na imaginação.
Sempre calcado em dados estatísticos, tendências e fatos históricos, Friedman revela um futuro surpreendente. Um século XXI em que o terrorismo islâmico se arrefece, a China se fragmenta e a Turquia, a Polônia e o Japão surgem como novas potências globais, um patamar abaixo dos EUA. Enquanto a Turquia controlará quase todo Oriente Médio, o México se aproveita de sua posição estratégica, com acesso ao Atlântico Norte e ao Pacífico, para se tornar a maior potência latino-americana, pronto para desafiar os EUA na disputa pelo coração do mundo a partir de 2080.
Na bola de cristal de Friedman aparecem ainda o fim de 300 anos de explosão populacional, a valorização do trabalho dos imigrantes e o desenvolvimento de um sistema de energia solar a partir do espaço que eclipsará o petróleo e diminuirá o apelo dos discursos conservacionistas e ambientalistas, assim como de questões como o aquecimento global.
Aos 60 anos, com mais de duas décadas passadas na Universidade de Louisiana, Friedman reclama em "Os Próximos 100 Anos" que a análise política convencional sofre de uma profunda falta de imaginação e lembra, profético: "As mudanças que nos levam em direção às novas eras são sempre chocantes, inesperadas". Há 13 anos ele criou a primeira empresa privada de inteligência do planeta, a Stratfor, por ele definida como uma organização noticiosa que usa inteligência, em vez de métodos jornalísticos, para capturar a informação. Em entrevista ao Valor, o consultor de grandes corporações fala dos desafios do Brasil - que, segundo ele, terá um programa espacial relevante por volta de 2060, ainda que "incompleto e desconectado de uma realidade geopolítica importante" - e das surpresas do cenário mundial em um século que apenas começou.
Friedman: o Brasil "ainda precisa superar muitos obstáculos até que possa, de fato, alterar o balanço global"
Valor: Pelo menos desde os anos 80, com "A Ascensão e Queda das Grandes Potências", do historiador Paul Kennedy, a tese do "mundo pós-americano" é tema constante para a inteligência ocidental. Mais recentemente, a noção ganhou fôlego com o best-seller de Fareed Zakaria. O sr., no entanto, aposta em mais um século americano...
George Friedman: O declínio dos EUA vem sendo previsto antes mesmo de sua emergência e depois do Vietnã todos diziam que ele era irreversível. No entanto, desde 1991, com o fim da União Soviética, eles se tornaram a única superpotência mundial. A história não se move tão rapidamente assim, e estamos falando de uma supremacia de apenas duas décadas. A economia americana responde a cerca de 25% de tudo o que é produzido no planeta, sua armada domina todos os oceanos do mundo. É o único grande poder com acesso tanto ao Atlântico quanto ao Pacífico. E, enquanto o Japão tem 364 pessoas por quilômetro quadrado e a Alemanha, 260, os EUA têm apenas 34. Ao contrário dessas duas grandes economias, os EUA seguirão crescendo em termos populacionais durante todo o século. Ou seja, quando você considera os fatos mais importantes na avaliação da força de um país - atividade econômica, poder militar e demografia -, é impossível pensar em outra potência neste século pronta para desalojar os EUA de sua liderança. O declínio, se acontecer, será lento.
Valor: Mesmo levando-se em conta o baque na economia americana por causa da atual crise financeira global.
Friedman: Há uma tendência em confundir popularidade com poder. Com certeza os EUA se tornaram recentemente mais e mais impopulares, talvez tanto quanto durante a Guerra do Vietnã ou os anos [de Ronald] Reagan. E também há a ilusão de que eventos cíclicos como a atual crise financeira podem ser analisados como grandes mudanças históricas. Admiro Fareed Zakaria, mas discordo quando ele afirma que os chamados Bric [Brasil, Rússia, Índia e China] vão desafiar o poder dos EUA. Esses quatros países têm de crescer estupidamente ao mesmo tempo em que os EUA fiquem estagnados, precisam investir enormemente em seu poderio militar e lidar com problemas sociais gigantescos que os EUA simplesmente não têm. Como é que a Rússia vai resolver seu problema demográfico? E China e Índia, como vencerão a pobreza? E o Brasil, como é que vai superar os revezes da própria localização geográfica e desenvolver Forças Armadas de peso ao mesmo tempo?
Valor: O sr. não crê em um mundo multipolar no século XXI?
Friedman: Minha visão é de que o mundo é sempre multipolar. O que muda são as forças relativas nos dois extremos. Está na moda a ideia dos Bric, mas Brasil, Rússia, Índia e China são países em condições diferentes de crescimento, em estágios de desenvolvimento singulares, com posições diversas no cenário mundial. A Rússia não pode ser comparada a nenhum dos outros Bric. Ela é hoje uma grande exportadora de matéria-prima, não uma potência industrial. Já a China, bem, é um país com muitas faces. Mais de 600 milhões de chineses têm um ganho familiar entre US$ 1 mil e US$ 2 mil por ano. Apenas 60 milhões de 1,3 bilhões de chineses chegam a US$ 20 mil/ano, computando o salário de toda uma família. Mais de 1 bilhão de chineses vivem na mais extrema forma de pobreza. Uma situação semelhante à da Índia, mas aqui temos de levar em conta os vastos problemas de infraestrutura que tornam o desenvolvimento inviável na China.
Valor: Em "Os Próximos 100 Anos" o sr. chega a prever a desintegração do país e um papel menor no cenário mundial para Pequim.
Friedman: A China é uma ilha. Ao Sul, montanhas e florestas. No Sudeste, o Himalaia. No Nordeste, o infinito das estepes. E no Norte, bem, no Norte há a Sibéria. Suas Forças Armadas são voltadas para a segurança interna e sua Marinha nem sequer existe propriamente. Há três características para um poder global: o dinamismo da economia, a estabilidade social e o poderio militar. A China conta com uma economia dinâmica, mas sua estabilidade social é comprometida por profundas divisões internas e suas Forças Armadas não são moldadas para exercer o poder em projeção global. Não creio que a China possa ser um poder global. E acredito que os chineses, que sabem bem de suas características e peculiaridades, já escolheram não ser este poder global.
Valor: O sr. também vê a decadência da Comunidade Europeia. Os europeus, o sr. escreve, lembram os EUA de antes da Guerra Civil. Pode explicar melhor essa comparação?
Friedman: Durante a crise financeira global, a Comunidade Europeia não usou Bruxelas para atacar seus problemas econômicos. Eles foram resolvidos, de forma independente, a partir das capitais de cada país membro. Os alemães não quiseram usar seu dinheiro para salvar bancos irlandeses. A crise serviu para descobrirmos de fato os limites de poder desta instituição chamada Comunidade Europeia. Era assim com os EUA, concebido como uma federação de Estados soberanos, até que os sulistas decidiram se separar da União em 1861. Foi somente depois da guerra, terrível, que a unidade dos EUA foi assegurada. Quem é que estaria preparado para lutar na Europa se a Itália, por exemplo, decidisse sair da União Europeia? Não há Exército comum, não há sequer uma moeda única, com alguns países adotando o euro e outros não. O Mercosul, por exemplo, é uma ideia interessante, desde que se entenda que o Brasil, que fala português e tem uma rica e particular história, vive uma realidade completamente diferente das circunstâncias da Argentina. Tentar criar uma potência que englobe Brasília e Buenos Aires é tão improvável como imaginar uma única Europa.
Valor: Já que falamos da América Latina, uma de suas previsões é a de uma guerra entre EUA e México na sua zona de fronteira, provocada pela imigração em massa, que transformará o sudoeste americano em área de população majoritariamente hispânica. Esse será o tendão de Aquiles dos EUA no século XXI?
Friedman: O problema da imigração ilegal é simples: neste momento os dois países precisam e querem esse fluxo de trabalhadores. Se os EUA perdessem esses 12 milhões de imigrantes ilegais, a complicação econômica em que se meteria seria enorme. Por sua vez, o México precisa do dinheiro enviado pelos trabalhadores vivendo nos EUA. Mas, especialmente para os americanos, essa é uma verdade extremamente impopular. Somente quando o jogo demográfico virar - e os EUA precisarem mais e mais de imigrantes - é que os dois países agirão de fato. Em um mundo onde a escassez de trabalhadores será a regra, e com a economia mexicana produzindo ofertas de trabalho suficientes para sua população, os EUA vão procurar desesperadamente por trabalhadores nos quatro cantos do planeta.
Valor: O sr. acredita que o México vai mesmo superar o Brasil neste século como maior economia latino-americana?
Friedman: O Brasil também é uma ilha, separada por florestas, montanhas e oceanos do resto da América Latina, com uma pequena ponte natural em direção ao Uruguai e à Argentina. O país está crescendo a uma velocidade tremenda, mas segue isolado como poder global e regional, embora não haja dúvida de que é um país importante e sua relevância só tende a aumentar, mas ainda precisa superar muitos obstáculos até que possa, de fato, alterar o balanço global.
Valor: Uma das razões pela qual o Brasil cresce é a necessidade de alimentar o planeta. Mas a revolução agrícola pode ter menos importância neste século se chegarmos à estabilidade demográfica sugerida em seu livro.
Friedman: Essa tendência não será modificada em curto prazo. A população global seguirá crescendo até o fim do século XXI, mas com velocidade progressivamente menor. Projeto que o Brasil, no fim do século, terá desenvolvido sua economia de modo ainda mais diversificado. A revolução da agricultura brasileira foi a alavanca do crescimento do país, mas não será seu sustentáculo. O Brasil vai crescer muito neste século e se diversificar ainda mais.
Valor: Em "Os Próximos 100 Anos" o sr. deixou de lado o aquecimento global. Aposta que o fim da explosão populacional e a exploração de fontes de energias alternativas vão resolver o problema. O discurso conservacionista, que margeia a discussão do desenvolvimento sustentável da Amazônia, por exemplo, seria, em sua visão, menos importante do que a busca incessante por novas fontes de energia?
Friedman: Não acredito que o conservacionismo possa resolver nossos problemas. Não é razoável pedir que se reduza o processo de industrialização do planeta. Os países mais avançados não vão reduzir suas emissões de gás carbônico à custa da redução de seu padrão social e é fantasioso acreditar na possibilidade da diminuição do consumo em escala global. O discurso conservacionista parte da premissa de que haveria uma mudança radical do estilo de vida das populações. Veja bem: ir de bicicleta para o trabalho não fará diferença alguma. O que precisamos é buscar fontes de energia avançadas, que não sejam baseadas em hidrocarbonetos, como o petróleo.
Valor: E o sr. aposta na energia solar...
Friedman: Sim, creio que essa nova fonte de energia será solar, mas gerada no espaço, pois do contrário teríamos de reservar vastas áreas do planeta apenas para os painéis solares, o que seria um desastre ecológico. Um consórcio japonês liderado pela Mitsubishi já começou a desenvolver essa ideia e o investimento impressiona. Nos EUA, a Nasa também tem um projeto nessa direção. Aposto que em 50 anos já enxergaremos a solução: energia solar baseada no espaço.

COMENTÁRIOS

(baseados somente, e somente, na entrevista, e não no livro de Friedman)


1) Embora falar da situação da superpotência norte-americana no século XXI seja um exercício futurológico, há indícios consistentes de que a posição internacional do país sofrerá deslocamentos vis-à-vis às grandes e médias potências. De acordo com a tese do historiador Paul Kennedy, autor do clássico Ascensão e queda das grandes potências e que é citado na matéria acima, a hipertrofia do setor militar (isto é, expressivos gastos em armamentos em relação ao PIB) é uma evidência que aponta para o esgotamento do modelo hegemônico da potência mundial em questão (KENNEDY, 1991). No caso dos EUA, isso é particularmente flagrante, uma vez que o país investiu mais de US$ 607 bilhões em defesa em 2008, 41,5% do total mundial gasto no mesmo ano (SIPRI, 2009, online) e cerca de 4,3% do PIB do país. Washington ainda terá de equacionar outros problemas estruturais que podem afetar a sua trajetória enquanto poder global, como os seus déficits gêmeos (déficit fiscal e déficit em conta corrente), a credibilidade do dólar enquanto moeda internacional, entre outros.
Em resumo, o que se argumenta aqui não é o eclipse dos EUA enquanto potência, mas sim a perda relativa de seu poder e influência perante outros Estados em franca emergência no cenário global nas próximas décadas. Em outras palavras, isto quer dizer que, muito provavalmente, o sistema internacional multipolar do século XXI não permitirá que Washington exerça o tipo de hegemonia inconteste que experimentou no imediato pós-1945 ou na primeira década pós-Guerra Fria.


2) As afirmações de Friedman sobre a Marinha da China são, no mínimo, discutíveis. Gradualmente, a força naval de Pequim tende a expandir a sua cobertura geográfica. Hoje, belonaves chinesas patrulham o Golfo de Aden a fim de proteger os navios comerciais do país das incursões de piratas somalis. Ademais, de acordo com o estudo elaborado pelo perito naval Ronald O'Rourke ao Congresso dos EUA, os objetivos a longo prazo da Marinha chinesa (isto é, aqueles a serem atingidos durante o século XXI) são, entre outros, os de proteger as linhas marítimas de comunicação da China com o Golfo Pérsico (de onde provém parte das importações chinesas de petróleo) e garantir o estatuto da China como grande potência mundial, encorajando seus vizinhos a se alinhar com Pequim e, assim, diminuindo a influência militar dos EUA no Pacífico (O'ROURKE, 2009).

Seguindo o raciocínio de Friedman, a China pode até ser uma "ilha" em termos geográficos, mas está integrada economicamente à maioria de seus vizinhos asiáticos, detalhe que Friedman parece esquecer. Neste contexto, Pequim já possui uma profunda interdependência econômica com Taiwan -- que, no discurso político, é tratada como uma província rebelde --, com quem intercambia mercadorias e investimentos. Há um nítido spillover do fantástico crescimento econômico da China para os países vizinhos, devido a fatores como a proximidade ao mercado chinês e a mão-de-obra mais barata. Dentro desse spillover, já se percebe a tendência chinesa de transferir para países como o Vietnã atividades econômicas de baixo valor agregado, como a produção têxtil e de brinquedos -- os mesmos produtos que fizeram a fama mundial da China como exportador de "bugigangas" nos anos 1970 aos 1990 --, enquanto que Pequim se especializa em atividades altamente intensivas em capital, como a indústria eletrônica, aeroespacial e de informática.


3) George Friedman demonstra na entrevista uma posição conservadora em relação à mudança climática e ao aquecimento global. Apesar de os temas ambientais não serem a minha especialidade, devo dizer que o otimismo de Friedman com relação à conversão da matriz energética mundial, hoje dependente do hidrocarboneto, em direção a fontes renováveis tem certo fundamento se analisarmos os projetos em andamento. No entanto, a implementação de tais projetos em escala comercial e a diminuição da dependência energética do hidrocarboneto ainda levarão décadas para se tornarem a tendência dominante, o que nos obriga a encarar a mudança climática como um tema extremamente urgente da agenda internacional.


REFERÊNCIAS:

KENNEDY, Paul. Ascensão e queda das grandes potências. Rio de Janeiro: Campus, 1991.

O'ROURKE, Ronald. China Naval Modernization: Implications for U.S. Navy Capabilities—Background and Issues for Congress. 23 set. 2009. Disponível em: . Acesso em: 28 out. 2009.

SIPRI (org.). SIPRI Yearbook 2009. 2009. Disponível em: . Acesso em: 28 out. 2009.


Crédito da Foto: Stratfor.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Declaração conjunta russo-israelense ou sobre como os Estados interpretam a História



President of Russia - Official Web Portal - August 18, 2009

Presidents of Russia and Israel condemned attempts to distort the history of World War Two, and deny the crime of the Holocaust and the enormous contribution of the Soviet Union in the victory over Nazi Germany.

Mr Medvedev and Shimon Peres adopted a joint statement in connection with the forthcoming 70th anniversary of the beginning of the Second World War.

The statement by the two presidents expresses their outrage at attempts to deny the enormous contribution of the Soviet Union in the victory over Nazi Germany and question the crime of the Holocaust. The leaders of Russia and Israel call for a strong ‘No’ in response to those who distort the tragic events and main outcome of the Second World War.

The statement notes that Jews fought together with Russians and other peoples of the Soviet Union in the Red Army, an army which played a key role in determining the outcome of the war, and that Russian and Jewish peoples fought together against Hitlerism and racism.

In his statement to journalists, Mr Medvedev emphasized that the distortion of history that favours given political scenarios or the heroization of Nazi collaborators is unacceptable.

According to Shimon Peres, Israel has a special relationship with Russia and will never forget Russia's contribution to the victory over Nazism. If it were not for Russia's participation in the war, the President of Israel said, the world was unlikely to have been able to defeat that threat.



Recebi hoje esta declaração da assessoria de imprensa do Presidente Medvedev, que pode ser acessada no site do Kremlin (http://www.kremlin.ru/eng/text/themes/2009/08/181947_220972.shtml). O que me chamou a atenção no texto é que ele esquece -- muito convenientemente, por sinal -- o arraigado anti-semitismo que existia na antiga União Soviética. Este é mais um exemplo de como os Estados interpretam seletivamente a História de acordo com os seus próprios objetivos políticos. Dessa forma, não é nem um pouco interessante rememorar os pogroms do Império Russo ou o envio de judeus aos gulags stalinistas, tudo em nome da amizade entre Tel-Aviv e Moscou.


* Crédito da Foto:
Getty Images.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

"A Rússia hoje" -- Entrevista exclusiva com Angelo Segrillo (Parte III)


Reproduzimos abaixo a terceira e última parte da entrevista exclusiva concedida por Angelo Segrillo ao blog Urbi et Orbi:


Urbi et Orbi: Medvedev e o presidente norte-americano Barack Obama possuem muitos pontos em comum: ambos são líderes políticos muito jovens [Medvedev tem 43 anos e Obama, 47], detêm larga experiência no mundo acadêmico [Medvedev lecionou na Universidade de São Petersburgo entre 1991 e 1999 e Obama, na Universidade de Chicago entre 1992 e 2004] e são juristas. Como isso pode significar uma mudança nas relações russo-americanas em comparação com o período Putin-Bush?


Angelo Segrillo: Estas similaridades podem contribuir para criar um clima pessoal mais aconchegante entre os dois nas negociações. Não vão mudar a direção dos assuntos, estipulada por fatores objetivos externos, mas podem contribuir para acelerar ou desacelerar os processos que já estão indo em determinada direção.


Urbi et Orbi: Na imprensa brasileira, fala-se muito do potencial geopolítico e econômico dos BRIC's [acrônimo criado por Jim O’Neill, economista do banco de investimentos Goldman Sachs, para descrever as principais economias emergentes do mundo, representadas por Brasil, Rússia, Índia e China]. Quais são as reais perspectivas de avanço na parceria estratégica entre Brasil e Rússia? Quais os campos mais promissores e onde há desacordo entre Brasília e Moscou?


Angelo Segrillo: Apesar da retórica, a distância geográfica e os interesses globais diversos fazem com que o Brasil não seja uma prioridade da política externa russa (a recíproca é verdadeira, mas de maneira mais fraca). Assim, a tendência, se não houver fato novo, é manter um nível relativamente baixo de transações recíprocas, esquentadas de tempos em tempos por fatores conjunturais. Ao Brasil interessa a tecnologia russa aeroespacial, comércio com fertilizantes e equipamente bélico, etc. O Brasil vende principalmente carnes e diferentes produtos agrícolas. Há potencial para um incremento neste nível de trocas.



O momento da publicação desta entrevista reveladora com Angelo Segrillo sobre a Rússia é extremamente oportuno, em meio à visita de Obama a Moscou em 6 de julho e aos protestos internacionais em reação ao assassinato da ativista de direitos humanos russa Nataliya Estemirova.


E você, caro leitor? Qual a sua opinião sobre a situação da Rússia no mundo de hoje? A crise econômica mundial afetará irreversivelmente o crescimento da economia russa, baseado no petróleo? Moscou chegará a um entendimento com Washington na questão do escudo antimíssil na Europa Oriental? Faça seus comentários, afinal, a sua participação é extremamente importante para o nosso blog.


Os créditos da foto são da Getty Images.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

"A Rússia hoje" -- Entrevista exclusiva com Angelo Segrillo (Parte II)

Segue a segunda parte da entrevista exclusiva de Angelo Segrillo ao blog Urbi et Orbi:

Urbi et Orbi: Alguns observadores internacionais têm apontado um suposto "racha" entre o primeiro-ministro Vladimir Putin e o presidente Dimitri Medvedev em questões como direitos humanos e a crise econômica mundial. Isso é mera especulação ou há evidências concretas nesse sentido? Caso se confirme, qual seria o provável desdobramento de um conflito palaciano entre Putin e Medvedev para a política russa?

Angelo Segrillo: No tradicional espectro “ocidentalistas versus eslavófilos” (i.e., os russos pró-Ocidente e os que querem um caminho próprio, independente dos valores ocidentais), Medvedev é um pouco mais ocidentalista que Putin. Além disso, é menos gosudarstvennik (adepto de um estado forte) que Putin. Assim, há sim a possibilidade de diferenças ou mesmo desavenças entre os dois. Mas, por outro lado, são unidos por um longo tempo de convivência e parceria em comum. Assim, até agora a diarquia (com status sênior para Putin) tem funcionado sem grandes rachas e pode chegar ao final do mandato desta maneira. Caso haja um conflito palaciano, as conseqüências podem ser perigosas para a democracia russa, pois pode haver tentação de utilizar instrumentos autoritários para resolver a questão, já que a constituição russa é semipresidencialista e ambos têm poderes fortes em suas esferas de ação (o presidente nas relações exteriores e defesa/segurança e o primeiro-ministro na política interior).


Urbi et Orbi: A Guerra de Agosto de 2008 contra a Geórgia e os desacordos com a Ucrânia a respeito do fornecimento de gás natural demonstraram o quão problemáticas ainda são as relações de Moscou com os Estados pós-soviéticos. Tendo isso em mente, o senhor vê hoje um movimento de atração ou repulsão em relação à hegemonia russa sobre o espaço pós-soviético?

Angelo Segrillo: a relação das outras ex-repúblicas soviéticas com a Rússia tem variado com o tempo. Por exemplo, Belarus esteve muito próxima à Rússia no período Yeltsin e, surpreendentemente, no período Putin tem se afastado. Geórgia e Ucrânia também já estiveram mais próximas e se encontram bem afastadas. As repúblicas da Ásia central têm flutuado bastante no tempo, oscilando entre escoar seus recursos minerais através da rota mais direta para a Europa (através da Rússia) e diversificar sua clientela juntando-se em parcerias com países do Ocidente. Parecem fazer um jogo de gangorra entre Rússia e Ocidente para ver quem lhes oferece mais vantagens.


Os créditos da foto são da Getty Images.
Aguardem a terceira e última parte da entrevista, que será publicada em breve.

domingo, 5 de julho de 2009

"A Rússia hoje" -- Entrevista exclusiva com Angelo Segrillo (Parte I)

Tornou-se lugar comum falar sobre a importância político-estratégica e econômica da Rússia no contexto internacional atual. O Kremlin tem influência em alguns dos temas mais explosivos da agenda mundial, como os programas nucleares do Irã e Coreia do Norte, a expansão da Otan e o sistema antimísseis dos EUA. Além disso, muito se fala de uma aproximação entre a Rússia e o Brasil, com base nas dimensões continentais dos dois países e em possíveis interesses comuns no cenário global.

Dos especialistas brasileiros dedicados aos Estudos Russos, Angelo Segrillo certamente tem um lugar de destaque, já que foi o primeiro historiador brasileiro a ter acesso aos arquivos da União Soviética após o esfacelamento do país em 1991, com artigos e livros publicados sobre os vários aspectos da sociedade russa, entre eles O declínio da URSS: um estudo das causas e Rússia e Brasil em Transformação. Segrillo possui Mestrado em Língua e Literatura Russa pelo Instituto Pushkin de Moscou e Doutorado em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e escreve regularmente para a imprensa brasileira sobre assuntos ligados à Rússia.

O Urbi et Orbi reproduz com exclusividade a primeira parte da entrevista concedida por Angelo Segrillo a este blog sobre a situação doméstica e internacional da Rússia de hoje:

Urbi et Orbi: Os críticos mais exaltados dos governos de Vladimir Putin [2000-2008] e Dimitri Medvedev [2008-...] tendem a retratá-los como uma continuação das práticas administrativas soviéticas, acusando-os de corrupção e autoritarismo. Em que medida as gestões Putin e Medvedev representam uma continuidade e uma ruptura em relação à experiência soviética e à história política russa?

Angelo Segrillo: Putin foi um participante do aparato soviético (de segurança, ainda por cima). Assim, é natural que guardasse certas atitudes da época anterior. Medvedev já é produto de uma nova era, mas como é ligado ao grupo de Putin, mantém atitudes em comum, com um viés um pouco menos dogmático. Mas seria forçar a barra ir muito além na continuidade com o período soviético em si. Talvez o grande fio condutor seja o conceito de gosudarstvennost´, que inclui uma concepção de um estado sólido como condição necessária para o florescimento da sociedade russa. Esta concepção (bem diferente do liberalismo ocidental) vem desde a época czarista, perpassando o período soviético e continuando até os dias atuais. Acho que é sobre esta linha tradicional e antiga russa que se pode estabelecer elementos de continuidade, mais do que simplesmente com o período soviético, que era um período anticapitalista.


Urbi et Orbi: A crise econômica mundial atingiu a Rússia em cheio. O país está enfrentando altas taxas de inflação e o seu principal produto de exportação, o petróleo, está sofrendo uma severa desvalorização no mercado internacional. Quais são as opções na mesa para os líderes russos superarem a dependência do petróleo e diminuírem a vulnerabilidade econômica externa do país?

Angelo Segrillo: A única solução para diminuir a dependência do petróleo, que é uma riqueza tão grande e abundante na Rússia, é a diversificação da economia procurando sair da esfera dos recursos minerais para as manufaturas de maior valor agregado. Não é um caminho fácil devido à dura competição internacional, mas a Rússia tem o principal elemento para caminhar neste sentido: um capital humano de nível educacional alto.

domingo, 21 de junho de 2009

As paradas militares do Dia da Vitória como elemento de análise da política externa da Federação Russa

As comemorações do Dia da Vitória, em 8 de maio, data em que os Aliados derrotaram as forças nazi-fascistas do Eixo na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), estendem-se todos os anos pelo planeta. As gerações mais jovens podem ter dificuldades para apreender o significado da celebração desta data relativamente "remota" para elas. Já para os mais velhos, principalmente aqueles que eram nascidos quando os combates ocorreram, a derrota do nazi-fascismo simbolizou o triunfo da liberdade sobre a tirania corporificada pela Alemanha nazista e seus aliados. À parte as diferentes percepções geracionais sobre o conflito, o fato é que o 64º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial ainda permanece muito presente na memória coletiva dos países que nela participaram, além de fazer parte da trajetória da vida de muitas pessoas.

Em meio às comemorações ao redor do globo, as que são realizadas na Rússia – onde a data é celebrada em 9 de maio – certamente merecem o maior destaque. Em primeiro lugar, em função da contribuição decisiva e do sacrifício humano e material oferecidos pela União Soviética para a derrota dos exércitos de Hitler. O Den' Pobedy, como é conhecido o Dia da Vitória na Rússia, é feriado nacional em todo o país. Desde 1946, a Praça Vermelha tem sido palco de paradas militares no Den' Pobedy, que se tornaram célebres durante a existência da União Soviética pela exibição do que havia de mais moderno nas Forças Armadas soviéticas. Com o esfacelamento do socialismo, as comemorações continuaram de modo mais modesto, condizentes que estavam com a deteriorada situação econômica, social e política da jovem Federação Russa. Os primeiros anos do século XXI contrastaram brutalmente com a década de noventa, na medida em que a Rússia recuperava a sua economia com taxas significativas de crescimento do PIB, proporcionadas pelo aumento no preço do petróleo e do gás natural exportados pelo país. Em 2008, com o presidente Dimitri Medvedev já no poder, a parada do nove de maio foi a primeira desde 1990 a exibir armamentos pesados, como os mísseis balísticos intercontinentais (ICBM's), tão temidos durante a Guerra Fria (O GLOBO, 2008, on-line).

A análise das paradas militares do Dia da Vitória em Moscou nos permite traçar algumas comparações históricas. Durante a Guerra Fria, a natureza fechada do regime socialista obrigava os chamados kremlinólogos (especialistas nas relações políticas dentro do governo da União Soviética) a buscar nos vídeos das paradas do nove de maio evidências, como a posição dos líderes na tribuna de honra e a menção de nomes e cargos nos discursos, a fim de se ter uma ideia da correlação de forças dentro do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), além de analisar o estado de suas Forças Armadas por meio da observação dos armamentos exibidos no desfile. Por outro lado, atualmente o caráter de "vitrine" dos desfiles do nove de maio tem sido incrementado pela maior cobertura dada pela imprensa internacional. Isto permite à Rússia, entre outras coisas: consolidar o sentimento de união nacional com base nas vitórias militares obtidas na Segunda Guerra Mundial; imprimir na população a noção de um Estado forte que zela pela memória histórica e pelo aperfeiçoamento das Forças Armadas enquanto elemento fundamental da segurança nacional; e transmitir mensagens de cunho político a determinados Estados ou à comunidade internacional como um todo. É este último aspecto que abordaremos com mais profundidade a seguir, com base em discursos de autoridades russas e reportagens jornalísticas.

Como adiantado acima, os desfiles também fornecem elementos para a análise da evolução da posição russa com relação aos acontecimentos internacionais que a afetam direta e indiretamente. Comparemos as paradas militares de 2005 e 2009. A primeira ocorreu sob a presidência de Vladimir Putin, enquanto que a segunda se deu sob o mandato de Dimitri Medvedev. Em 2005, as comemorações na Praça Vermelha contaram com a presença de vários líderes nacionais, como George W. Bush (Estados Unidos), Gerhard Schroeder (Alemanha), Jacques Chirac (França), José Luiz Rodríguez Zapatero (Espanha), Sílvio Berlusconi (Itália), Viktor Yushchenko (Ucrânia), Hu Jintao (China), Manmohan Singh (Índia) e Junichiro Koizumi (Japão), e com o desfile de veteranos de guerra dos diversos fronts. Em 2009, por sua vez, os festejos não foram acompanhados por dignitários das outras grandes potências e não contaram com o desfile dos veteranos, restringindo-se às Forças Armadas regulares e apresentando o armamento mais pesado desde o fim da União Soviética (G1, 2009, on-line). Na ocasião, o presidente Medvedev defendeu a composição de um novo e amplo tratado de segurança para a Europa e declarou que a vitória na Segunda Guerra Mundial “é uma lição que ainda é relevante hoje, quando mais uma vez há aqueles que estão interessados em embarcar em aventuras militares” e que “[...] qualquer agressão contra nosso povo encontrará uma resposta adequada [...]” por parte da Rússia (MEDVEDEV, 2009, on-line). Basta lembrarmos que entre 2005 e 2009, ocorreram eventos que deterioraram sensivelmente as relações da Rússia com o Ocidente e especialmente com os Estados Unidos, como o impasse no fornecimento de gás natural à Ucrânia e à Europa Ocidental, as discussões sobre a inclusão da Geórgia e da Ucrânia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a insistência norte-americana na instalação de um escudo antimíssil na Polônia e República Tcheca, a declaração de independência de Kosovo e a Guerra de Agosto de 2008 entre a Rússia e a Geórgia. É dentro deste contexto de desgaste das relações entre o Kremlin e o Ocidente e de ascensão de uma política externa mais assertiva por parte de Moscou que se inserem as diferentes abordagens nas paradas de 2005 e 2009 e a retórica mais inflamada por parte do presidente Medvedev. A comparação também pode ser traçada em outro plano: em 2005, com a presença de chefes de Estado e de governo de vários países, o desfile nos mostra que a vitória sobre o Eixo foi o fruto de um esforço conjunto de uma comunidade de nações, ali presentes para celebrar o feito; já em 2009, a mensagem é radicalmente diferente, de que somente a Rússia foi a responsável pelo triunfo sobre a Alemanha hitlerista, prescindindo desta forma da presença de representantes dos demais Estados na tribuna de honra da parada militar.

O exemplo das paradas militares do Dia da Vitória na Rússia é instrutivo de como os Estados utilizam o poder simbólico e a projeção midiática de eventos específicos para transmitir mensagens de cunho político-diplomático e estratégico-militar aos demais Estados e à comunidade internacional. Com certeza este tema merece um estudo mais aprofundado por parte da academia brasileira de Relações Internacionais.


REFERÊNCIAS:

G1. Medvedev preside maior desfile militar desde a queda da URSS. Disponível em: [http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1114835-5602,00-MEDVEDEV+PRESIDE+MAIOR+DESFILE+MILITAR+DESDE+A+QUEDA+DA+URSS.html]. Acesso em: 10/05/2009.

MEDVEDEV, Dimitri. Speech at Military Parade in Honour of 64th Anniversary of Victory in Great Patriotic War. Disponível em: [http://www.kremlin.ru/eng/speeches/2009/05/09/1501_type127286_216101.shtml]. Acesso em: 10/05/2009.

O GLOBO. Rússia faz primeiro desfile com mísseis na Praça Vermelha desde 1990. Disponível em: [http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2008/05/09/russia_faz_primeiro_desfile_com_misseis_na_praca_vermelha_desde_1990-427298607.asp]. Acesso em: 10/05/2009.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Futebol e Nacionalismo

Como apaixonado por futebol e pelas Relações Internacionais que sou, acabo por inclinar-me naturalmente ao estudo das relações entre estes dois elementos aparentemente incompatíveis (futebol e RI's). Em outras palavras, busco as dimensões em que o futebol deixa de ser um jogo disputado por 22 jogadores e se torna sociologia, história, política, economia e cultura. Não tenho dúvidas de que voltarei a este tema em um futuro próximo, mas hoje tratarei especificamente das interações entre o futebol e o nacionalismo.
Não é preciso ler as obras de Ernest Gellner e Benedict Anderson para perceber que os estádios são um canal de transmissão de nacionalismos. Neste sentido, engana-se quem acha que o futebol -- e, por extensão, o esporte -- pode ser separado da política e também do nacionalismo. Os exemplos da simbiose entre o "esporte bretão" e o nacionalismo abundam ao longo da História, tendo servido de instrumento de legitimação para regimes políticos como os de Hitler, Mussolini, Franco, entre muitos outros, não esquecendo jamais do Brasil de 1970 e da Argentina de 1978. Além disso, foi por meio do futebol que sentimentos nacionalistas longamente reprimidos foram liberados: basta lembrarmos do papel que o FC Barcelona e o Athletic de Bilbao representam para as comunidades catalã e basca, respectivamente.
Eu poderia cansá-los com mais uma dúzia de exemplos, mas me limito a relatar um acontecimento que muito me surpreendeu no ano passado. Foi ao assistir ao jogo entre Rússia e Suécia, na Eurocopa. Quando da execução dos hinos nacionais, os torcedores russos desfraldaram uma gigantesca bandeira com o retrato do tsar Pedro, o Grande. Creio que esta cena, riquíssima em seu significado, passou despercebida à esmagadora maioria dos telespectadores, mas não aos russos e suecos de maior bagagem cultural. Tal bandeira lembrava aos suecos da vitória russa na Batalha de Poltava de 1709, decisiva para o desfecho da Grande Guerra do Norte em favor dos exércitos de Pedro.
Naquele exato momento, convenci-me de que futebol é, antes de tudo, história e cultura. Que não me deixem mentir os presentes ao Estádio Tivoli Neu, em Innsbruck, na Áustria, que por sinal assistiram a outro triunfo da Rússia sobre os suecos.
Crédito da Foto: Anton Denisov, RIA Novosti.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Essa é para quem acha que RI não é divertido!

Essa é para quem ainda acha que as RI's não têm graça.

Com um quê de teatralidade planejada sovieticamente, saiu hoje à tarde a notícia de que Vladimir Putin, que ainda não sabe se é presidente ou primeiro-ministro da Rússia, atirou um dardo tranqüilizante em um tigre siberiano que rondava jornalistas que o observavam -- quem ameaçava mais os jornalistas: Putin ou o tigre?

Há boatos de que o tigre tenha fugido do circo de Tbilisi, capital da Geórgia, em conseqüência da guerra. Chechênia, Litvinenko, Geórgia, o coitado do tigre... quem será agora o alvo da mira certeira da AK-47 de Putin?