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quinta-feira, 16 de julho de 2009

"A Rússia hoje" -- Entrevista exclusiva com Angelo Segrillo (Parte III)


Reproduzimos abaixo a terceira e última parte da entrevista exclusiva concedida por Angelo Segrillo ao blog Urbi et Orbi:


Urbi et Orbi: Medvedev e o presidente norte-americano Barack Obama possuem muitos pontos em comum: ambos são líderes políticos muito jovens [Medvedev tem 43 anos e Obama, 47], detêm larga experiência no mundo acadêmico [Medvedev lecionou na Universidade de São Petersburgo entre 1991 e 1999 e Obama, na Universidade de Chicago entre 1992 e 2004] e são juristas. Como isso pode significar uma mudança nas relações russo-americanas em comparação com o período Putin-Bush?


Angelo Segrillo: Estas similaridades podem contribuir para criar um clima pessoal mais aconchegante entre os dois nas negociações. Não vão mudar a direção dos assuntos, estipulada por fatores objetivos externos, mas podem contribuir para acelerar ou desacelerar os processos que já estão indo em determinada direção.


Urbi et Orbi: Na imprensa brasileira, fala-se muito do potencial geopolítico e econômico dos BRIC's [acrônimo criado por Jim O’Neill, economista do banco de investimentos Goldman Sachs, para descrever as principais economias emergentes do mundo, representadas por Brasil, Rússia, Índia e China]. Quais são as reais perspectivas de avanço na parceria estratégica entre Brasil e Rússia? Quais os campos mais promissores e onde há desacordo entre Brasília e Moscou?


Angelo Segrillo: Apesar da retórica, a distância geográfica e os interesses globais diversos fazem com que o Brasil não seja uma prioridade da política externa russa (a recíproca é verdadeira, mas de maneira mais fraca). Assim, a tendência, se não houver fato novo, é manter um nível relativamente baixo de transações recíprocas, esquentadas de tempos em tempos por fatores conjunturais. Ao Brasil interessa a tecnologia russa aeroespacial, comércio com fertilizantes e equipamente bélico, etc. O Brasil vende principalmente carnes e diferentes produtos agrícolas. Há potencial para um incremento neste nível de trocas.



O momento da publicação desta entrevista reveladora com Angelo Segrillo sobre a Rússia é extremamente oportuno, em meio à visita de Obama a Moscou em 6 de julho e aos protestos internacionais em reação ao assassinato da ativista de direitos humanos russa Nataliya Estemirova.


E você, caro leitor? Qual a sua opinião sobre a situação da Rússia no mundo de hoje? A crise econômica mundial afetará irreversivelmente o crescimento da economia russa, baseado no petróleo? Moscou chegará a um entendimento com Washington na questão do escudo antimíssil na Europa Oriental? Faça seus comentários, afinal, a sua participação é extremamente importante para o nosso blog.


Os créditos da foto são da Getty Images.

domingo, 26 de abril de 2009

Algumas reflexões sobre a concepção do sistema internacional para Henry Kissinger

Em artigo publicado no Washington Post em 22 de abril, o ex-Secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger expôs a sua análise da política externa do Presidente Barack Obama em seus primeiros 100 dias de governo, tratando especificamente dos desafios relacionados ao Irã e à Coreia do Norte (e, por extensão, ao regime de não-proliferação nuclear).

Contudo, o mais interessante do artigo são suas previsões a respeito do sistema internacional (SI). Lá, Kissinger (que é considerado um dos grandes expoentes da vertente realista da Teoria das Relações Internacionais) sintetiza toda a concepção do SI que já havia abordado ao longo de seu célebre livro Diplomacy -- especialmente no primeiro capítulo, em que contrapõe as visões norte-americana e europeia do SI. Segundo suas previsões, o SI das primeiras décadas do século XXI terá vários Estados com "poderes" (ou "capacidades" como querem os neo-realistas) relativamente nivelados, que partilharão as responsabilidades da manutenção da ordem mundial. Até aqui, nada de muito original, pois não é preciso grande exercício profético para perceber que o SI está caminhando rumo à multipolaridade. No entanto, a diferença está na comparação histórica que Kissinger faz entre o possível SI do século XXI e o Concerto Europeu pós-napoleônico. Esta análise, embora ocupe somente algumas linhas do referido artigo, pode ser aprofundada a partir do que Kissinger abordou em Diplomacy.

Eu tive a oportunidade de conhecer Henry Kissinger pessoalmente durante uma conferência internacional sobre o bicentenário das relações diplomáticas entre Rússia e Estados Unidos, que aconteceu em Moscou em novembro de 2007. Na palestra magna que proferiu na Spaso House -- residência do embaixador norte-americano na Rússia, que na ocasião era William J. Burns, hoje Subsecretário de Estado para Assuntos Políticos, o número 3 na hierarquia do Departamento de Estado --, Kissinger falou de sua experiência no trato com os soviéticos e compartilhou suas reflexões a respeito do SI. Perguntei-lhe se, em linhas gerais, o SI das próximas décadas se assentaria sobre bases predominantemente econômicas ou cultural-civilizacionais. Após um aparente embaraço inicial, o qual ele resolveu asseverando que se tratava de sua opinião pessoal (e não uma opinião do ex-funcionário do Departamento de Estado e muito menos um posicionamento do governo dos EUA), Kissinger disse, entre outras coisas, que aspectos políticos seguirão sendo importantes no mundo do futuro, exemplificando que mecanismos como a sanção a um determinado Estado (como o embargo dos EUA a Cuba) continuarão a ser um fator impeditivo para o aprofundamento da interdependência econômica.