
"Urbi et Orbi" significa "a cidade e o mundo" em latim. Para nós, é um espaço privilegiado para a discussão das questões internacionais, em suas múltiplas e inesperadas dimensões. Aqui você terá análises de vários temas, divulgação de eventos e periódicos em RI e comentários sobre a profissão de analista internacional. Criado por e para estudantes de RI, este blog também está aberto a contribuições de especialistas de outras áreas e leigos que se interessem pelos estudos internacionais.
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Análise: A nova doutrina militar da Rússia

domingo, 8 de agosto de 2010
Análise: A Guerra de Agosto dois anos depois
O dia de hoje (08 de agosto) marca os dois anos do início do conflito que envolveu a Geórgia e Rússia. Enquanto as atenções do mundo estavam direcionadas para os Jogos Olímpicos de Pequim, os dois vizinhos do Cáucaso recorriam à força para resolver a controvérsia concernente ao status das regiões da Ossétia do Sul e da Abcásia. À época, uma poderosa guerra de informação empreendida pelos dois lados impediu uma avaliação sobre quem seria o “agressor” e a “vítima”. Baixada a poeira da guerra, uma comissão independente, chefiada pela diplomata suíça Heidi Tagliavini, elaborou um detalhado relatório buscando recuperar os dados referentes ao conflito. A conclusão do Relatório Tagliavini atribuiu aos dois lados a “culpa” pela guerra: à Geórgia, por ter iniciado os ataques às forças separatistas e às tropas de paz russas na Ossétia do Sul; e à Rússia, por ter provocado os georgianos e por ter respondido desproporcionalmente às investidas de Tbilisi.
Cabe a nós analisar as consequências desse importante conflito para as Relações Internacionais. Primeiro, em um tempo em que predominam os conflitos intraestatas e as chamadas “guerras assimétricas”, a Guerra de Agosto proporcionou um exemplo de conflito convencional clássico envolvendo dois Estados soberanos.
O conflito também foi uma demonstração de força por parte de Moscou, consequência do processo de ressurgência do país como poder mundial a partir dos anos 2000. Se em meados dos anos 1990, o governo de Boris Ieltsin era incapaz de derrotar os separatistas chechenos em seu próprio território, em 2008 a Rússia mostrou capacidade de mobilizar forças para um teatro de operações além de seu território.
A vitória russa garantiu a independêndia de facto das regiões da Ossétia do Sul e da Abcásia. A situação jurídica dessas duas regiões tem sido um dos pontos mais delicados do pós-guerra. A Rússia se vê aqui imersa na sua “síndrome de Kosovo”, alegando que deve ser dado à Ossétia do Sul e à Abcásia o mesmo tratamento que a comunidade internacional deu a Kosovo. O recente parecer da Corte Internacional de Justiça (CIJ) indicando a compatibilidade da independência de Kosovo com o Direito Internacional deve tornar a questão ainda mais incendiária para a estabilidade do Cáucaso e para as relações da Rússia com os Estados Unidos e a União Europeia.
Ao que tudo indica, o desfecho da guerra frustrou os planos de Putin – mas talvez não os de Medvedev – de derrubar o presidente georgiano Mikheil Saakashvili. Esse parece ter sido um dos objetivos da resposta em larga escala que Moscou empreendeu contra todo o território georgiano – e não apenas contra as duas regiões em disputa.
A derrota de Tbilisi sustou os objetivos da política externa ocidentalista do presidente Saakashvili: a adesão da Geórgia à OTAN e, possivelmente, à União Europeia. Ao mesmo tempo, silenciou o mais sério desafio à hegemonia russa sobre o seu “exterior próximo”. Ainda, transmitiu um recado muito claro às potências extrarregionais – nomeadamente, os Estados Unidos – de que elas não podem se imiscuir na região histórica de influência do Kremlin.
Por último, a reação desproporcional da Rússia ao estender as hostilidades por todo o território georgiano deve ser entendida dentro do contexto da geopolítica do petróleo da região. O oleoduto Baku-Tbilisi-Ceyhan (BTC) foi concebido para garantir aos EUA e à Europa Ocidental o acesso às ricas reservas petrolíferas do Azerbaijão sem a necessidade de passar pela Rússia. Logo, as operações russas no território georgiano durante a Guerra de Agosto demonstraram a intenção de Moscou de influir no BTC, um dos mais importantes oleodutos que fazem o “bypass” sobre o território russo.
A Guerra de Agosto e o pós-guerra devem ser precisamente contextualizados na constelação de interesses dos agentes envolvidos. A “política de poder” (power politics) que levou a Rússia e a Geórgia à guerra deve ser entendida como a resultante desses interesses, sejam eles políticos, militares, econômicos ou de prestígio no sistema internacional.
sábado, 10 de julho de 2010
Another BRIC in the wall?

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
Humor Internacionalista: O Haiti não é aqui... é no Taiti
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
Sugestões de leituras sobre política russa (Foreign Affairs)

terça-feira, 18 de agosto de 2009
Declaração conjunta russo-israelense ou sobre como os Estados interpretam a História

Presidents of Russia and Israel condemned attempts to distort the history of World War Two, and deny the crime of the Holocaust and the enormous contribution of the Soviet Union in the victory over Nazi Germany.
Mr Medvedev and Shimon Peres adopted a joint statement in connection with the forthcoming 70th anniversary of the beginning of the Second World War.
The statement by the two presidents expresses their outrage at attempts to deny the enormous contribution of the Soviet Union in the victory over Nazi Germany and question the crime of the Holocaust. The leaders of Russia and Israel call for a strong ‘No’ in response to those who distort the tragic events and main outcome of the Second World War.
The statement notes that Jews fought together with Russians and other peoples of the Soviet Union in the Red Army, an army which played a key role in determining the outcome of the war, and that Russian and Jewish peoples fought together against Hitlerism and racism.
In his statement to journalists, Mr Medvedev emphasized that the distortion of history that favours given political scenarios or the heroization of Nazi collaborators is unacceptable.
According to Shimon Peres, Israel has a special relationship with Russia and will never forget Russia's contribution to the victory over Nazism. If it were not for Russia's participation in the war, the President of Israel said, the world was unlikely to have been able to defeat that threat.
* Crédito da Foto: Getty Images.
quinta-feira, 16 de julho de 2009
"A Rússia hoje" -- Entrevista exclusiva com Angelo Segrillo (Parte III)

Reproduzimos abaixo a terceira e última parte da entrevista exclusiva concedida por Angelo Segrillo ao blog Urbi et Orbi:
Urbi et Orbi: Medvedev e o presidente norte-americano Barack Obama possuem muitos pontos em comum: ambos são líderes políticos muito jovens [Medvedev tem 43 anos e Obama, 47], detêm larga experiência no mundo acadêmico [Medvedev lecionou na Universidade de São Petersburgo entre 1991 e 1999 e Obama, na Universidade de Chicago entre 1992 e 2004] e são juristas. Como isso pode significar uma mudança nas relações russo-americanas em comparação com o período Putin-Bush?
Angelo Segrillo: Estas similaridades podem contribuir para criar um clima pessoal mais aconchegante entre os dois nas negociações. Não vão mudar a direção dos assuntos, estipulada por fatores objetivos externos, mas podem contribuir para acelerar ou desacelerar os processos que já estão indo em determinada direção.
Urbi et Orbi: Na imprensa brasileira, fala-se muito do potencial geopolítico e econômico dos BRIC's [acrônimo criado por Jim O’Neill, economista do banco de investimentos Goldman Sachs, para descrever as principais economias emergentes do mundo, representadas por Brasil, Rússia, Índia e China]. Quais são as reais perspectivas de avanço na parceria estratégica entre Brasil e Rússia? Quais os campos mais promissores e onde há desacordo entre Brasília e Moscou?
Angelo Segrillo: Apesar da retórica, a distância geográfica e os interesses globais diversos fazem com que o Brasil não seja uma prioridade da política externa russa (a recíproca é verdadeira, mas de maneira mais fraca). Assim, a tendência, se não houver fato novo, é manter um nível relativamente baixo de transações recíprocas, esquentadas de tempos em tempos por fatores conjunturais. Ao Brasil interessa a tecnologia russa aeroespacial, comércio com fertilizantes e equipamente bélico, etc. O Brasil vende principalmente carnes e diferentes produtos agrícolas. Há potencial para um incremento neste nível de trocas.
O momento da publicação desta entrevista reveladora com Angelo Segrillo sobre a Rússia é extremamente oportuno, em meio à visita de Obama a Moscou em 6 de julho e aos protestos internacionais em reação ao assassinato da ativista de direitos humanos russa Nataliya Estemirova.
E você, caro leitor? Qual a sua opinião sobre a situação da Rússia no mundo de hoje? A crise econômica mundial afetará irreversivelmente o crescimento da economia russa, baseado no petróleo? Moscou chegará a um entendimento com Washington na questão do escudo antimíssil na Europa Oriental? Faça seus comentários, afinal, a sua participação é extremamente importante para o nosso blog.
Os créditos da foto são da Getty Images.
quarta-feira, 8 de julho de 2009
"A Rússia hoje" -- Entrevista exclusiva com Angelo Segrillo (Parte II)
Urbi et Orbi: Alguns observadores internacionais têm apontado um suposto "racha" entre o primeiro-ministro Vladimir Putin e o presidente Dimitri Medvedev em questões como direitos humanos e a crise econômica mundial. Isso é mera especulação ou há evidências concretas nesse sentido? Caso se confirme, qual seria o provável desdobramento de um conflito palaciano entre Putin e Medvedev para a política russa?
Angelo Segrillo: No tradicional espectro “ocidentalistas versus eslavófilos” (i.e., os russos pró-Ocidente e os que querem um caminho próprio, independente dos valores ocidentais), Medvedev é um pouco mais ocidentalista que Putin. Além disso, é menos gosudarstvennik (adepto de um estado forte) que Putin. Assim, há sim a possibilidade de diferenças ou mesmo desavenças entre os dois. Mas, por outro lado, são unidos por um longo tempo de convivência e parceria em comum. Assim, até agora a diarquia (com status sênior para Putin) tem funcionado sem grandes rachas e pode chegar ao final do mandato desta maneira. Caso haja um conflito palaciano, as conseqüências podem ser perigosas para a democracia russa, pois pode haver tentação de utilizar instrumentos autoritários para resolver a questão, já que a constituição russa é semipresidencialista e ambos têm poderes fortes em suas esferas de ação (o presidente nas relações exteriores e defesa/segurança e o primeiro-ministro na política interior).
Urbi et Orbi: A Guerra de Agosto de 2008 contra a Geórgia e os desacordos com a Ucrânia a respeito do fornecimento de gás natural demonstraram o quão problemáticas ainda são as relações de Moscou com os Estados pós-soviéticos. Tendo isso em mente, o senhor vê hoje um movimento de atração ou repulsão em relação à hegemonia russa sobre o espaço pós-soviético?
Angelo Segrillo: a relação das outras ex-repúblicas soviéticas com a Rússia tem variado com o tempo. Por exemplo, Belarus esteve muito próxima à Rússia no período Yeltsin e, surpreendentemente, no período Putin tem se afastado. Geórgia e Ucrânia também já estiveram mais próximas e se encontram bem afastadas. As repúblicas da Ásia central têm flutuado bastante no tempo, oscilando entre escoar seus recursos minerais através da rota mais direta para a Europa (através da Rússia) e diversificar sua clientela juntando-se em parcerias com países do Ocidente. Parecem fazer um jogo de gangorra entre Rússia e Ocidente para ver quem lhes oferece mais vantagens.
Os créditos da foto são da Getty Images.
Aguardem a terceira e última parte da entrevista, que será publicada em breve.
domingo, 21 de junho de 2009
As paradas militares do Dia da Vitória como elemento de análise da política externa da Federação Russa
Em meio às comemorações ao redor do globo, as que são realizadas na Rússia – onde a data é celebrada em 9 de maio – certamente merecem o maior destaque. Em primeiro lugar, em função da contribuição decisiva e do sacrifício humano e material oferecidos pela União Soviética para a derrota dos exércitos de Hitler. O Den' Pobedy, como é conhecido o Dia da Vitória na Rússia, é feriado nacional em todo o país. Desde 1946, a Praça Vermelha tem sido palco de paradas militares no Den' Pobedy, que se tornaram célebres durante a existência da União Soviética pela exibição do que havia de mais moderno nas Forças Armadas soviéticas. Com o esfacelamento do socialismo, as comemorações continuaram de modo mais modesto, condizentes que estavam com a deteriorada situação econômica, social e política da jovem Federação Russa. Os primeiros anos do século XXI contrastaram brutalmente com a década de noventa, na medida em que a Rússia recuperava a sua economia com taxas significativas de crescimento do PIB, proporcionadas pelo aumento no preço do petróleo e do gás natural exportados pelo país. Em 2008, com o presidente Dimitri Medvedev já no poder, a parada do nove de maio foi a primeira desde 1990 a exibir armamentos pesados, como os mísseis balísticos intercontinentais (ICBM's), tão temidos durante a Guerra Fria (O GLOBO, 2008, on-line).
A análise das paradas militares do Dia da Vitória em Moscou nos permite traçar algumas comparações históricas. Durante a Guerra Fria, a natureza fechada do regime socialista obrigava os chamados kremlinólogos (especialistas nas relações políticas dentro do governo da União Soviética) a buscar nos vídeos das paradas do nove de maio evidências, como a posição dos líderes na tribuna de honra e a menção de nomes e cargos nos discursos, a fim de se ter uma ideia da correlação de forças dentro do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), além de analisar o estado de suas Forças Armadas por meio da observação dos armamentos exibidos no desfile. Por outro lado, atualmente o caráter de "vitrine" dos desfiles do nove de maio tem sido incrementado pela maior cobertura dada pela imprensa internacional. Isto permite à Rússia, entre outras coisas: consolidar o sentimento de união nacional com base nas vitórias militares obtidas na Segunda Guerra Mundial; imprimir na população a noção de um Estado forte que zela pela memória histórica e pelo aperfeiçoamento das Forças Armadas enquanto elemento fundamental da segurança nacional; e transmitir mensagens de cunho político a determinados Estados ou à comunidade internacional como um todo. É este último aspecto que abordaremos com mais profundidade a seguir, com base em discursos de autoridades russas e reportagens jornalísticas.
Como adiantado acima, os desfiles também fornecem elementos para a análise da evolução da posição russa com relação aos acontecimentos internacionais que a afetam direta e indiretamente. Comparemos as paradas militares de 2005 e 2009. A primeira ocorreu sob a presidência de Vladimir Putin, enquanto que a segunda se deu sob o mandato de Dimitri Medvedev. Em 2005, as comemorações na Praça Vermelha contaram com a presença de vários líderes nacionais, como George W. Bush (Estados Unidos), Gerhard Schroeder (Alemanha), Jacques Chirac (França), José Luiz Rodríguez Zapatero (Espanha), Sílvio Berlusconi (Itália), Viktor Yushchenko (Ucrânia), Hu Jintao (China), Manmohan Singh (Índia) e Junichiro Koizumi (Japão), e com o desfile de veteranos de guerra dos diversos fronts. Em 2009, por sua vez, os festejos não foram acompanhados por dignitários das outras grandes potências e não contaram com o desfile dos veteranos, restringindo-se às Forças Armadas regulares e apresentando o armamento mais pesado desde o fim da União Soviética (G1, 2009, on-line). Na ocasião, o presidente Medvedev defendeu a composição de um novo e amplo tratado de segurança para a Europa e declarou que a vitória na Segunda Guerra Mundial “é uma lição que ainda é relevante hoje, quando mais uma vez há aqueles que estão interessados em embarcar em aventuras militares” e que “[...] qualquer agressão contra nosso povo encontrará uma resposta adequada [...]” por parte da Rússia (MEDVEDEV, 2009, on-line). Basta lembrarmos que entre 2005 e 2009, ocorreram eventos que deterioraram sensivelmente as relações da Rússia com o Ocidente e especialmente com os Estados Unidos, como o impasse no fornecimento de gás natural à Ucrânia e à Europa Ocidental, as discussões sobre a inclusão da Geórgia e da Ucrânia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a insistência norte-americana na instalação de um escudo antimíssil na Polônia e República Tcheca, a declaração de independência de Kosovo e a Guerra de Agosto de 2008 entre a Rússia e a Geórgia. É dentro deste contexto de desgaste das relações entre o Kremlin e o Ocidente e de ascensão de uma política externa mais assertiva por parte de Moscou que se inserem as diferentes abordagens nas paradas de 2005 e 2009 e a retórica mais inflamada por parte do presidente Medvedev. A comparação também pode ser traçada em outro plano: em 2005, com a presença de chefes de Estado e de governo de vários países, o desfile nos mostra que a vitória sobre o Eixo foi o fruto de um esforço conjunto de uma comunidade de nações, ali presentes para celebrar o feito; já em 2009, a mensagem é radicalmente diferente, de que somente a Rússia foi a responsável pelo triunfo sobre a Alemanha hitlerista, prescindindo desta forma da presença de representantes dos demais Estados na tribuna de honra da parada militar.
O exemplo das paradas militares do Dia da Vitória na Rússia é instrutivo de como os Estados utilizam o poder simbólico e a projeção midiática de eventos específicos para transmitir mensagens de cunho político-diplomático e estratégico-militar aos demais Estados e à comunidade internacional. Com certeza este tema merece um estudo mais aprofundado por parte da academia brasileira de Relações Internacionais.
REFERÊNCIAS:
G1. Medvedev preside maior desfile militar desde a queda da URSS. Disponível em: [http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1114835-5602,00-MEDVEDEV+PRESIDE+MAIOR+DESFILE+MILITAR+DESDE+A+QUEDA+DA+URSS.html]. Acesso em: 10/05/2009.
MEDVEDEV, Dimitri. Speech at Military Parade in Honour of 64th Anniversary of Victory in Great Patriotic War. Disponível em: [http://www.kremlin.ru/eng/speeches/2009/05/09/1501_type127286_216101.shtml]. Acesso em: 10/05/2009.
O GLOBO. Rússia faz primeiro desfile com mísseis na Praça Vermelha desde 1990. Disponível em: [http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2008/05/09/russia_faz_primeiro_desfile_com_misseis_na_praca_vermelha_desde_1990-427298607.asp]. Acesso em: 10/05/2009.