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sábado, 10 de julho de 2010

Another BRIC in the wall?



Bruno Hendler [1]


Grandes mercados emergentes, territórios imensos, abundância de recursos naturais, liderança regional. O que faz de Brasil, Rússia, Índia e China um grupo coeso e merecedor de uma sigla tão popular – os BRIC? As oportunidades de cooperação que aparecem para esses quatro países são proporcionais aos desafios encontrados, sejam econômicos, político-diplomáticos ou culturais.

Com nítidas divergências sobre temas como aquecimento global e não-proliferação de armas nucleares, bem como rivalidades históricas e concorrência econômica acirrada em países periféricos, é difícil conceber os BRICs como um bloco integrado e dono de uma política externa convergente, tal qual a União Européia. Ainda assim, a reportagem veiculada pela revista The Economist em abril de 2010 evidencia a crescente relevância destes países no cenário internacional, ora individualmente ora atuando em conjunto. Ser parte do BRIC, segundo a revista, não significa sacrifícios em nome do grupo, mas um benefício subjetivo de ser sinônimo de mudança, crescimento e mercado emergente.

Para o criador da sigla, Jim O'Neill, o grupo é um bom mecanismo para pressionar os países ricos a mudar seu papel na gerência da economia global de forma mais radical. No link, é possível encontrar a matéria completa da The Economist e “dissecar” o quadro interativo que mostra as alianças econômicas e políticas de cada país. No blog do diplomata brasileiro Paulo Roberto de Almeida há, também, alguns artigos aprofundados sobre o assunto.


[1] Bruno Hendler é analista internacional. Bacharel em Relações Internacionais pelo Centro Universitário Curitiba (UniCuritiba). E-mail: bruno_hendler@hotmail.com .

domingo, 24 de janeiro de 2010

URBI ET ORBI PERGUNTA: o que você achou da prova do Instituto Rio Branco?

A primeira fase do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) foi realizada hoje (domingo, 24 de janeiro de 2010) por cerca de 8.800 candidatos ao redor do Brasil.

Envolvido no temas de interesse da comunidade de Relações Internacionais no País, o blog Urbi et Orbi está interessado em saber a impressão dos aspirantes à carreira diplomática que fizeram a prova
:

1) Qual a sua avaliação da prova? A sua expectativa era de que ela fosse mais fácil ou mais difícil?



2) Em quais disciplinas você encontrou mais dificuldade?



3) O conhecimento obtido no curso de RI foi suficiente para resolvê-la satisfatoriamente? Ou não?



Nós, do Urbi et Orbi, esperamos ansiosamente por sua opinião, seja ela anônima ou identificada.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Edital do Concurso para o Itamaraty (CACD) - 2010


O Instituto Rio Branco (IRBr) e o Centro de Seleção e de Promoção de Eventos da Universidade de Brasília (CESPE/UnB) divulgaram ontem (09 de novembro de 2009) o edital que regerá o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) de 2010. Para acessá-lo, clique aqui.
A publicação do edital saiu bem mais cedo do que nos anos anteriores. A primeira fase do Concurso será realizada na data provável de 24 de janeiro de 2010. As etapas subsequentes acontecerão em fevereiro, abril e maio. Para mais informações, clique aqui.
E já que estamos falando do badaladíssimo concurso para o Instituto Rio Branco/Itamaraty, aproveitamos para sugerir a leitura do excelente FAQ do Candidato a Diplomata, elaborado pelo já diplomata Renato Godinho.


Foto: Divulgação.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O URBI ET ORBI PERGUNTA: o que achou da prova de RI do ENADE?

A prova do ENADE foi realizada hoje (domingo, 08 de novembro de 2009) por estudantes de vários cursos de graduação -- incluindo RI -- em todo o Brasil.

Envolvido no monitoramento do ensino e pesquisa em Relações Internacionais no País, o blog Urbi et Orbi está interessado em saber a impressão de todos os (futuros) analistas internacionais que fizeram ou leram a prova
(para ter acesso a ela, clique aqui):

1) Qual a sua avaliação da prova? Estava bem elaborada?



2) Você considera que os conhecimentos obtidos na universidade foram suficientes para resolvê-la satisfatoriamente?



3) A prova cobria todas as disciplinas do currículo de RI de maneira igual? Ou houve o favorecimento de algumas em detrimento de outras?



Nós, do Urbi et Orbi, esperamos ansiosamente por sua opinião, seja ela anônima ou identificada.

Crédito da Foto: Getty Images.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Entrevista de George Friedman ao Valor Econômico: comentários do Urbi et Orbi

E assim caminha a humanidade?

Entrevista: Autor de "Os Próximos 100 Anos" vê futuro mais modesto para o Brasil.
Por Eduardo Graça, para o Valor, de Nova York
Valor Econômico, 23/10/2009

No Texas, agentes americanos fiscalizam a fronteira com o México: "Se os EUA perdessem seus 12 milhões de imigrantes ilegais, a complicação econômica em que se meteria seria enorme", diz Friedman
O Brasil não é um dos protagonistas de "Os Próximos 100 Anos - Uma Previsão para o Século XXI", livro do cientista político George Friedman que acaba de chegar às livrarias brasileiras em edição da Best Business. Para ele, os Bric são mais um acrônimo da moda do que possíveis novas potências globais e o poderio americano está apenas em seu alvorecer. Campeão de vendas nos Estados Unidos, "Os Próximos 100 Anos" é um exercício de futurologia escancarado de Friedman. Aqui, o estrategista ignora o senso comum que pauta suas disputadas análises anuais geopolíticas, lidas atentamente tanto no Pentágono quanto em Wall Street, e investe na imaginação.
Sempre calcado em dados estatísticos, tendências e fatos históricos, Friedman revela um futuro surpreendente. Um século XXI em que o terrorismo islâmico se arrefece, a China se fragmenta e a Turquia, a Polônia e o Japão surgem como novas potências globais, um patamar abaixo dos EUA. Enquanto a Turquia controlará quase todo Oriente Médio, o México se aproveita de sua posição estratégica, com acesso ao Atlântico Norte e ao Pacífico, para se tornar a maior potência latino-americana, pronto para desafiar os EUA na disputa pelo coração do mundo a partir de 2080.
Na bola de cristal de Friedman aparecem ainda o fim de 300 anos de explosão populacional, a valorização do trabalho dos imigrantes e o desenvolvimento de um sistema de energia solar a partir do espaço que eclipsará o petróleo e diminuirá o apelo dos discursos conservacionistas e ambientalistas, assim como de questões como o aquecimento global.
Aos 60 anos, com mais de duas décadas passadas na Universidade de Louisiana, Friedman reclama em "Os Próximos 100 Anos" que a análise política convencional sofre de uma profunda falta de imaginação e lembra, profético: "As mudanças que nos levam em direção às novas eras são sempre chocantes, inesperadas". Há 13 anos ele criou a primeira empresa privada de inteligência do planeta, a Stratfor, por ele definida como uma organização noticiosa que usa inteligência, em vez de métodos jornalísticos, para capturar a informação. Em entrevista ao Valor, o consultor de grandes corporações fala dos desafios do Brasil - que, segundo ele, terá um programa espacial relevante por volta de 2060, ainda que "incompleto e desconectado de uma realidade geopolítica importante" - e das surpresas do cenário mundial em um século que apenas começou.
Friedman: o Brasil "ainda precisa superar muitos obstáculos até que possa, de fato, alterar o balanço global"
Valor: Pelo menos desde os anos 80, com "A Ascensão e Queda das Grandes Potências", do historiador Paul Kennedy, a tese do "mundo pós-americano" é tema constante para a inteligência ocidental. Mais recentemente, a noção ganhou fôlego com o best-seller de Fareed Zakaria. O sr., no entanto, aposta em mais um século americano...
George Friedman: O declínio dos EUA vem sendo previsto antes mesmo de sua emergência e depois do Vietnã todos diziam que ele era irreversível. No entanto, desde 1991, com o fim da União Soviética, eles se tornaram a única superpotência mundial. A história não se move tão rapidamente assim, e estamos falando de uma supremacia de apenas duas décadas. A economia americana responde a cerca de 25% de tudo o que é produzido no planeta, sua armada domina todos os oceanos do mundo. É o único grande poder com acesso tanto ao Atlântico quanto ao Pacífico. E, enquanto o Japão tem 364 pessoas por quilômetro quadrado e a Alemanha, 260, os EUA têm apenas 34. Ao contrário dessas duas grandes economias, os EUA seguirão crescendo em termos populacionais durante todo o século. Ou seja, quando você considera os fatos mais importantes na avaliação da força de um país - atividade econômica, poder militar e demografia -, é impossível pensar em outra potência neste século pronta para desalojar os EUA de sua liderança. O declínio, se acontecer, será lento.
Valor: Mesmo levando-se em conta o baque na economia americana por causa da atual crise financeira global.
Friedman: Há uma tendência em confundir popularidade com poder. Com certeza os EUA se tornaram recentemente mais e mais impopulares, talvez tanto quanto durante a Guerra do Vietnã ou os anos [de Ronald] Reagan. E também há a ilusão de que eventos cíclicos como a atual crise financeira podem ser analisados como grandes mudanças históricas. Admiro Fareed Zakaria, mas discordo quando ele afirma que os chamados Bric [Brasil, Rússia, Índia e China] vão desafiar o poder dos EUA. Esses quatros países têm de crescer estupidamente ao mesmo tempo em que os EUA fiquem estagnados, precisam investir enormemente em seu poderio militar e lidar com problemas sociais gigantescos que os EUA simplesmente não têm. Como é que a Rússia vai resolver seu problema demográfico? E China e Índia, como vencerão a pobreza? E o Brasil, como é que vai superar os revezes da própria localização geográfica e desenvolver Forças Armadas de peso ao mesmo tempo?
Valor: O sr. não crê em um mundo multipolar no século XXI?
Friedman: Minha visão é de que o mundo é sempre multipolar. O que muda são as forças relativas nos dois extremos. Está na moda a ideia dos Bric, mas Brasil, Rússia, Índia e China são países em condições diferentes de crescimento, em estágios de desenvolvimento singulares, com posições diversas no cenário mundial. A Rússia não pode ser comparada a nenhum dos outros Bric. Ela é hoje uma grande exportadora de matéria-prima, não uma potência industrial. Já a China, bem, é um país com muitas faces. Mais de 600 milhões de chineses têm um ganho familiar entre US$ 1 mil e US$ 2 mil por ano. Apenas 60 milhões de 1,3 bilhões de chineses chegam a US$ 20 mil/ano, computando o salário de toda uma família. Mais de 1 bilhão de chineses vivem na mais extrema forma de pobreza. Uma situação semelhante à da Índia, mas aqui temos de levar em conta os vastos problemas de infraestrutura que tornam o desenvolvimento inviável na China.
Valor: Em "Os Próximos 100 Anos" o sr. chega a prever a desintegração do país e um papel menor no cenário mundial para Pequim.
Friedman: A China é uma ilha. Ao Sul, montanhas e florestas. No Sudeste, o Himalaia. No Nordeste, o infinito das estepes. E no Norte, bem, no Norte há a Sibéria. Suas Forças Armadas são voltadas para a segurança interna e sua Marinha nem sequer existe propriamente. Há três características para um poder global: o dinamismo da economia, a estabilidade social e o poderio militar. A China conta com uma economia dinâmica, mas sua estabilidade social é comprometida por profundas divisões internas e suas Forças Armadas não são moldadas para exercer o poder em projeção global. Não creio que a China possa ser um poder global. E acredito que os chineses, que sabem bem de suas características e peculiaridades, já escolheram não ser este poder global.
Valor: O sr. também vê a decadência da Comunidade Europeia. Os europeus, o sr. escreve, lembram os EUA de antes da Guerra Civil. Pode explicar melhor essa comparação?
Friedman: Durante a crise financeira global, a Comunidade Europeia não usou Bruxelas para atacar seus problemas econômicos. Eles foram resolvidos, de forma independente, a partir das capitais de cada país membro. Os alemães não quiseram usar seu dinheiro para salvar bancos irlandeses. A crise serviu para descobrirmos de fato os limites de poder desta instituição chamada Comunidade Europeia. Era assim com os EUA, concebido como uma federação de Estados soberanos, até que os sulistas decidiram se separar da União em 1861. Foi somente depois da guerra, terrível, que a unidade dos EUA foi assegurada. Quem é que estaria preparado para lutar na Europa se a Itália, por exemplo, decidisse sair da União Europeia? Não há Exército comum, não há sequer uma moeda única, com alguns países adotando o euro e outros não. O Mercosul, por exemplo, é uma ideia interessante, desde que se entenda que o Brasil, que fala português e tem uma rica e particular história, vive uma realidade completamente diferente das circunstâncias da Argentina. Tentar criar uma potência que englobe Brasília e Buenos Aires é tão improvável como imaginar uma única Europa.
Valor: Já que falamos da América Latina, uma de suas previsões é a de uma guerra entre EUA e México na sua zona de fronteira, provocada pela imigração em massa, que transformará o sudoeste americano em área de população majoritariamente hispânica. Esse será o tendão de Aquiles dos EUA no século XXI?
Friedman: O problema da imigração ilegal é simples: neste momento os dois países precisam e querem esse fluxo de trabalhadores. Se os EUA perdessem esses 12 milhões de imigrantes ilegais, a complicação econômica em que se meteria seria enorme. Por sua vez, o México precisa do dinheiro enviado pelos trabalhadores vivendo nos EUA. Mas, especialmente para os americanos, essa é uma verdade extremamente impopular. Somente quando o jogo demográfico virar - e os EUA precisarem mais e mais de imigrantes - é que os dois países agirão de fato. Em um mundo onde a escassez de trabalhadores será a regra, e com a economia mexicana produzindo ofertas de trabalho suficientes para sua população, os EUA vão procurar desesperadamente por trabalhadores nos quatro cantos do planeta.
Valor: O sr. acredita que o México vai mesmo superar o Brasil neste século como maior economia latino-americana?
Friedman: O Brasil também é uma ilha, separada por florestas, montanhas e oceanos do resto da América Latina, com uma pequena ponte natural em direção ao Uruguai e à Argentina. O país está crescendo a uma velocidade tremenda, mas segue isolado como poder global e regional, embora não haja dúvida de que é um país importante e sua relevância só tende a aumentar, mas ainda precisa superar muitos obstáculos até que possa, de fato, alterar o balanço global.
Valor: Uma das razões pela qual o Brasil cresce é a necessidade de alimentar o planeta. Mas a revolução agrícola pode ter menos importância neste século se chegarmos à estabilidade demográfica sugerida em seu livro.
Friedman: Essa tendência não será modificada em curto prazo. A população global seguirá crescendo até o fim do século XXI, mas com velocidade progressivamente menor. Projeto que o Brasil, no fim do século, terá desenvolvido sua economia de modo ainda mais diversificado. A revolução da agricultura brasileira foi a alavanca do crescimento do país, mas não será seu sustentáculo. O Brasil vai crescer muito neste século e se diversificar ainda mais.
Valor: Em "Os Próximos 100 Anos" o sr. deixou de lado o aquecimento global. Aposta que o fim da explosão populacional e a exploração de fontes de energias alternativas vão resolver o problema. O discurso conservacionista, que margeia a discussão do desenvolvimento sustentável da Amazônia, por exemplo, seria, em sua visão, menos importante do que a busca incessante por novas fontes de energia?
Friedman: Não acredito que o conservacionismo possa resolver nossos problemas. Não é razoável pedir que se reduza o processo de industrialização do planeta. Os países mais avançados não vão reduzir suas emissões de gás carbônico à custa da redução de seu padrão social e é fantasioso acreditar na possibilidade da diminuição do consumo em escala global. O discurso conservacionista parte da premissa de que haveria uma mudança radical do estilo de vida das populações. Veja bem: ir de bicicleta para o trabalho não fará diferença alguma. O que precisamos é buscar fontes de energia avançadas, que não sejam baseadas em hidrocarbonetos, como o petróleo.
Valor: E o sr. aposta na energia solar...
Friedman: Sim, creio que essa nova fonte de energia será solar, mas gerada no espaço, pois do contrário teríamos de reservar vastas áreas do planeta apenas para os painéis solares, o que seria um desastre ecológico. Um consórcio japonês liderado pela Mitsubishi já começou a desenvolver essa ideia e o investimento impressiona. Nos EUA, a Nasa também tem um projeto nessa direção. Aposto que em 50 anos já enxergaremos a solução: energia solar baseada no espaço.

COMENTÁRIOS

(baseados somente, e somente, na entrevista, e não no livro de Friedman)


1) Embora falar da situação da superpotência norte-americana no século XXI seja um exercício futurológico, há indícios consistentes de que a posição internacional do país sofrerá deslocamentos vis-à-vis às grandes e médias potências. De acordo com a tese do historiador Paul Kennedy, autor do clássico Ascensão e queda das grandes potências e que é citado na matéria acima, a hipertrofia do setor militar (isto é, expressivos gastos em armamentos em relação ao PIB) é uma evidência que aponta para o esgotamento do modelo hegemônico da potência mundial em questão (KENNEDY, 1991). No caso dos EUA, isso é particularmente flagrante, uma vez que o país investiu mais de US$ 607 bilhões em defesa em 2008, 41,5% do total mundial gasto no mesmo ano (SIPRI, 2009, online) e cerca de 4,3% do PIB do país. Washington ainda terá de equacionar outros problemas estruturais que podem afetar a sua trajetória enquanto poder global, como os seus déficits gêmeos (déficit fiscal e déficit em conta corrente), a credibilidade do dólar enquanto moeda internacional, entre outros.
Em resumo, o que se argumenta aqui não é o eclipse dos EUA enquanto potência, mas sim a perda relativa de seu poder e influência perante outros Estados em franca emergência no cenário global nas próximas décadas. Em outras palavras, isto quer dizer que, muito provavalmente, o sistema internacional multipolar do século XXI não permitirá que Washington exerça o tipo de hegemonia inconteste que experimentou no imediato pós-1945 ou na primeira década pós-Guerra Fria.


2) As afirmações de Friedman sobre a Marinha da China são, no mínimo, discutíveis. Gradualmente, a força naval de Pequim tende a expandir a sua cobertura geográfica. Hoje, belonaves chinesas patrulham o Golfo de Aden a fim de proteger os navios comerciais do país das incursões de piratas somalis. Ademais, de acordo com o estudo elaborado pelo perito naval Ronald O'Rourke ao Congresso dos EUA, os objetivos a longo prazo da Marinha chinesa (isto é, aqueles a serem atingidos durante o século XXI) são, entre outros, os de proteger as linhas marítimas de comunicação da China com o Golfo Pérsico (de onde provém parte das importações chinesas de petróleo) e garantir o estatuto da China como grande potência mundial, encorajando seus vizinhos a se alinhar com Pequim e, assim, diminuindo a influência militar dos EUA no Pacífico (O'ROURKE, 2009).

Seguindo o raciocínio de Friedman, a China pode até ser uma "ilha" em termos geográficos, mas está integrada economicamente à maioria de seus vizinhos asiáticos, detalhe que Friedman parece esquecer. Neste contexto, Pequim já possui uma profunda interdependência econômica com Taiwan -- que, no discurso político, é tratada como uma província rebelde --, com quem intercambia mercadorias e investimentos. Há um nítido spillover do fantástico crescimento econômico da China para os países vizinhos, devido a fatores como a proximidade ao mercado chinês e a mão-de-obra mais barata. Dentro desse spillover, já se percebe a tendência chinesa de transferir para países como o Vietnã atividades econômicas de baixo valor agregado, como a produção têxtil e de brinquedos -- os mesmos produtos que fizeram a fama mundial da China como exportador de "bugigangas" nos anos 1970 aos 1990 --, enquanto que Pequim se especializa em atividades altamente intensivas em capital, como a indústria eletrônica, aeroespacial e de informática.


3) George Friedman demonstra na entrevista uma posição conservadora em relação à mudança climática e ao aquecimento global. Apesar de os temas ambientais não serem a minha especialidade, devo dizer que o otimismo de Friedman com relação à conversão da matriz energética mundial, hoje dependente do hidrocarboneto, em direção a fontes renováveis tem certo fundamento se analisarmos os projetos em andamento. No entanto, a implementação de tais projetos em escala comercial e a diminuição da dependência energética do hidrocarboneto ainda levarão décadas para se tornarem a tendência dominante, o que nos obriga a encarar a mudança climática como um tema extremamente urgente da agenda internacional.


REFERÊNCIAS:

KENNEDY, Paul. Ascensão e queda das grandes potências. Rio de Janeiro: Campus, 1991.

O'ROURKE, Ronald. China Naval Modernization: Implications for U.S. Navy Capabilities—Background and Issues for Congress. 23 set. 2009. Disponível em: . Acesso em: 28 out. 2009.

SIPRI (org.). SIPRI Yearbook 2009. 2009. Disponível em: . Acesso em: 28 out. 2009.


Crédito da Foto: Stratfor.

domingo, 25 de outubro de 2009

Sites sobre Teoria das Relações Internacionais


A fim de incentivar o debate teórico de Relações Internacionais no Brasil, remediar a carência de material e fontes sobre Teoria das Relações Internacionais (TRI) no País e o desinteresse com que a disciplina é tratada na maioria dos cursos de graduação brasileiros, o blog Urbi et Orbi sugere dois sites muito interessantes sobre o assunto:

1) Theory Talks

Criado pelo holandês Peer Schouten, o Theory Talks publica entrevistas com os mais destacados acadêmicos de RI, desde Alexander Wendt, passando por Joseph Nye e indo até Robert Keohane, Immanuel Wallerstein e Stephen Walt. Lá, é possível ter contato com o "estado da arte" de TRI e com os debates mais atualizados em Relações Internacionais. Fonte indispensável para os estudiosos de TRI.


2) International Relations Theory

Embora o layout do site deixe a desejar, ele contém vídeos e artigos de uma extensa lista de teóricos das RI's. Muitos dos artigos elencados no IRT foram publicados em revistas acadêmicas de circulação restrita, indexados em portais como o JSTOR ou o Wiley, e estão disponíveis para a leitura do público interessado.


3) IR Theory

O IR Theory também não prima pelo layout, mas possui uma extensa lista explicativa de paradigmas, abordagens e teorias de Relações Internacionais. Lá, o leitor deparar-se-á com conceitos como a teoria do equilíbrio de poder, imperialismo, institucionalismo neoliberal, realismo periférico e pós-internacionalismo. O autor do site, Mark Beavis, convida os estudiosos a contribuir com a redação de textos e a sugestão de novos conceitos.


Se você conhece mais algum site interessante de TRI, coloque sua sugestão nos comentários. Afinal, este blog é feito com a sua participação!

Crédito da foto: Getty Images.

sábado, 24 de outubro de 2009

Bolsas de estudos no Canadá

A Embaixada do Canadá tem a satisfação de informar que estão abertas as inscrições para o processo seletivo 2009/2010 dos programas de bolsa de estudo do Governo do Canadá, administrados pelo Conselho Internacional de Estudos Canadenses (ICCS/CIEC), destinados a todas as áreas das ciências sociais e humanas, particularmente às disciplinas que favoreçam a pesquisa e o desenvolvimento de cursos no âmbito dos Estudos Canadenses.

Há cinco modalidades de bolsas:

1ª) Bolsa de Pesquisa em Estudos Canadenses (Faculty Research Program - FRP / Bourse de Recherche Brésil – BRB) – visa apoiar professores universitários e/ou pesquisadores, com formação mínima de mestrado, que busquem realizar pesquisa de curta duração sobre o Canadá ou sobre aspectos da relação bilateral Brasil-Canadá e publicação em revistas acadêmicas especializadas.

2ª) Bolsa de Especialização em Estudos Canadenses (Faculty Enrichment Program - FEP / Bourse de complément de spécialisation - BCS) – tem por objetivo fortalecer o conhecimento e a compreensão sobre o Canadá por meio do apoio a professores universitários na elaboração de cursos sobre o Canadá, em sua área de especialização, que serão incorporados de forma regular em sua disciplina.

Para ambos os programas, a bolsa consiste em uma contribuição para a aquisição da passagem aérea internacional (máximo de $2.000,00 dólares canadenses, dependendo da região de destino no Canadá), além de uma subvenção semanal no valor de $900,00 dólares canadenses para as despesas no Canadá, por um período máximo de quatro semanas.

3ª) Bolsa para Pesquisa de Doutorado (Doctoral Student Research Award – DSRA / Bourses de recherche de doctorat – BRD) – tem por objetivo promover o conhecimento e a compreensão sobre o Canadá e o desenvolvimento dos Estudos Canadenses, através do apoio a estudantes de doutorado, matriculados em uma instituição de ensino superior brasileira, que estejam desenvolvendo teses diretamente relacionadas ao Canadá e desejem realizar sua pesquisa em instituições canadenses. A bolsa consiste em uma contribuição para a aquisição da passagem aérea internacional (máximo de $2.000,00 dólares canadenses, dependendo da região de destino no Canadá) e prevê uma subvenção mensal de $1.200,00 dólares canadenses para as despesas de subsistência no Canadá por um período máximo de seis meses, além de um complemento de $300,00 dólares canadenses, após entrega do relatório de pesquisa à Embaixada do Canadá.

O prazo para submissão de candidaturas a esses três primeiros programas encerra-se em 14 de novembro de 2009.

4ª) Bolsa Canada – América Latina – Caribe (Canada – Latin American – Caribbean Awards – CLACA / Bourses Canada – Amérique Latine – Caraïbes – BCALC) - visa apoiar pesquisadores de universidades ou institutos de pesquisas da América Latina e Caribe no desenvolvimento de trabalhos de curta duração, incluindo projetos de pesquisas conjuntos, contribuindo, assim, para a compreensão das relações bilaterais e multilaterais entre o Canadá e a região.

5ª) Redes Internacionais de Pesquisa (International Research Linkages – IRL / Réseaux internationaux de recherche RIR) – favorece a colaboração internacional e o apoio financeiro a equipes de pesquisadores do Canadá e de outros países, com o intuito de organizar seminários ou outras atividades similares que envolvam redes de pesquisa.

O prazo para submissão de candidaturas a esses dois últimos programas encerra-se em 24 de novembro de 2009.

Instruções comuns a todos os programas:

* os candidatos devem ser fluentes em inglês ou francês, idiomas oficiais do Canadá;
* o dossiê de candidatura deve ser preenchido integralmente em inglês ou francês;
* o dossiê de candidatura deve ser apresentado em cinco vias.

As diretrizes específicas de cada programa, bem como os formulários de inscrição encontram-se disponíveis nos sites www.brasil.gc.ca e www.iccs-ciec.ca.

Todas as candidaturas deverão ser encaminhadas para o seguinte endereço:

Embaixada do Canadá
Assessoria para Assuntos de Educação
SES – Quadra 803 Lote 16
70410-900 Brasília, DF

Para informações adicionais, contatar:

Embaixada do Canadá
Assessoria para Assuntos de Educação
academic.bsb@international.gc.ca ou academique.bsb@international.gc.ca
Tel. (61) 3424-5400 R: 3260

Fonte: Mundorama (http://mundorama.net/2009/10/23/evento-bolsas-de-estudos-no-canada/)

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Os "Estados fracassados" e a segurança nacional do Brasil



Os ataques de piratas a embarcações de diversas nacionalidades na costa da Somália, a ressurgência do Talibã no Afeganistão e no Paquistão e a atuação da força de paz das Nações Unidas no Haiti são temas que frequentam os noticiários internacionais dos principais veículos de imprensa do mundo. Todos eles têm mais um ponto em comum: são as mais recentes manifestações do processo de fragilização estatal, redundando eventualmente no surgimento de Estados fracassados.


O fenômeno dos Estados fracassados passou a receber atenção da academia em meados dos anos 1980, com o artigo Why Africa’s Weak States Persist: the Empirical and the Juridical in Statehood (1982) e o livro Quasi-states: sovereignty, international relations and the Third World (1990), ambos de autoria de Robert Jackson, seguidos do artigo Saving failed states (1992), de Gerald Helman e Steven Ratner (ALEXANDRINO, 2008, p.1).


O fim da Guerra Fria agravou a problemática em torno dos Estados fracassados, por uma série de fatores: muitos Estados deixaram de ter a sua economia e seu aparato de segurança financiados por uma das duas superpotências; a legitimidade de muitos deles acabou sendo erodida devido à sua incapacidade de solucionar problemas como a miséria, o desemprego e a criminalidade; e os anos 1990 viram a ascensão (ou o recrudescimento) de rivalidades étnicas e de movimentos separatistas que não existiam ou estavam suspensos durante a Guerra Fria, fazendo com que os alinhamentos políticos deixassem de se pautar em termos ideológicos (como ocorria na Guerra Fria) e passassem a adquirir um matiz predominantemente étnico-nacionalista (QUADROS, p.85 in PENNAFORTE, 2008).


Ademais, os profundos deslocamentos geopolíticos ocorridos na época representaram a quarta onda de criação de Estados no sistema internacional nos últimos duzentos anos (CARMENT, 2003, p.411) . Com efeito, mais de vinte Estados foram criados na Europa Oriental e na Ásia, muitos deles sem qualquer precedente histórico, deixando a impressão de que a autodeterminação inesperadamente “caiu no colo” de diversos povos, conforme observa de forma perspicaz Michael Ignatieff (apud CARMENT, 2003, p.407): “[…] huge sections of the world’s population have won the right of self determination on the cruelest possible terms: they have been simply left to fend for themselves. Not surprisingly, their nation-states are collapsing” .


Durante os anos 1990, o fracasso de Estados era considerado predominantemente como um tema humanitário, pois estava relacionado com problemas como a escassez de alimentos, a proliferação de doenças e o crescimento no número de refugiados, motivando intervenções da comunidade internacional em locais como a Somália (a partir de 1992), o Haiti (a partir de 1993) e Serra Leoa (a partir de 1998). Os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 aos Estados Unidos adicionaram uma dimensão securitária à questão dos Estados fracassados, que passou a se tornar extremamente importante na agenda internacional do início do século XXI. A partir desse momento, o fracasso estatal passou a ser apontado como o foco de atividades desestabilizadoras para o sistema internacional, como o terrorismo, a proliferação de armas de destruição em massa, o narcotráfico e a atuação de máfias e organizações criminosas. Diante disso, a chamada Doutrina Bush identificou os Estados fracassados como a principal ameaça aos EUA, pois, na visão do governo norte-americano, eles eram considerados como o ambiente ideal para o desenvolvimento de redes terroristas.


Em 2002, a National Security Strategy, documento que delineia as metas estratégicas do governo norte-americano, declarou de forma inequívoca que a “America is now threatened less by conquering states than we are by failing ones. We are menaced less by fleets and armies than by catastrophic technologies in the hands of the embittered few” (THE WHITE HOUSE, 2002, p.1). Com efeito, a tendência apontada por Washington constitui a essência do fenômeno dos Estados fracassados, que reside em um fato incomum na história do sistema internacional: a segurança coletiva deixou de ser ameaçada pela rivalidade entre Estados com excesso de poder, passando a ser posta em xeque pelo vácuo de poder em determinados Estados (QUADROS, p.85 in PENNAFORTE, 2008). Em outras palavras, enquanto a maior parte da história das relações internacionais foi a história de conflitos entre Estados com projetos expansionistas concorrentes, hoje se percebe que o fracasso estatal (entendido aqui como a persistência de Estados sem meios de reproduzir as condições para a sua própria sobrevivência) também pode trazer instabilidade no âmbito local, regional e global.


[...]


Também deve ser apontada a escassez de análises da academia brasileira sobre o tema; e os poucos estudos que já existem adotam abordagens diferentes. Gisele Novas do Nascimento (2008, p.149-162) disserta sobre a possibilidade de organizações terroristas adquirirem armas de destruição em massa a partir de Estados fracassados, mas restringe sua análise ao mundo muçulmano. Carlos Alberto Pinto Silva (2007) relaciona a existência dos Estados fracassados com a ascensão de conflitos assimétricos no contexto sul-americano. Fabrício Alexandrino (2008) revisita os princípios que embasam o debate sobre os Estados fracassados e se debruça sobre a noção de construção de Estados (state-building), com base nas ideias de Francis Fukuyama. Bruno Quadros e Quadros (in PENNAFORTE, 2008) traça elementos preliminares para o exame dos efeitos dos Estados fracassados para o Brasil. Leandro Nogueira Monteiro (2006) é autor de um dos estudos mais completos sobre o assunto no Brasil, centrado no processo de construção do conceito de Estado fracassado e suas implicações para a Teoria das Relações Internacionais.


O texto acima é um trecho do artigo Os "Estados fracassados" sob uma visão brasileira: conceituação e elementos para a análise de seus desdobramentos securitários, que apresentei na Conferência Internacional Conjunta ISA-ABRI - "Diversidade e desigualdade na política mundial", realizada na PUC-Rio, no Rio de Janeiro, entre 22 e 24 de julho de 2009. Quem tiver interesse em ler o artigo na íntegra, clique aqui.

* Crédito da foto: Getty Images.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

I Fórum Centro-Oeste de Relações Internacionais (I FoCORI)


Data: 05, 06 e 07 de setembro

Local: Universidade de Brasília (UnB)


O Fórum Centro-Oeste de Relações Internacionais (FoCO RI) propõe-se a ser um novo espaço de fomento à pesquisa acadêmica em Relações Internacionais. A iniciativa procura criar um novo espaço que aproxime profissionais – praticantes, pesquisadores e professores da área – dos estudantes de graduação e pós-graduação. Assim, o FoCO RI almeja servir também como referência para o debate das relações internacionais contemporâneas sob o ângulo da pesquisa.

O evento intenta promover a aproximação entre os diversos centros de estudo na área de Relações Internacionais, além de incentivar o fortalecimento de uma cultura de debate, cooperação e produção acadêmica conjunta entre os estudantes de graduação e pós-graduação de Relações Internacionais de todos estes centros. Busca também estabelecer um espaço capaz de estimular discussões que possam contribuir para o ensino, a pesquisa e a prática profissional na área de relações internacionais no país.

Com a finalidade de alcançar os objetivos propostos, o evento contará com os seguintes trabalhos: mesas redondas, mini-curso e cine-debate durante os quais serão debatidas e apresentadas as várias fontes, técnicas e áreas de pesquisa em Relações Internacionais, com ênfase aos seguintes temas: Filosofia da Ciência, América do Sul, Estados Unidos e Segurança Internacional e BRICS.

A comissão organizadora é composta por estudantes universitários e conta também com a cooperação de professores e de instituições como o Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília e o Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais do Ministério das Relações Exteriores. Faz-se importante ressaltar que, por ser um Fórum, o evento pretende realizar-se anualmente e deverá divulgar gratuitamente por meio eletrônico os principais produtos do evento.


Mais detalhes sobre o evento aqui.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Bolsas de estudos para pós-graduação no Canadá

Encontram-se abertas as inscrições para o Programa Vanier de Bolsas de Estudo de Pós-Graduação no Canadá. Este competitivo programa faz parte da estratégia de desenvolvimento científico-tecnológico e econômico do Canadá e visa atrair e reter estudantes de doutorado que se destaquem por suas realizações em pesquisas de pós-graduação nas áreas de ciências sociais e humanas, ciências naturais, engenharia e saúde, e que tenham capacidade de liderança.

A bolsa é de $50.000,00 dólares canadenses anuais, com duração de, no máximo, três anos e o processo de seleção está aberto a candidatos canadenses e internacionais.


Os candidatos serão avaliados pelo seu desempenho acadêmico e profissional, verificado por meio dos resultados acadêmicos, prêmios e distinções, programa de estudo e potencial contribuição para o avanço do conhecimento, experiências profissionais e acadêmicas relevantes, envolvimento com a comunidade, publicações, apresentações em conferências e cartas de recomendação.


Para concorrer a uma bolsa, os estudantes devem ter sua candidatura apresentada por uma universidade canadense que tenha cotas do Programa Vanier de Bolsas de Estudo de Pós-Graduação do Canadá. Os estudantes internacionais que não estejam matriculados em uma universidade canadense deverão definir em qual departamento e em qual universidade canadense, que esteja inserida no programa de cotas do Programa Vanier, desejam realizar seu doutorado e contatar os responsáveis e professores do referido departamento, manifestando seu interesse em candidatar-se à bolsa. Informações adicionais sobre o Programa Vanier podem ser obtidas no documento anexo, bem como no site www.vanier.gc.ca, incluindo os prazos para submissão de candidaturas.


Informações adicionais podem ser obtidas em:


Embaixada do Canadá


Assessoria para Assuntos de Educação


Tel.: (61) 3424-5425


E-mail: academic.bsb@international.gc.ca


Fonte: http://mundorama.net/2009/08/31/evento-bolsas-de-estudos-para-pos-graduacao-no-canada/

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Periódicos (I)



Esta é a primeira de uma série de postagens que serão feitas nos próximos meses, com indicações de periódicos nacionais e estrangeiros na área de Relações Internacionais. Começaremos pelos mais difundidos em nossa disciplina, o que não impede que tenhamos leitores que ainda não os conheçam. Sugestões são extremamente bem-vindas:

1)
Foreign Affairs
Fundada em 1922 e editada pelo poderoso
think tank norte-americano Council on Foreign Relations, é considerada a mais influente revista acadêmica de Relações Internacionais, com artigos e ensaios de chefes de Estado e personalidades proeminentes no cenário mundial, como George Kennan, Henry Kissinger e Barack Obama.
Idioma: Inglês
Editor: James F. Hoge, Jr.
Periodicidade: Bimensal
ISSN: 0015-7120


2)
Foreign Policy
Fundada em 1970 por Samuel Huntington, entre outros, a Foreign Policy transformou-se em uma revista dedicada ao público mais amplo, focando nas tendências do cenário internacional. Seu
website é alimentado diariamente por vários ensaios e reportagens sobre os aspectos mais instigantes da vida mundial. Vale dar uma olhada no Failed States Index e nos Top 10 sobre as coisas mais curiosas e inesperadas das relações internacionais (Ex: o recente Top 10 sobre as coisas mais loucas já ditas em um discurso na ONU).
Idioma: Inglês
Editor: Moisés Naím
Periodicidade: Bimensal
ISSN: 0015-7228

3)
Revista Brasileira de Política Internacional (RBPI)
Criada em 1958 pelo
Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IBRI), a RBPI foi concebida com a missão de promover a reflexão, a pesquisa e o debate acadêmico sobre relações internacionais e sobre a política exterior do Brasil. É o mais antigo periódico brasileiro sobre o tema e abriga as contribuições da elite intelectual-acadêmica de RI do País.
Idioma: Português (artigos ocasionais em Espanhol e Inglês)
Editor: Antônio Carlos Lessa
Periodicidade: Semestral
ISSN: 0034-7329

Crédito da Foto:
Getty Images

domingo, 19 de julho de 2009

O trabalho da OEA

A revogação da suspensão de Cuba da OEA e a crise política em Honduras têm estado em evidência nos últimos dois meses. Hoje teremos a honra de contar com um provocativo ensaio do analista internacional mexicano Jesus Alejandro Alcantar Salinas, que tem um posicionamento bastante crítico em relação ao papel da OEA no continente e à influência dos Estados Unidos na organização -- Salinas é especialista no estudo da suspensão de Cuba da OEA em 1962. Segue abaixo o ensaio:

Depois de mais de 60 anos de existência, o que a OEA fez de significativo no Continente Americano?
A anulação da “resolução 7”, que suspendeu Cuba da OEA, em 1962, somente confirmou a incompetência da organização e a enorme influência estadunidense nas suas decisões. A revogação da suspensão de Cuba, durante a XXXIX Assembléia Geral, no mês passado, juntamente com a condenação do golpe cívico-militar em Honduras, têm sido, além da Corte Interamericana de Direitos Humanos, os feitos mais importantes da OEA desde a sua criação.
No entanto, as manifestações no assunto cubano e hondurenho apenas foram um “ato simbólico”. Na prática tudo ficou igual. Mas, quem quer atos simbólicos? Mais de 60 anos de vida e a organização interamericana somente tem servido como espaço físico para a mediação de algumas crises e para o envio de algumas missões de observadores eleitorais. E que mais?
A OEA assistiu confortavelmente a todos os golpes na América Latina, a ingerência dos Estados Unidos na região, as crises continentais, o aumento da pobreza, e até os dias atuais não tem cumprido fielmente os princípios e objetivos da Carta Interamericana.
Então, qual é o sentido da sua existência? Por que não condenou os golpes na América Latina no século XX como fez há poucos dias no caso de Honduras? No entanto, não é suficiente somente condenar, precisamos de uma organização mais pragmática, altamente eficiente, que tenha decisões próprias, que seja contundente nas suas resoluções e que as faça valer.
A organização com sede em Washington só tem criado uma burocracia continental que assiste ao embargo econômico que os Estados Unidos mantêm a Cuba há quase 50 anos.
A OEA tem sido um mero instrumento de poder que serve aos interesses do governo estadunidense.
Por isto, não vejo que Cuba tenha sido reticente com a OEA ao se negar em voltar a participar no sistema interamericano. Não há muito sentido em participar. Quase não há benefícios ao participar na organização interamericana. O governo cubano é mais pragmático. As reuniões e discussões que acontecem em Washington podem ser feitas em qualquer lugar sem a necessidade de pertencer à OEA. Cuba está sendo realista.
Independentemente do desfecho da situação em Honduras e do papel de líder que a OEA assumiu no conflito, se esta Organização Internacional quiser ter um papel determinante e ser protagonista nas relações internacionais continentais, terá que trilhar por caminhos diferentes, com decisões independentes e determinantes e sem ingerência de qualquer país.
Acredito que o “novo momento” da política externa dos Estados Unidos pode ser aproveitado para a reformulação de uma OEA que seja muito mais eficiente da que temos visto nas últimas décadas.


Este ensaio nos inspira a fazer várias reflexões. Agora gostaríamos de saber o que o leitor acha sobre o tema. O papel da OEA é pernicioso e atentatório à democracia no continente? É a OEA um "joguete" da política externa dos EUA? Ou o pós-Guerra Fria permitiu uma nova abordagem nas relações entre a OEA, os EUA e os demais Estados americanos? Convidamos você leitor a deixar seus comentários sobre o assunto.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Futebol e Nacionalismo

Como apaixonado por futebol e pelas Relações Internacionais que sou, acabo por inclinar-me naturalmente ao estudo das relações entre estes dois elementos aparentemente incompatíveis (futebol e RI's). Em outras palavras, busco as dimensões em que o futebol deixa de ser um jogo disputado por 22 jogadores e se torna sociologia, história, política, economia e cultura. Não tenho dúvidas de que voltarei a este tema em um futuro próximo, mas hoje tratarei especificamente das interações entre o futebol e o nacionalismo.
Não é preciso ler as obras de Ernest Gellner e Benedict Anderson para perceber que os estádios são um canal de transmissão de nacionalismos. Neste sentido, engana-se quem acha que o futebol -- e, por extensão, o esporte -- pode ser separado da política e também do nacionalismo. Os exemplos da simbiose entre o "esporte bretão" e o nacionalismo abundam ao longo da História, tendo servido de instrumento de legitimação para regimes políticos como os de Hitler, Mussolini, Franco, entre muitos outros, não esquecendo jamais do Brasil de 1970 e da Argentina de 1978. Além disso, foi por meio do futebol que sentimentos nacionalistas longamente reprimidos foram liberados: basta lembrarmos do papel que o FC Barcelona e o Athletic de Bilbao representam para as comunidades catalã e basca, respectivamente.
Eu poderia cansá-los com mais uma dúzia de exemplos, mas me limito a relatar um acontecimento que muito me surpreendeu no ano passado. Foi ao assistir ao jogo entre Rússia e Suécia, na Eurocopa. Quando da execução dos hinos nacionais, os torcedores russos desfraldaram uma gigantesca bandeira com o retrato do tsar Pedro, o Grande. Creio que esta cena, riquíssima em seu significado, passou despercebida à esmagadora maioria dos telespectadores, mas não aos russos e suecos de maior bagagem cultural. Tal bandeira lembrava aos suecos da vitória russa na Batalha de Poltava de 1709, decisiva para o desfecho da Grande Guerra do Norte em favor dos exércitos de Pedro.
Naquele exato momento, convenci-me de que futebol é, antes de tudo, história e cultura. Que não me deixem mentir os presentes ao Estádio Tivoli Neu, em Innsbruck, na Áustria, que por sinal assistiram a outro triunfo da Rússia sobre os suecos.
Crédito da Foto: Anton Denisov, RIA Novosti.