A revogação da suspensão de Cuba da OEA e a crise política em Honduras têm estado em evidência nos últimos dois meses. Hoje teremos a honra de contar com um provocativo ensaio do analista internacional mexicano Jesus Alejandro Alcantar Salinas, que tem um posicionamento bastante crítico em relação ao papel da OEA no continente e à influência dos Estados Unidos na organização -- Salinas é especialista no estudo da suspensão de Cuba da OEA em 1962. Segue abaixo o ensaio:
Depois de mais de 60 anos de existência, o que a OEA fez de significativo no Continente Americano? A anulação da “resolução 7”, que suspendeu Cuba da OEA, em 1962, somente confirmou a incompetência da organização e a enorme influência estadunidense nas suas decisões. A revogação da suspensão de Cuba, durante a XXXIX Assembléia Geral, no mês passado, juntamente com a condenação do golpe cívico-militar em Honduras, têm sido, além da Corte Interamericana de Direitos Humanos, os feitos mais importantes da OEA desde a sua criação. No entanto, as manifestações no assunto cubano e hondurenho apenas foram um “ato simbólico”. Na prática tudo ficou igual. Mas, quem quer atos simbólicos? Mais de 60 anos de vida e a organização interamericana somente tem servido como espaço físico para a mediação de algumas crises e para o envio de algumas missões de observadores eleitorais. E que mais? A OEA assistiu confortavelmente a todos os golpes na América Latina, a ingerência dos Estados Unidos na região, as crises continentais, o aumento da pobreza, e até os dias atuais não tem cumprido fielmente os princípios e objetivos da Carta Interamericana. Então, qual é o sentido da sua existência? Por que não condenou os golpes na América Latina no século XX como fez há poucos dias no caso de Honduras? No entanto, não é suficiente somente condenar, precisamos de uma organização mais pragmática, altamente eficiente, que tenha decisões próprias, que seja contundente nas suas resoluções e que as faça valer. A organização com sede em Washington só tem criado uma burocracia continental que assiste ao embargo econômico que os Estados Unidos mantêm a Cuba há quase 50 anos. A OEA tem sido um mero instrumento de poder que serve aos interesses do governo estadunidense. Por isto, não vejo que Cuba tenha sido reticente com a OEA ao se negar em voltar a participar no sistema interamericano. Não há muito sentido em participar. Quase não há benefícios ao participar na organização interamericana. O governo cubano é mais pragmático. As reuniões e discussões que acontecem em Washington podem ser feitas em qualquer lugar sem a necessidade de pertencer à OEA. Cuba está sendo realista. Independentemente do desfecho da situação em Honduras e do papel de líder que a OEA assumiu no conflito, se esta Organização Internacional quiser ter um papel determinante e ser protagonista nas relações internacionais continentais, terá que trilhar por caminhos diferentes, com decisões independentes e determinantes e sem ingerência de qualquer país. Acredito que o “novo momento” da política externa dos Estados Unidos pode ser aproveitado para a reformulação de uma OEA que seja muito mais eficiente da que temos visto nas últimas décadas.
Este ensaio nos inspira a fazer várias reflexões. Agora gostaríamos de saber o que o leitor acha sobre o tema. O papel da OEA é pernicioso e atentatório à democracia no continente? É a OEA um "joguete" da política externa dos EUA? Ou o pós-Guerra Fria permitiu uma nova abordagem nas relações entre a OEA, os EUA e os demais Estados americanos? Convidamos você leitor a deixar seus comentários sobre o assunto.
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