domingo, 16 de agosto de 2009

Uma breve introdução aos partidos políticos mexicanos

Jesús Alejandro Alcantar Salinas*

No México são três os principais partidos políticos que repartem o poder: o PRI [Partido Revolucionario Institucional], o PRD [Partido de la Revolución Democrática] e o PAN [Partido Acción Nacional]. Há, também, outros partidos, porém, de pouca representação. Alguns deles são: o PT [Partido del Trabajo] e o Partido Verde Ecologista.
O PRI esteve na presidência do país durante mais de 70 anos sem interrupção alguma. Somente nas eleições federais do ano 2000 deixou “Los Pinos” [a residência do presidente mexicano]. É considerado um partido de centro, mas durante o transcurso dos anos tem adotado posturas muito liberais e outras mais de “esquerda”. Foi no governo priista de Carlos Salinas de Gortari (1988-1994) que foi assinado o “Tratado de Libre Comercio de América del Norte” ou NAFTA.
O PRD foi fundado no fim da década de 1980 por Cuauhtemoc Cárdenas, filho do ex-presidente mexicano Lázaro Cárdenas. No partido há diferentes correntes da “esquerda” mexicana. Nas ultimas eleições federais (2006), no momento de maior auge do partido, o candidato Andrés Manuel López Obrador perdeu por menos de 0,6% dos votos para o PAN.
O PAN foi fundado no fim da década de 1930 e o atual presidente mexicano, Felipe Calderón, pertence a este partido. É um grupo político de “direita”, mas dentro do partido há correntes de centro e de “extrema direita”. Tradicionalmente é ligado à Igreja Católica.
Nas eleições para presidente do ano 2000, o PAN foi a surpresa. A população mexicana elegeu o candidato panista Vicente Fox. Esta foi a melhor e única opção que os eleitores encontraram para poder tirar o PRI do poder. Após mais de sete décadas, o poder mudou de mãos. Aquelas foram umas eleições históricas!
Porém, o governo de Fox (2000-2006) passou com poucas conquistas. Foi um período sem grandes ações e muito controvertido pelas inumeráveis gafes do ex-presidente mexicano. Muito pelo contrário, teve uma política externa desastrada e muito alinhada com os interesses dos Estados Unidos. Teve vários impasses diplomáticos, entre eles com Cuba e Venezuela. A esperança de mudança em relação aos feitos do PRI nunca chegou. Foi mais um governo pouco marcante e sem avanços significativos.
A atual administração de Felipe Calderón (2006-2012) tem demonstrado algo diferente (ele pertence a um grupo menos radical e mais pragmático dentro do seu partido). Tem sido adotada uma política externa mais responsável e marcante, as políticas macroeconômicas não têm sido tão liberais quanto se esperava (com algumas exceções) e inclusive têm sido colocados em prática alguns projetos sociais que tinham sido idealizados por partidos políticos de “esquerda”. A principal “bandeira” deste governo tem sido a guerra ao tráfico de drogas.
No entanto, o aumento da violência gerada pelos confrontos entre cartéis de traficantes, polícia e exército e a má reputação do governo de Vicente Fox e outros governos estaduais em mãos dos panistas têm debilitado o Partido Acción Nacional.
O golpe mais forte ao PAN aconteceu nas eleições legislativas de 5 de julho passado, quando perdeu a maioria no Congresso. Mas Calderón e o seu partido perderem margem de manobra na política nacional não foi a principal surpresa. O que ninguém poderia imaginar há alguns anos no país aconteceu: o PRI se converteu novamente em maioria.
Após as eleições de julho, o PRI reapareceu fortalecido, não só por ter conseguido a maioria no Congresso Nacional, mas pelo fato de o PAN e o PRD, por causa da derrota e de vários assuntos internos e externos, estarem muito fragilizados.
Neste momento, o Partido Acción Nacional e o Partido de la Revolución Democrática estão muito divididos. Há uma disputa interna pelo poder dos partidos e as diferentes correntes estão se enfrentando e se responsabilizando pela derrota nas eleições. Nos dois partidos tem havido expulsões, mudanças de cargos internos e há amplos debates quanto ao seu rumo e objetivos.
Paralelamente à violência provocada pela guerra ao tráfico de drogas, estão os prejuízos da crise financeira e da gripe suína no país (queda do PIB) e a queda da produção da PEMEX [estatal mexicana do petróleo] e por consequência do orçamento do governo federal. Sem dúvida alguma, com tudo isto, o mais afetado será o PAN.
Portanto, uma coisa é certa: as eleições federais de 2012 vão ser disputadas, sem um partido político como favorito. Mas o PRI, como forca reestruturada, terá uma oportunidade real de disputar o poder. Da gestão atual do PAN vai depender muito o resultado que colocará um novo presidente no México daqui a três anos. Só resta esperar para poder ver e analisar o comportamento, as estratégias e os resultados dos três principais partidos políticos mexicanos que irão disputar a presidência da República em 2012.

* Analista internacional mexicano, é especialista nos assuntos relacionados à OEA e observador do cenário partidário e da política externa do México.

** Os créditos da foto são da Getty Images.

4 comentários:

Bruno Quadros e Quadros disse...

É interessante notar como o "timing" desse post é oportuno, já que o presidente Felipe Calderón faz uma visita de Estado ao Brasil neste exato momento.

Bruno Quadros e Quadros disse...

Jesús,

Apesar de você observar que a política externa de Calderón é menos alinhada aos EUA do que a de Fox, é curioso ver que o México foi um dos únicos países da América Latina a apoiar abertamente o acordo de cooperação militar que a Colômbia assinou com o Washington, o que é devido à feroz luta que Bogotá e Cidade do México mantém contra o narcotráfico. Um belo exemplo de como os constrangimentos domésticos moldam a atuação externa de um país.

Bruno Quadros e Quadros disse...

Outra coisa: gostaria de dizer que acho muito importante estudarmos melhor o México aqui no Brasil. E não só por se tratar de outro grande país da América Latina, mas sobretudo devido à notável participação mexicana na economia brasileira, em setores como telecomunicações (América Móvil), bebidas (FEMSA) e alimentício (Bimbo).

Anônimo disse...

Concordo plenamente. Os constrangimentos domésticos moldam a política externa de um país. Calderón, apesar de afirmar que nunca vai permitir ações militares estadunidenses no México, disse ser "razoavel" a preocupação dos países da América do Sul com o acordo de cooperação militar entre Bogota e Washington, porém também disse respeitar a decisão colombiana. Creio que ele foi diplomático nas suas declarações.

Jesús Alejandro Alcantar Salinas.