sábado, 21 de março de 2009

Futebol e Nacionalismo - II

Gostaria de compartilhar alguns comentários adicionais sobre a relação entre o futebol e o nacionalismo, assunto que iniciei ontem.
Na postagem anterior, relatei o episódio em que torcedores russos fizeram uma provocação a seus homólogos suecos relembrando uma grande vitória militar de seu país, ocorrida há três séculos. É incrível como o orgulho nacional de um povo pode sustentar uma memória histórica tão sólida e vasta! Penso se algo parecido poderia acontecer no Brasil. É como se nós hasteássemos um gigantesco retrato do Almirante Barroso em uma partida contra o Paraguai, relembrando aos paraguaios a vitória brasileira na Batalha do Riachuelo (1865); ou, ainda, é como se nós desfraldássemos, em pleno estádio Maracanã, uma cópia (em tamanho natural) do óleo sobre tela de Victor Meirelles retratando a Batalha dos Guararapes (1648/1649) em um jogo contra os holandeses.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Futebol e Nacionalismo

Como apaixonado por futebol e pelas Relações Internacionais que sou, acabo por inclinar-me naturalmente ao estudo das relações entre estes dois elementos aparentemente incompatíveis (futebol e RI's). Em outras palavras, busco as dimensões em que o futebol deixa de ser um jogo disputado por 22 jogadores e se torna sociologia, história, política, economia e cultura. Não tenho dúvidas de que voltarei a este tema em um futuro próximo, mas hoje tratarei especificamente das interações entre o futebol e o nacionalismo.
Não é preciso ler as obras de Ernest Gellner e Benedict Anderson para perceber que os estádios são um canal de transmissão de nacionalismos. Neste sentido, engana-se quem acha que o futebol -- e, por extensão, o esporte -- pode ser separado da política e também do nacionalismo. Os exemplos da simbiose entre o "esporte bretão" e o nacionalismo abundam ao longo da História, tendo servido de instrumento de legitimação para regimes políticos como os de Hitler, Mussolini, Franco, entre muitos outros, não esquecendo jamais do Brasil de 1970 e da Argentina de 1978. Além disso, foi por meio do futebol que sentimentos nacionalistas longamente reprimidos foram liberados: basta lembrarmos do papel que o FC Barcelona e o Athletic de Bilbao representam para as comunidades catalã e basca, respectivamente.
Eu poderia cansá-los com mais uma dúzia de exemplos, mas me limito a relatar um acontecimento que muito me surpreendeu no ano passado. Foi ao assistir ao jogo entre Rússia e Suécia, na Eurocopa. Quando da execução dos hinos nacionais, os torcedores russos desfraldaram uma gigantesca bandeira com o retrato do tsar Pedro, o Grande. Creio que esta cena, riquíssima em seu significado, passou despercebida à esmagadora maioria dos telespectadores, mas não aos russos e suecos de maior bagagem cultural. Tal bandeira lembrava aos suecos da vitória russa na Batalha de Poltava de 1709, decisiva para o desfecho da Grande Guerra do Norte em favor dos exércitos de Pedro.
Naquele exato momento, convenci-me de que futebol é, antes de tudo, história e cultura. Que não me deixem mentir os presentes ao Estádio Tivoli Neu, em Innsbruck, na Áustria, que por sinal assistiram a outro triunfo da Rússia sobre os suecos.
Crédito da Foto: Anton Denisov, RIA Novosti.