domingo, 21 de junho de 2009

As paradas militares do Dia da Vitória como elemento de análise da política externa da Federação Russa

As comemorações do Dia da Vitória, em 8 de maio, data em que os Aliados derrotaram as forças nazi-fascistas do Eixo na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), estendem-se todos os anos pelo planeta. As gerações mais jovens podem ter dificuldades para apreender o significado da celebração desta data relativamente "remota" para elas. Já para os mais velhos, principalmente aqueles que eram nascidos quando os combates ocorreram, a derrota do nazi-fascismo simbolizou o triunfo da liberdade sobre a tirania corporificada pela Alemanha nazista e seus aliados. À parte as diferentes percepções geracionais sobre o conflito, o fato é que o 64º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial ainda permanece muito presente na memória coletiva dos países que nela participaram, além de fazer parte da trajetória da vida de muitas pessoas.

Em meio às comemorações ao redor do globo, as que são realizadas na Rússia – onde a data é celebrada em 9 de maio – certamente merecem o maior destaque. Em primeiro lugar, em função da contribuição decisiva e do sacrifício humano e material oferecidos pela União Soviética para a derrota dos exércitos de Hitler. O Den' Pobedy, como é conhecido o Dia da Vitória na Rússia, é feriado nacional em todo o país. Desde 1946, a Praça Vermelha tem sido palco de paradas militares no Den' Pobedy, que se tornaram célebres durante a existência da União Soviética pela exibição do que havia de mais moderno nas Forças Armadas soviéticas. Com o esfacelamento do socialismo, as comemorações continuaram de modo mais modesto, condizentes que estavam com a deteriorada situação econômica, social e política da jovem Federação Russa. Os primeiros anos do século XXI contrastaram brutalmente com a década de noventa, na medida em que a Rússia recuperava a sua economia com taxas significativas de crescimento do PIB, proporcionadas pelo aumento no preço do petróleo e do gás natural exportados pelo país. Em 2008, com o presidente Dimitri Medvedev já no poder, a parada do nove de maio foi a primeira desde 1990 a exibir armamentos pesados, como os mísseis balísticos intercontinentais (ICBM's), tão temidos durante a Guerra Fria (O GLOBO, 2008, on-line).

A análise das paradas militares do Dia da Vitória em Moscou nos permite traçar algumas comparações históricas. Durante a Guerra Fria, a natureza fechada do regime socialista obrigava os chamados kremlinólogos (especialistas nas relações políticas dentro do governo da União Soviética) a buscar nos vídeos das paradas do nove de maio evidências, como a posição dos líderes na tribuna de honra e a menção de nomes e cargos nos discursos, a fim de se ter uma ideia da correlação de forças dentro do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), além de analisar o estado de suas Forças Armadas por meio da observação dos armamentos exibidos no desfile. Por outro lado, atualmente o caráter de "vitrine" dos desfiles do nove de maio tem sido incrementado pela maior cobertura dada pela imprensa internacional. Isto permite à Rússia, entre outras coisas: consolidar o sentimento de união nacional com base nas vitórias militares obtidas na Segunda Guerra Mundial; imprimir na população a noção de um Estado forte que zela pela memória histórica e pelo aperfeiçoamento das Forças Armadas enquanto elemento fundamental da segurança nacional; e transmitir mensagens de cunho político a determinados Estados ou à comunidade internacional como um todo. É este último aspecto que abordaremos com mais profundidade a seguir, com base em discursos de autoridades russas e reportagens jornalísticas.

Como adiantado acima, os desfiles também fornecem elementos para a análise da evolução da posição russa com relação aos acontecimentos internacionais que a afetam direta e indiretamente. Comparemos as paradas militares de 2005 e 2009. A primeira ocorreu sob a presidência de Vladimir Putin, enquanto que a segunda se deu sob o mandato de Dimitri Medvedev. Em 2005, as comemorações na Praça Vermelha contaram com a presença de vários líderes nacionais, como George W. Bush (Estados Unidos), Gerhard Schroeder (Alemanha), Jacques Chirac (França), José Luiz Rodríguez Zapatero (Espanha), Sílvio Berlusconi (Itália), Viktor Yushchenko (Ucrânia), Hu Jintao (China), Manmohan Singh (Índia) e Junichiro Koizumi (Japão), e com o desfile de veteranos de guerra dos diversos fronts. Em 2009, por sua vez, os festejos não foram acompanhados por dignitários das outras grandes potências e não contaram com o desfile dos veteranos, restringindo-se às Forças Armadas regulares e apresentando o armamento mais pesado desde o fim da União Soviética (G1, 2009, on-line). Na ocasião, o presidente Medvedev defendeu a composição de um novo e amplo tratado de segurança para a Europa e declarou que a vitória na Segunda Guerra Mundial “é uma lição que ainda é relevante hoje, quando mais uma vez há aqueles que estão interessados em embarcar em aventuras militares” e que “[...] qualquer agressão contra nosso povo encontrará uma resposta adequada [...]” por parte da Rússia (MEDVEDEV, 2009, on-line). Basta lembrarmos que entre 2005 e 2009, ocorreram eventos que deterioraram sensivelmente as relações da Rússia com o Ocidente e especialmente com os Estados Unidos, como o impasse no fornecimento de gás natural à Ucrânia e à Europa Ocidental, as discussões sobre a inclusão da Geórgia e da Ucrânia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a insistência norte-americana na instalação de um escudo antimíssil na Polônia e República Tcheca, a declaração de independência de Kosovo e a Guerra de Agosto de 2008 entre a Rússia e a Geórgia. É dentro deste contexto de desgaste das relações entre o Kremlin e o Ocidente e de ascensão de uma política externa mais assertiva por parte de Moscou que se inserem as diferentes abordagens nas paradas de 2005 e 2009 e a retórica mais inflamada por parte do presidente Medvedev. A comparação também pode ser traçada em outro plano: em 2005, com a presença de chefes de Estado e de governo de vários países, o desfile nos mostra que a vitória sobre o Eixo foi o fruto de um esforço conjunto de uma comunidade de nações, ali presentes para celebrar o feito; já em 2009, a mensagem é radicalmente diferente, de que somente a Rússia foi a responsável pelo triunfo sobre a Alemanha hitlerista, prescindindo desta forma da presença de representantes dos demais Estados na tribuna de honra da parada militar.

O exemplo das paradas militares do Dia da Vitória na Rússia é instrutivo de como os Estados utilizam o poder simbólico e a projeção midiática de eventos específicos para transmitir mensagens de cunho político-diplomático e estratégico-militar aos demais Estados e à comunidade internacional. Com certeza este tema merece um estudo mais aprofundado por parte da academia brasileira de Relações Internacionais.


REFERÊNCIAS:

G1. Medvedev preside maior desfile militar desde a queda da URSS. Disponível em: [http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1114835-5602,00-MEDVEDEV+PRESIDE+MAIOR+DESFILE+MILITAR+DESDE+A+QUEDA+DA+URSS.html]. Acesso em: 10/05/2009.

MEDVEDEV, Dimitri. Speech at Military Parade in Honour of 64th Anniversary of Victory in Great Patriotic War. Disponível em: [http://www.kremlin.ru/eng/speeches/2009/05/09/1501_type127286_216101.shtml]. Acesso em: 10/05/2009.

O GLOBO. Rússia faz primeiro desfile com mísseis na Praça Vermelha desde 1990. Disponível em: [http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2008/05/09/russia_faz_primeiro_desfile_com_misseis_na_praca_vermelha_desde_1990-427298607.asp]. Acesso em: 10/05/2009.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Office of the Historian Announces New Website: www.history.state.gov

Office of the Historian Announces New Website: www.history.state.gov
Office of the Spokesman
Washington, DC
June 18, 2009


The Department of State is pleased to announce the official unveiling of the Office of the Historian’s new website: www.history.state.gov.

The new website boasts greater accessibility and searching within the Foreign Relations of the United States documentary series. It currently offers both textual and facsimile copies of Foreign Relations volumes from the Kennedy Administration through the Nixon-Ford administration. The Office plans to continue to digitize older volumes and eventually house all of the Foreign Relations volumes on its website. The website also contains updated sections on the history of the Department of State, biographies of notable diplomats, and an in-depth timeline of United States diplomatic milestones. The Office’s educational curriculum guides are also downloadable from the website. The Office hopes that through its enhanced presentation and organization, the new website will become the preeminent online resource for U.S. diplomatic history.