Esta série de textos que hoje se inicia tem a proposta de compartilhar as impressões de minha viagem a Cuba, mas sob o olhar de um analista internacional, alguém que, pela própria formação profissional, deve ser extremamente sensível e observador a todos os detalhes, especialmente àqueles que passam despercebidos aos olhares mais apressados.
Fiquei em Cuba por duas semanas, entre o final de julho e o início de agosto de 2011. Permaneci a maior parte do tempo em Havana, mas fiz passeios de um dia a Pinar del Río e a Varadero. O objetivo maior da viagem foi manter-me o mais sintonizado possível com a realidade do país: lendo os jornais, assistindo aos noticiários, conversando com as pessoas, degustando os cartazes políticos na rua e decifrando as evidências não evidentes. O fato de eu ter ficado em uma “casa particular” em Habana Vieja permitiu um contato muito mais estreito com o povo cubano do que eu teria em um hotel ou um hostel, por exemplo.
Por que Cuba?
Cuba sempre despertou debates apaixonados. Tudo sobre a ilha é politizado ou politizável. Quando contei aos amigos de minha viagem, alguns chegaram a sugerir que eu seria “comunista”; alguns membros de minha conservadora família, por sua vez, alertaram-me de que eu só veria miséria e decadência por lá.
Desde criança, desconfio de tudo que é dito sobre Cuba. Desconfio dos relatos excessivamente laudatórios, que defendem que a ilha é o “paraíso socialista” da América Latina, de que são exemplos livros como “A Ilha” e “Fidel e a Religião”. Igualmente suspeito das críticas raivosas da imprensa nacional, que afirmam que Cuba é o reduto totalitário e miserável de uma utopia anacrônica e que aparecem semanalmente em revistas como “Veja”.
Em suma, não fui a Cuba buscando comprovar uma “tese”. Fui para aprender, para observar em que pé está a experiência cubana. É lógico que isso tudo tinha um senso de urgência, porque não se sabe quando essa experiência pode “acabar”. Então, assim que meu orçamento me permitiu, busquei realizar esse sonho de ver Cuba com meus próprios olhos.
Obviamente, a Cuba de Raúl Castro não é mais a Cuba dos subsídios soviéticos da época da Guerra Fria, nem a Cuba dos duríssimos anos 1990. As mudanças em Cuba são muito complexas, e creio que nem a população – e nem o governo – sabe ao certo o que está sendo criado ali. Pretendo, na medida do possível, relatar o que eu observei por lá.
Leia mais:
Como aquecimento, sugiro o delicioso texto do jornalista norte-americano Patrick Symmes, publicado na Folha de São Paulo. Symmes passou um mês em Cuba (sobre)vivendo com um salário de um cubano médio, e suas histórias são impressionantes. É o relato mais detalhado, realista e profundo do que Cuba é hoje. Leitura recomendadíssima!
Um comentário:
Cadê os outros textos Brunão?
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